Há um bom tempo a Divisão do Pacífico vem
deixando de ser a mais chata da NHL — muito provavelmente
passando esse título para a Divisão Central.
Cada vez mais competitiva, a Divisão do Pacífico
tem garantido boas doses de emoção. Uma prova disso
foi a briga, ponto a ponto, de Ducks, Sharks e Kings por vagas
nos playoffs, enquanto os Stars disparavam rumo ao título
da divisão, na última temporada. O Los Angeles acabou
ficando de fora, enquanto o Anaheim, em seu último ano
"poderoso", e o San Jose conquistaram seus lugares ao
sol. Pela primeira vez desde 2002, o Pacífico colocou três
times na pós-temporada.
O panorama atual da divisão é bem diferente do que
se via nos anos 90. Até o fechamento desta matéria,
os Ducks lideravam tranqüilamente o grupo com 40 pontos —
seis à frente do vice-líder San Jose e oito à
frente do Dallas. O melhor, talvez, seja a vantagem de 20 pontos
sobre o rival Los Angeles. O Anaheim também lidera (pasmem!)
a Conferência Oeste, com oito pontos sobre o Nashville,
líder da Divisão Central e vice-líder da
conferência. Os Sharks, em quarto na conferência,
somam mais pontos que os próprios Predators, e o Dallas,
quinto colocado, tem a mesma pontuação do time
da terra da música country. Enquanto a trinca
Ducks–Sharks–Stars domina o Pacífico e o Oeste, as outras
duas equipes destoam de seus rivais.
Desde 2002, quando superou o Dallas por cinco pontos no Pacífico,
o Los Angeles não sabe o que é um jogo de pós-temporada.
Na primeira fase daquele ano, os Kings, embora tenham feito
jogo duro contra o Avalanche, acabaram abrindo as pernas para
a equipe de Denver na última partida, perdendo por 4-1
e dando fim ao seu sonho de ganhar um trofeuzinho e diminuir o
favoritismo do Los Angeles Lakers e do Los Angeles Dodgers no
coração dos torcedores locais — dos anônimos
aos mais famosos, como Leonardo DiCaprio e Jack Nicholson.
Andy Murray, treinador à época, resistiu mais quatro
anos no comando dos Kings, até que acabou demitido em 21
de março, quando o clube já se despedia
das chances de se classificar aos playoffs da temporada passada. Murray atualmente
é comentarista do Hockey Night InCanada. Seu substituto,
o interino John Torchetti, não durou muito também.
Com passagens também como interino em Miami e Tampa, agora
o boi-de-piranha treina os juvenis do Moncton
Wildcats, em Quebec.
Com 13 derrotas e a impressionante soma de 84 gols sofridos —
segunda pior marca da conferência —, fica claro que
em Los Angeles falta liderança. O gerente geral Dave Taylor,
na franquia desde 1977 como jogador e 1997 na função
administrativa, não dá as caras mais em LA desde
o fim da temporada passada. Para seu lugar, Dean Lombardi, ex-San
Jose. Bem... resultado não tem dado.
Quem mais precisa de liderança, no entanto, é a
defesa. O que acontece com Mattias Norström, que permite que
sua defesa sofra 84 gols em apenas 25 jogos? Um jogador experiente,
com dez anos de franquia e um C no ombro deveria chamar a responsabilidade
para si. O mesmo vale para Rob Blake, investimento da equipe para
a temporada, com um contrato de US$ 12 milhões por dois
anos.
O fraco trabalho de defesa desses dois à frente da segunda
e primeira linha de defesa, respectivamente, tem comprometido
o esforço da promissora linha de ataque liderada por Anze
Kopitar — que recebeu elogios
rasgados e declarações de amor de Eduardo Costa na edição
128 — e Alexander Frolov.
Mais para plebeus que para reis, esses rapazes de Los Angeles
parecem ter dado adeus aos playoffs desde sua derrota na estréia, para o Anaheim. Os torcedores que esperem por dias
melhores em 2007-08.
Já mais embaixo, no quente deserto do Arizona, enquanto
quem torce pelo time de basquete local vibra com Steve Nash e
o brasileiro Leandro "Leandrinho" Barbosa, quem torce para os Coyotes está a ponto de arrancar
os cabelos. Assim como os Kings, o time do "Coach One"
Wayne Gretzky não brinca de pós-temporada desde
2002. E, no mínimo, vai esperar mais uma temporada para
voltar a sonhar com a brincadeira.
Com míseros 16 pontos e apenas 56 gols marcados, contra
88 gols sofridos — pior defesa da conferência e segunda
pior da liga —, o torcedor de Phoenix só deve sorrir
quando encontra pela frente um da Filadélfia ou de Columbus!
Nos Coyotes, o problema está mais dividido entre defesa
e ataque. Na frente, o capitão Shane Doan continua decepcionando,
mas mantendo uma média razoável se comparada à da
temporada passada, com nove pontos em 14 jogos até o fechamento
desta coluna. O "reforço de peso" Owen Nolan
soma apenas seis golzinhos marcados. Atrás, o trabalho
de Derek Morris, Ed Jovanovski & cia., com o suporte
de Curtis Joseph embaixo dos paus, fala por si só.
E aí temos em Phoenix o mesmo problema que temos em LA:
onde está o homem com colhões que vai chamar a responsabilidade?
Seria ele Gretzky, com toda sua elegância no banco?
Falta para LA e Phoenix alguém que estufe o peito e chame
para si a responsabilidade. Os Ducks têm Scott Niedermeyer
e Teemu Selanne, que acabam inspirando Ryan Getzlaf e Andy
McDonald, dando um equilíbrio maior para a equipe e confiança
suficiente aos mais jovens. Os Sharks têm Jonathan Cheechoo
e Joe Thorton. Os Stars... bem, nem preciso falar do patrimônio
tombado de Dallas, Mike Modano, além de Sergei Zubov, Marty
Turco e novamente um começo de temporada promissor de Eric
Lindros — até quando?
E quanto a Kings e Coyotes? Quem vai segurar a bomba para os dois?
Ou as duas equipes vão continuar assim, pacíficas e
mansinhas, por toda a temporada?
Thiago Leal, leitor de TheSlot.com.br,
ficou acordado durante a madrugada, com os olhos fritando, para
finalizar essa matéria.
TALENTO DESPERDIÇADO
Anze Kopitar, uma das poucas coisas boas que aconteceram para
os Kings, protagoniza uma cena rara: um gol da vitória
para sua equipe.
(Branimir Kvartuc/AP - 27/11/2006)
SAUDAÇÕES
AO REI Alexander Frolov ergue os braços para
saudar os torcedores ou para se eximir de culpa?
(Noah Graham/Getty Images - 18/11/2006)
MAIS UMA CENA
RARA Curtis Joseph recebendo cumprimentos por liderar
os Coyotes a uma vitória. A pergunta: quando conseguirá
um shutout, CuJo?
(Bill Boyce/AP - 25/11/2006)