Na
semana passada, TheSlot.com.br destacou em sua capa a
brilhante defesa do Detroit Red Wings, em artigo assinado
por mim, ressaltando o papel do sexteto defensivo na sequência
de vitórias da equipe.
Não foi o momento certo para publicá-lo, afinal
os Wings vinham de duas derrotas jogando no Canadá. Erramos
no tempo e o nosso destaque ficou com cara de jornal de ontem.
Se o Detroit tivesse retomado a boa forma, o erro seria minimizado.
Mas isso não aconteceu. E, para corrigir um erro — ou para
cometer outro —, vou esclarecer de vez a verdade sobre os Red Wings.
Baseada em fatos reais.
O Detroit não será campeão neste ano. Não
chegará às finais, nem mesmo às de conferência.
Segunda rodada? Impossível. Evitar a varrida na primeira
rodada é a meta. Não se classificar aos playoffs
seria o fim.
Há várias mentiras sendo contadas por aí.
Não acredite nos rankings que colocaram o time no topo
da liga nas duas primeiras semanas de novembro. Não dê
crédito aos colunistas que elogiaram o time — isso
inclui este que vos escreve — ou afirmaram que agora era
para valer.
Não é para valer. Este time não.
Após as três derrotas consecutivas na costa oeste
em meados de outubro, os jogadores e a comissão técnica
se reuniram a portas fechadas e discutiram a respeito do que estava
sendo feito. Os Red Wings entraram nessa reunião na 13.ª
posição do Oeste e saíram com nove vitórias
seguidas e a liderança da Divisão Central, até
a nova excursão pela costa oeste, desta vez no Canadá,
onde a equipe iniciou sua mais nova seqüência, agora
de derrotas, que prosseguiu mesmo jogando em casa.
A primeira derrota em 27 dias foi entregue pelo Calgary Flames.
A história do jogo é a mesma de sempre: os Wings
chutam pra todo lado, de qualquer jeito, sem realmente ameaçar
o goleiro adversário, enquanto o outro time enfileira gols
em vantagem numérica e vence a partida.
Meus três leitores e eu formaríamos uma linha de
matar penalidades mais eficiente que a dos Wings.
Detalhe para o gol de Dion Phaneuf, o último da goleada.
O defensor pegou o disco na zona neutra, passou no meio de dois
adversários e fuzilou Dominik Hasek, sem que ninguém
o impedisse realmente. Alguém até tentou esticar
o taco ou algo dessa natureza, mas eu não vi um jogador
do Detroit tentar um tranco, agarrá-lo ou simplesmentre
atrapalhar o chute. Nada. E era o Phaneuf, o mesmo que momentos
antes na partida havia arrancado o capacete de Dan Cleary após
pregá-lo nas bordas com um de seus trancos fenomenais.
Aliás, os Red Wings vão colecionando trancos. Deve
ser o time que mais apanha e menos revida. E há casos extremos,
que em outros lugares seria motivo suficiente para um time todo
brigar.
Na vitória contra os Oilers, a sétima das nove,
Raffi Torres desferiu um tranco fortíssimo em Jason Williams,
sem que este sequer percebesse de onde vinha a agressão.
Ombro contra cabeça, nocaute. Williams ainda bateu a cabeça
no chão ao cair, causando um corte considerável.
Ninguém tirou satisfação com Torres, aquele
imbecil com histórico de agressões na ficha.
Dez dias depois, na segunda das cinco derrotas, os Wings visitaram
os Oilers. Torres marcou um gol e uma assistência e ainda
converteu o pênalti que deu a vitória aos Oilers.
"Contra esses caras é muito fácil", ele
deve ter pensado. Bate, sai impune e ainda decide um jogo dias
depois.
A vitória dos Oilers foi facilitada pelo erro grosseiro
de Chris Chelios no primeiro gol e pela fraca atuação
do estreante Joey MacDonald no gol do Detroit.
Em certo momento, com tantas contusões, os Red Wings chamaram
do afiliado menor o desconhecido Josh Langfeld, comprovando que
o que está ruim ainda pode piorar. Será que um [Robert]
Lang já não é inútil e preguiçoso
o suficiente? O treinador não vê que um bando de
jogadores razoáveis o time já tem? É todo
mundo igual, ninguém faz diferença. Por que não
subiram Darryl Bootland ou Brad Norton, dois intimidadores? Qual
o problema em jogar três minutos por noite e punir os adversários?
Na quarta-feira, de volta a Detroit, a torcida foi presenteada
com um show de erros, digno de amadores. Começou com a
linha de desvantagem numérica, que é tão
ruim que um defensor dos Canucks enfiou um passe de uma linha
azul até a outra e deixou o atacante cara-a-cara com Hasek,
que saiu corajosamente e impediu o gol. Continuou com Kirk Maltby
— aquele que há cinco ou seis anos costumava distribuir
trancos e defender bem —, quando os Wings venciam por 3-1
faltando 15 minutos para o fim do jogo e ele deu o passe para
o gol de Markus Naslund. Terminou com Cleary, que perdeu o disco
na zona neutra durante a prorrogação e permitiu
que Brendan Morrison marcasse sozinho.
Os Wings perderam o jogo e um jogador. Johan Franzen foi atingido
por Willie Mitchell, mais um tranco de ombro contra cabeça.
O sueco sofreu uma pequena concussão cerebral e danos nos
ligamentos do joelho esquerdo. Não houve retaliação,
apenas falatório. Saudades dos tempos de Darren McCarty
ou Sean Avery.
Esse time não agride, não tem raça, não
assusta o adversário. Os jogadores são lentos, muito
lentos, não importa o quanto Mike Babcock discorde. Pra
ele, os Wings são um dos times mais velozes da liga. Talvez
em alguma outra modalidade, não no hóquei no gelo.
