Talvez o capitão do Pittsburgh Penguins, Sidney Crosby, 20 anos, estivesse simplesmente esperando até as finais da Copa Stanley saíssem do cabo para uma TV aberta, para então jogar uma partida memorável ontem, um dos jogos a serem enaltecidos no dia seguinte e saboreados quando sua fabulosa carreira acabar.
Com a temporada dos Penguins em jogo — e com uma final potencialmente instigante quase virando um fracasso colossal —, o jogador de hóquei favorito da NBC decidiu que esta não seria a semana da varrida em Detroit.
Se a medida de uma estrela é sua capacidade de ter uma atuação tão grande como a importância do jogo, a grandeza de Crosby foi revelada de uma maneira que nem a temporada em que ganhou o Troféu Hart conseguiu. Na vitrine de jogo 3 que concorre em pé de iguadade com qualquer uma das cinco últimas finais em emoção, jogo físico e qualidade absoluta, o capitão mais jovem da NHL marcou os dois primeiros gols em uma vitória lá-e-cá por 3-2, de um time que (a), aleluia, marcou um gol e (b) recuperou o orgulho que marcou sua agressiva caminhada rumo às finais. No dia em que a NHL concedeu o Troféu Mark Messier de Liderança ao capitão do Toronto Maple Leafs, Mats Sundin, à tarde — e quando o canal a cabo Versus cedeu o espaço para a rede NBC até o fim da série —, Crosby subiu a aposta no jogo da série com seus primeiros gols desde o Dia das Mães, no primeiro jogo em casa de sua carreira nas finais da Copa Stanley.
Crosby estava excepcionalmente quieto antes do jogo. Sem discursos. Nada. Pierre Larouche, conselheiro do dono dos Penguins, Mario Lemieux, olhou para Crosby e não notou nenhum traço do nervosismo que tinha percebido antes dos dois primeiros jogos. No camarote de Lemieux, Larouche virou para Troy Crosby, pai de Sidney, e disse: "O garoto vai ter uma grande atuação hoje." Crosby não teve exatamente pequenas atuações em Detroit. Aliás, ele esforçou-se bastante nas derrotas por shutout, enquanto boa parte dos outros jogadores dos Penguins estavam fazendo tours pela fábrica da Ford ou jantando no bairro de Greektown ou o que quer que fosse que estivesse ocupando o tempo deles. Mas em uma série que estava a ponto de se tornar depressivamente curta, o esforço tem de gerar produção. Crosby, que nunca marcou mais de 39 gols ao longo de nenhuma de suas três temporadas na NHL, precisava de uma compensação, dadas as terríveis circunstâncias e a árida seca de gols dos Penguins.
Com a seqüência de futilidade do Pittsburgh quase alcançando sete período — os Penguins perdiam por 9-1 em chutes a gol na metade do primeiro período —, o técnico Michel Therrien originou a antecipada impulsão do time ao colocar Evgeni Malkin em uma linha com Crosby e Marián Hossa. A pressão prolongada durante alguns turnos custou caro à antes impenetrável defesa dos Red Wings. O defensor Brad Stuart, que, ao lado do parceiro Niklas Kronwall, tinha enfrentado consideravelmente mais da linha de Malkin nos pareamentos em Detroit, passou o disco de trás de seu gol, mas diretamente nos patins de Henrik Zetterberg. Crosby recolheu o disco solto e partiu em direção a Chris Osgood, deslizando impecavelmente o disco para dentro a 2:35 do fim do primeiro período, causando um arranhão do tamanho de um Chrysler na coroa de invencibilidade que até lá envolvia o goleiro.
Então, aos dois minutos e meio do segundo período, Crosby marcou com o gol quase vazio à esquerda de Osgood graças a um passe curto e leve de Hossa, depois de Stuart, um verdadeiro quinta-coluna para o Detroit ao longo do jogo, não conseguir isolar o disco.
"[Crosby] realmente elevou seu jogo", elogiou o defensor Ray Whitney, do Pittsburgh. "Ele é um líder, realmente apresentou-se e liderou-nos. Ele provou [ontem] por que é o melhor jogador no esporte, para nós. Ele pareceu realmente concentrado antes do jogo. Como sempre, mas [ontem] pode ter sido um pouco diferente. Ele deve ter dito que que iria carregar este time nas costas, que é o capitão, que estamos de volta em casa e é o primeiro jogo em casa dele nas finais da Copa Stanley. Espero que o primeiro de muitos."
"É necessário um cara assim não só para fazer e dizer as coisas certas, mas também, quando o jogo é importante assim, ser um jogador importante", disse o defensor Hall Gill. "Já vi em várias ocasiões quando ele assume um jogo sozinho. Às vezes, não são gols lindos. Às vezes, é marcação. Ele faz o que é preciso para ganhar."
Crosby foi tímido como sempre depois da partida, sem exagerar na emoção. Quando lhe perguntaram se ele achava que aquela atuação foi o melhor momento de sua carreira, ele disse que não sabia. Ele falou sobre seus colegas de linha não pararem de se mexer. Ele admitiu que o disco acabava sempre no seu taco. Sua atuação foi nota 10, mas seus comentários depois do jogo foram tediosos como o canal 10 (TV Senado). Mas quem se importa? Mais de duas décadas depois de a NBC apresentar um programa com Bill Cosby, ela finalmente tem um com Sidney Crosby. Tão bom quanto.