Por: Eduardo Costa

Inesquecível. Para ambas as partes envolvidas.

A não ser que uma reviravolta épica e improvável dê a 3.ª Copa para os Penguins ainda nessa temporada, aquele 1:26 com dois homens a mais no gelo viverá na infâmia para os que carregam o preto e dourado no peito.

Já para os que não respiraram no mesmíssimo intervalo de tempo e possuem os Red Wings como fonte de alegrias e tristezas, ver aquela obesa desvantagem numérica ser anulada, em um momento ímpar das finais, foi como testemunhar um milagre.

E onde existe milagre, existe um santo.

A canonização de Henrik Zetterberg poderá vir encarnada (?) no Troféu Conn Smythe, caso os Wings aproveite um de seus "match points". O primeiro deles já nessa segunda-feira.

O que o central fez durante aquele 5-3 desfavorável, quando combatia os melhores valores individuais dos Penguins, mostra o porque dele ser o mais completo jogador de hóquei do mundo — embora esse fato seja negligenciado por uma parte do planeta NHL.

Chute bloqueado; posicionamento; perfeita leitura da jogada, fazendo com que impedisse um gol cantado por Sidney Crosby. Como bônus prendeu o disco por valiosos segundos na outra extremidade do gelo. Ações que derrubaram animicamente equipe e torcedores do time da Pensilvânia. Ações que colocam Z-man na lista de autores de traquinagens cruéis com as aves.

Por falar nessa lista, nela se encontra David Volek, cujo gol encerrou o sonho do tricampeonato dos Penguins em 1993. Ele agora ganha a companhia de outro tcheco, autor de um tento que igualmente causou dor intensa para a equipe da Cidade do A ço: Jiri Hudler.

A invencibilidade dos Penguins em sua arena foi construída com grandes atuações e inspirados gols de Malkin e companhia. Desde o dia 24 de fevereiro a Mellon Arena significava triunfo doméstico no placar. Nove vitórias nessa pós-temporada tiveram o Igloo como barulhenta e participativa testemunha.

Mas essa seqüência acabou por obra de um gol tão belo e agradável quanto uma extração de ciso. O tento de Jiri Hudler foi chorado. O disco bateu na trave, depois nas costas de Marc-André Fleury, para morrer sorrateiro na meta das aves antárticas.

Se a Copa ficar mesmo em Detroit, esse gol do diminutivo tcheco entrará pela porta da frente, como um dos mais importantes da história octogenária dos Red Wings. A obra começou com Brad Stuart, que foi do céu (foi fundamental nos dois jogos em Detroit) ao inferno (falhou no primeiro gol dos Penguins, no 3) nessas finais. Seu esforço manteve o disco na zona de defesa inimiga. E aí a linha 4 capitalizou.

Darren Helm, um utilitário do sistema de Mike Babcock, que faz parecer que seus costumeiros poucos minutos de gelo pareçam bem mais, deu seqüência a jogada. O objeto de desejo acabou no taco de Hudler. E dali pra rede.

Em uma partida que não começou muito bem para os Red Wings, com os adversários inaugurando o marcador, e sem poder contar com um membro de sua linha principal, o 2-1 final foi mais do que festejado. O sonho da 11.ª Copa está muito próximo de ser materializado.

Brilho na despedida?
Marián Hossa foi o mais perigoso membro de sua esquadra. Capitalizou uma vantagem numérica logo no início do embate e acertou o travessão pouco depois. Tivesse aquele disco uma melhor sorte, muito provavelmente estaríamos falando sobre uma série empatada agora.

A permanência dele em Pittsburgh é improvável. Caso a viagem dos Penguins se encerre na segunda-feira, a última imagem deixada pelo eslovaco foi positiva, embora e sua adição, e seu respectivo custo, só poderá ser considerada válida caso o time vença três seguidas dos Wings. O olhar perdido do gerente geral Ray Shero, após o término do jogo 4, mostra que o responsável pela aposta não acredita nesse milagre.

Eduardo Costa acredita que os Penguins vencerão a Copa em um futuro próximo, mas construir uma dinastia, como alguns acreditam, é utopia pura na atual NHL.
Gene J. Puskar/AP
Henrik Zetterberg pára Sidney Crosby; ali os Penguins deram adeus ao jogo e, provavelmente, à Copa.
(31/05/2008)
Jim McIsaac/Getty Images
A Mellon Arena e Marc-Andre Fleury perdem a invencibilidade. Jiri Hudler foi o autor da traquinagem.
(31/05/2008)
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Página publicada em 1.º de junho de 2008.