Prova disso são os gols sofridos recentemente, frutos de
erros dos quais a equipe não conseguia se recuperar a tempo
para impedir.
Um amigo — que pediu pra não ser identificado —,
torcedor dos Wings e colunista
de TheSlot.com.br, disse que queria Darcy Tucker em Detroit.
É o exemplo perfeito de jogador que todo time precisa ter
e o dele não tem. Tucker já marcou 16 gols, duas
vezes mais que o goleador dos Wings, sendo 11 em vantagem numérica,
um a menos que todo o time das Asas Vermelhas nessa situação.
Mas não é pelos gols que Tucker seria o favorito
da torcida. Contra o Boston Bruins, Tucker voou pra cima do gigante
Zdeno Chara, derrubando-o com um tranco. Na sequência Marc
Savard tentou encará-lo e levou uma porrada na cara. Então
Paul Mara foi pra cima e luvas voaram. Não importa que
Tucker tenha perdido a briga por pontos, ele pegou três
adversários em alguns poucos segundos.
Não é de hoje que os torcedores clamam por jogadores
que tenham coração. Mesmo na sequência de
vitórias isso era um fato. Aliás, todo mundo sabe
e pede isso há anos. No passado o ataque do time fazia
a diferença, marcando tantos gols quanto fossem necessários
para vencer a partida.
O ataque de hoje é pífio. Eu cansei de Mikael Samuelsson
e sua infinidade de tacadas em cima do goleiro. Esse cara nunca
faz gol, provando que a temporada passada foi uma aberração.
Cansei de Pavel Datsyuk e sua habilidade que não resulta
em nada. O russo desiste muito facilmente das jogadas, muito antes
de qualquer defensor acertá-lo. Wayne Gretzky já
dizia que você perde 100% dos chutes que não chuta.
Datsyuk não deve ter escutado essa frase, pois insiste
em não chutar. Anote aí: é o último
ano dele em Detroit. Se não for trocado durante a temporada,
sairá como agente-livre em julho.
Mais um desafio: meus três leitores, Eduardo
Costa e eu formaríamos uma linha de vantagem numérica
muito mais eficiente que a dos Red Wings, atualmente a pior da
liga.
No fim de semana, em Detroit, a equipe conseguiu perder para o
St. Louis Blues. Fico imaginando o quanto um time tem que se esforçar
para perder dos Blues e isso não cabe nessa página,
principalmente porque eu imediatamente me perguntaria "como
Dallas Drake fez duas assistências?".
E não pára por aí. Para vencer esse jogo
os Wings escalaram Hasek, deixando a noite seguinte, em Nashville
contra os Predators, para MacDonald.
Decisão burra de Babcock e duas derrotas pra conta. MacDonald
mostrou que não tem o que fazer na NHL. Foi presa fácil
para os Predators, que marcaram cinco gols em dez chutes no segundo
período. A defesa do time simplesmente desistiu de protegê-lo
e aí a goleada ficava maior a cada minuto. E como não
podia deixar de ser, metade dos gols sofridos foram em vantagem
numérica para o adversário.
Os Wings precisam de um reserva de verdade, talentoso, para ocupar
o lugar do contundido Chris Osgood, principalmente depois da última
atuação de MacDonald, em que Babcock o deixou queimando
no gelo, quando o goleiro se esforçava para impedir uma
goleada ainda maior e o time aguardava ansiosamente o fim da partida.
A solução é Jimmy Howard, o titular do futuro,
que está na liga menor perdendo tempo, em vez de ganhar
experiência no time principal.
Em meio a tantos erros, um acerto: Niklas Kronwall renovou seu
contrato por mais cinco temporadas, a um preço justo. Ainda
se espera em Detroit aquele defensor que pela Suécia é
o melhor de todo e qualquer campeonato que disputa, mas Kronwall
já ocupa um papel de destaque nos Red Wings.
A vida dos torcedores desse time não tem sido nada fácil.
Em duas semanas a equipe despencou e levou junto toda a expectativa
dos fãs. Mas fica a lição: o Detroit é
8 ou 80 — e a única coisa ali mais perto do 80 é
a idade do Chelios.
Por essas e outras tantas que eu queria ser gerente-geral do time.
Humberto Fernandes promete
escrever sobre outros assuntos nas próximas edições de TheSlot.com.br.
SEM RESPEITO
Chris Chelios tem idade para ser avô de Jordin Tootoo
(22) e Jerred Smithson (25), mas eles não se preocupam
com a saúde do velhinho.
(Dave Sandford/Getty Images - 10/11/2006)
NOME ERRADO
Um Lang incomoda muita gente, dois Lang incomodam muito mais!
Josh Langfeld é atropelado por Roman Hamrlik. Pena que
o defensor do Calgary não atropelou o outro Lang também.
(Jeff McIntosh/AP - 17/11/2006)
NEGÓCIOS
À PARTE Se seu companheiro de equipe ficasse
desse jeito no gelo após levar um tranco desleal, você
revidaria? Os jogadores dos Red Wings não.
(Paul Sancya/AP - 22/11/2006)
ATÉ
QUANDO? Até quando você vai levando
porrada, porrada?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Letra de Gabriel o Pensador bastante apropriada para Mike Babcock
e o momento dos Red Wings.
(Jim McIsaac/Getty Images - 25/11/2006)
INSUPERÁVEL
Aquilo não é um alvo, é uma
roda com asa, mas nos últimos tempos tem funcionado da
mesma forma: você mira e tenta acertar. Dan Hamhuis conseguiu,
para o azar de Dan Cleary.
(Jim McIsaac/Getty Images - 25/11/2006)