Por: Gene Collier

Espere, é verdade? Isto é a Cidade do Hóquei, Detroit? Tudo bem, acho, se eles dizem que é, e eles têm dito isso desde 1996, quando uma agência de propaganda contratada pelo Detroit Red Wings desenvolveu "Cidade do Hóquei" como jogada de marketing, e Detroit certamente não parece se importar com isso, especialmente com as finais da Copa Stanley no palco do sul de Michigan neste fim de semana pela quinta vez nos últimos 13 anos.

É que "Cidade do Hóquei" parece tão perfeito e acolhedor. E, você tem de admitir, é bem melhor que Cidade dos Assassinatos.

"Cidade do Hóquei não é uma localidade geográfica", corrigiu Steve Violetta, vice-presidente sênior de Negócios dos Wings. "É mais um estilo de vida, uma filosofia. É como quando você vê os Steelers jogando fora de casa, e todos os torcedores de Pittsburgh que estão nesses estádios; é a mesma identidade."

O site dos Red Wings ainda dá as boas-vindas à Cidade do Hóquei, assim como um restaurante e casa noturna no centro da cidade que ainda está na moda e faz parte das posses dos donos dos Wings.

Ainda assim, alguns imaginam como a Cidade do Hóquei pode ter um finalista da Copa Stanley que não lota rotineiramente seu estádio e como o atleta mais celebrado da Cidade do Hóquei neste fim de semana provavelmente é Richard Hamilton, que ajudou o time de bola ao cesto da cidade empatar com o de Boston nas finais da Conferência Leste de sua respectiva liga. Liga esta que, como muitos notaram, é 100% sem gelo.

"Esta é uma cidade com outros hábitos", opinou Keith Meldrum, enquanto time de cestobol jogava em grandes televisões dentro do restaurante Balloon Saloon. "Eu sou mais torcedor do time de futebol americano da Universidade de Michigan, mas olhe ao redor: estas pessoas não ligam muito para hóquei."

Quando pedi uma previsão de quem vai ganhar a Copa Stanley, Meldrum disse: "Quando isso começa?" As estimativas são teimosamente baixas — ficam na casa dos 10% — de quantos ávidos torcedores de bola ao cesto também são ávidos torcedores de hóquei, e vice-versa, mas não é necessário assistir aos playoffs da liga de cestobol para notar que "Cidade do Hóquei" deve ser algo como apropriação indébita de um nome.

Essa noção alcançou o que se pode chamar de ponto de ebulição em dezembro, quando a revista Sports Illustrated destacou alguns fatos perturbadores, como o de que, dos 20.006 assentos da Joe Louis Arena, menos de 15 mil estavam ocupados por donos de carnês de temporada. [N. do T.: Vale lembrar que TheSlot.com.br antecipou-se a essa matéria e publicou sua avaliação da situação ainda em outubro.]

"Nossa base de compradores de carnês ainda está entre as cinco maiores da liga", revela Violetta. "Os Red Wings ainda são uma grande marca. Quando a empresa Turnkey Sports ranqueou as marcas de todos os times nos quatro principais esportes, os Red Wings foram os oitavos colocados entre 122, então há vários fatores positivos."

Essa foi a pesquisa de marcas de novembro passado que colocou os Steelers no topo.

Ainda assim, Violetta não estava em seu escritório na Joe Louis Arena ontem por acidente. Ele foi contratado porque algumas forças de mercado dentro do Mundo dos Wings jogaram o time de hóquei em um esquecimento relativo. Desde que ganharam sua décima Copa Stanley há seis anos, os Wings viram a ressurreição do time de cestobol da cidade e a improvável ascensão do Detroit Tigers à Série Mundial de beisebol, em 2006, tudo em uma época em que a NHL tinha, em certos aspectos, se tornado mais intimidadora.

Adeus, Yzerman
Junte alguns colapsos em pós-temporadas, e temos problemas na Cidade do Hóquei.

"Não importa que tipo de cidade do hóquei você seja, o beisebol sempre vai ganhar de você", avalia Gene Myers, editor de Esporte do jornal Detroit Free Press. "O locaute do hóquei [em 2004-05] realmente irritou as pessoas, e muitos dos torcedores mais apaixonados de hóquei simplesmente não conseguiram esperar a liga voltar e odeiam anova NHL. Quando os Wings ganharam em 2002, nada poderia ter sido maior. Mas Steve Yzerman aposentou-se. Brendan Shanahan foi embora. Sergei Federov foi embora. Scotty Bowman foi embora. E alguns dos novos jogadores não estabeleceram uma identidade de verdade como aquele pessoal. Os problemas de vendas de ingressos são ligados à economia, que está muito ruim, mas [o time de bola ao cesto] teve os mesmos problemas nos anos 90, quando uma dinastia se desintegrou. Eles, ao contrário dos Wings, tinham um público muito mais corporativo. Eles tinham boas estratégias de marketing e esforçaram-se muito. Os Wings nunca precisaram fazer isso. Quando as coisas começaram a piorar para eles, não havia um mecanismo para reagir. Eu tenho carnês de temporada, mas não quero ir a quarenta e poucos jogos. Quero ir a sete ou oito ou nove, e nunca tive nenhum problema para vender os outros, mas de repente não consigo mais vendê-los. As pessoas dizem que não querem pagar US$ 54 para assistir aos Wings."

Fortes doses de Columbus
Há mais fatores para explicar o declínio dos Wings do que um simples mau humor.

Em primeiro lugar, o locaute deu origem ao primeiro teto salarial da liga, o que significa que os Wings tiveram de parar de se comportar como o New York Yankees, essencialmente comprando grandes talentos sem restrições aparentes do Conglomerado Illitch, o império que começou com o empresário da Little Caesar's Pizza, Mike Illitch, e também inclui os Tigers.

Em segundo, a tabela desequilibrada da liga e a localização de Detroit dentro dela não tem sido popular entre a torcida, que não se importaria em ver muito menos o Nashville e o Columbus Blue Jackets e muito mais de Sidney Crosby, do Pittsburgh, e Alexander Ovechkin, do Washington.

Em terceiro, de todos os incrivelmente talentosos jogadores do Detroit, nenhum deles demonstrou o tipo de magnetismo fora do gelo de um Crosby.

Isto posto, nada empurra o pêndulo para o outro lado como um confronto cara-a-cara pela Copa Stanley, e o mecanismo já foi estabelecido por Violetta, que já foi o estrategista de marketing do Ottawa Senators, do San Diego Padres, e, de 1993 a 1996, dos Penguins.

"Há ciclos em todas as cidades", explica ele." Agora nós lotamos o estádio em 17 dos últimos 23 jogos, incluindo os playoffs."

Os Penguins, em comparação, lotaram o estádio em 64 jogos seguidos em casa, incluindo dez jogos de playoffs, e tiraram Detroit do posto de maior audiência do hóquei na TV a cabo.

A média de audiência durante a temporada regular foi de seis pontos para a Fox Sports Network neste ano, comparada com os 4,7 do equivalente regional que transmite os jogos dos Red Wings. Nos playoffs, a audiência em Pittsburgh foi de 15,5, contra 9 de Detroit.

"Cidade do Hóquei", na verdade, não seria um mau apelido para Pittsburgh.

É só que já está, sabe, tomado.

Gene Collier é colunista do jornal Pittsburgh Post-Gazette. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
Jim McIsaac/Getty Images
A presença da torcida em Detroit não é a mesma do começo da década. Para piorar, os chapéus também pioraram muito.
(24/05/2008)
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Página publicada em 25 de maio de 2008.