Apesar dos pesares, a NHL fez uma porção de coisas certas durante a disputa trabalhista que eliminou do calendário a temporada retrasada. Ela conseguiu negociar um acordo trabalhista com os jogadores que trouxe algum sinal de sanidade fiscal ao esporte — deixando de lado, claro, o fato de que um sétimo defensor ganha mais que um neurocirurgião — e implantou regras e interpretações de regras que trouxeram de volta alguns conceitos esquecidos havia anos, como velocidade, técnica e criatividade. E diversão.
Mas a liga também pode ser acusada de uma decisão questionável, ao reformular a tabela de jogos. De acordo com a nova realidade, cada time joga com seus rivais de divisão oito vezes por temporada e com o resto de sua conferência outras quatro vezes. E quase nenhuma com os times da outra metade da liga. Neste modelo, os times pegam os membros de uma divisão da conferência oposta em casa e os membros de outra fora. É como se os times da terceira divisão da outra conferência não existissem naquele ano.
Tomemos como exemplo o atual campeão Carolina Hurricanes. Eles jogarão em casa nesta temporada contra a Divisão Pacífico (Anaheim, Dallas, Los Angeles, Phoenix e San Jose) e visitarão os times da Divisão Noroeste (Calgary, Colorado, Edmonton, Minnesota e Vancouver). Sim a Divisão Central continua lá, no mesmo lugar, mas os Canes não terão nenhuma prova material de que Chicago, Columbus, Detroit, Nashville e St. Louis ainda fazem parte da NHL.
O time da Carolina do Norte visitou os clubes da Divisão Pacífico na temporada passada, o que significa que os torcedores da Divisão Central só voltarão a ver Eric Staal e companhia na próxima temporada, três anos e meio depois da última visita, a Chicago, em 17 de março de 2004. O pessoal de Vancouver, por exemplo, vai ver Alex Ovechkin, do Washington, em ação mais vezes nas Olimpíadas de Inverno de 2010 do que em toda a sua carreira profissional. A torcida dos times da Divisão Atlântico vai passar a temporada atual inteira sem ver ao vivo jogadores como Joe Thornton, Chris Pronger, Scott Niedermayer, Marian Gaborik e Miikka Kiprusoff.
A liga está preocupada em reavivar o interesse do úblico depois de uma temporada perdida em 2004-05 e adotou esse formato com o objetivo de alimentar rivalidades que poderiam significar casa cheia e talvez mais atenção da mídia e pontos no Ibope. Um objetivo razoável, é verdade, mas que ignora a realidade de que o alinhamento divisional é baseado na geografia (que, ainda assim, não explica por que Dallas, que está praticamente no Mar do Caribe,está na Divisão Pacífico), e só isso já deveria ser suficiente para criar uma rivalidade. Se não for, alguns confrontos belicosos nos playoffs servem.
A maior parte da torcida dos Penguins, por exemplo, não precisa ver o Philadelphia quatro vezes por ano para detestar os Flyers (pela proximidade geográfica), e jogos contra o Washington tendem a acirrar os ânimos entre as torcidas de ambos os lados, apesar de os Capitals fazerem parte da Divisão Sudeste (pela rivalidade construída em séries de playoffs ao longo dos anos 90).
Já se não houver uma rivalidade natural entre os times ou suas cidades/regões, uma imposição como a atual tabela não vai criar uma automaticamente. Quer uma prova? O menor público dos Penguins nesta temporada, 13.190 pagantes, foi no jogo contra o New Jersey, em 24 de outubro. Sim, era uma terça-feira. E, sim, os Devils tinham visitado Pittsburgh apenas seis noites antes. E sim, os Penguins estavam jogando em casa pela terceira vez em sete dias. Mas nada disso importaria muito se Penguins e Devils tivessem uma rivalidade genuína.
Só que eles não têm, e forçar as torcidas de ambos os lados a assistir quatro jogos cada por temporada não vai mudar isso. E certamente isso não vai compensar o fato de que algumas estrelas de grande porte não serão vistas ao vivo porque por acaso jogam na outra conferência. É por isso que esse assunto tem de estar na pauta dos gerentes gerais quando eles se reunirem nesta semana.
Problemas legais
Não são só os Penguins que estão com problemas legais com os russos. Os Oilers mandaram para a AHL o ponta esquerda Alexei Mikhnov, que foi a primeira escolha do time no recrutamento de 2000, passou nove temporadas na Rússia e jogou uma partida pelos Oilers no mês passado. Seu time russo, o Yaroslavl, entrou com uma ação contra o Edmonton e a NHL, similar à do Metallurg Magnitogorsk contra os Penguins, por causa de Evgeni Malkin.
Falando nele
Por falar em Malkin, ele marcou gols nos seus seis primeiros jogos na liga, quebrando o recorde da era moderna. O primeiro jogo em que não marcou foi contra os Sharks, em San Jose. O goleiro Evgeni Nabokov, do time californiano, jogou com Malkin no Metallurg na temporada passada, mas não teve a chance de ser o responsável pela quebra da seqüência, porque, devido ao rodízio estabelecido pelo técnico Ron Wilson, era a vez de Vesa Toskala ser o titular. Perguntaram a Wilson se ele não cogitou furar o rodízio pelo fato de Nabokov estar mais familiarizado com Malkin. "Quão familiarizado ele estaria?", respondeu Wilson. "E o atacante também não estaria familiarizado com o goleiro?"
Quer vídeos gratuitos? Então corra!
A NHL fez uma parceria com o Google para disponibilizar boa parte dos jogos desta temporada no Google Video — não ao vivo, diga-se de passagem —, junto com algumas partidas clássicas. É possível baixar os vídeos, que podem ser vistos no programa proprietário do Google. Quem quiser conferir sem pagar nada vai ter de correr: os vídeos serão gratuitos apenas nas duas primeiras semanas de novembro. "Quando internautas procuram vídeo, o Google Video é o primeiro lugar aonde eles vão, assim como a NHL.com é o primeiro lugar a que torcedores de hóquei vão quando querem vídeos da NHL", disse Keith Ritter, que responde pelas empreitadas da NHL no ciberespaço. É mesmo? Eu pensei que fosse o YouTube (se bem que ele foi comprado pelo Google, então já não faz mais grande diferença).
Time que está ganhando
Um dos motivos para o bom começo dos Ducks é manter praticamente a mesma escalação nos jogos. Na segunda-feira, o time convocou o defensor Ian Moran e o ponta Stanislav Chistov, que estavam na AHL para readquirir ritmo de jogo. A volta dos dois traz um grande dilema para o técnico Randy Carlyle: "Você os deixa fora [da escalação] para sempre ou muda um time que está ganhando? Esse tipo de decisão não é fácil."
Asterisco
É bem verdade que a campanha dos Ducks em seus primeiros 15 jogos é quase irrepreensível, mas sempre é bom lembrar que, dos seus primeiros 25 jogos, 17 terão sido em casa.
Uma chance
Brian Finley foi a sexta escolha do recrutamento de 1999, mas só tem dois jogos na NHL em seu currículo. Agora ele terá a chance de aumentar esse currículo: ele foi convocado do Providence para substituir o goleiro dos Bruins, Hannu Toivonen. Toivonen e Tim Thomas não têm jogado nada, e já se especula que o time esteja atrás de um novo goleiro titular, a não ser que Finley vá extremamente bem. Como os rumores sobre uma eventual troca de Nabokov já correm há um bom tempo, é possível que ele vá parar em Boston. O GG Peter Chiarelli se comprometeu a avaliar o time por ao menos 20 jogos antes de tomar qualquer decisão sobre trocas, então a janela de Finley não deverá ser das maiores.
Tratamento fora
O contundido Marian Gaborik voltou a Minnesota na terça-feira, depois de tratamento para sua virilha direita em Vancouver, mas sua volta aos treinamentos ainda não tem data prevista.
Decisão na hora
O goleiro Johan Hedberg, dos Thrashers, que ganhou três jogos seguidos, seria o titular da partida de quarta-feira, o que significa que Kari Lehtonen, titular nos primeiros 14 jogos do time, vai ter ficado no banco por pelo menos uma semana. O técnico Bob Hartley declarou que a decisão de quem será o goleiro titular será tomada antes de cada jogo.
Para aprender
Quando os Panthers rebaixaram o ponta direita Nathan Horton da primeira para a quarta linha nesta temporada, a decisão foi encarada como um aprendizado em potencial. Horton, a terceira escolha no geral do recrutamento de 2003, respondeu com garra e fez por merecer o retorno à linha principal do time, ao lado de Olli Jokinen e de Ville Peltonen.
Alexandre Giesbrecht, 30 anos, mal pode esperar pelo episódio de Lost que passará nos EUA hoje à noite.
NEM UM...
Hannu Toivonen não está jogando bem...
(Elsa/Getty Images - 04/11/2006)
...NEM OUTRO...
...assim como Tim Thomas. E lá vem Brian Finley, enquanto se especula que um novo goleiro esteja a caminho de Boston...
(Charles Krupa/AP - 02/11/2006)
...QUEM SABE?
...goleiro esse que, de acordo com rumores, pode ser Evgeni Nabokov.
(Dave Sandford/Getty Images - 25/10/2006)