Parece que as crônicas de uma morte anunciada se mostraram equivocadas. No melhor início de temporada de sua existência, o Dallas Stars, com fortes doses da atitude e força defensiva de outrora, mostra que é uma das equipes que melhor combina a antiga e a nova tendência da liga. Vence partidas utilizando quase todos os ingredientes e agrada os mais diversos paladares. Goleiro em ótima fase, defesa bem posicionada e brutal quando tem que ser, eficientes equipes especiais, profundidade no centro, velocidade e garra nas pontas e excelência nos disputa de pênaltis. Até mesmo os que não dispensam uma boa briga tem nos Stars um aliado em potencial. Preocupações e pontos fracos existem, mas como foi dito no início desse parágrafo, os que esperavam a queda vertiginosa dos texanos, precisam rever seus conceitos. Por isso a sua TheSlot.com.br passa à frente da concorrência, que vem ignorando o quem vem acontecendo em Dallas, e analisa fatos e personagens dessa campanha invejável até agora.

Descrença inicial

No nosso aclamado, polêmico e muitas vezes errôneo — Por que negar? Apesar de ídolos, somos humanos, e somos humanos quase sempre alcoolizados! — Guia da Temporada, esse mesmo escriba descreveu os Stars como ainda sendo fortes candidatos a uma vaga a pós-temporada no Oeste, mas que perderiam o protagonismo que obtiveram na Divisão do Pacífico na última temporada. Os motivos dessa descrença: a idade avançada de seus principais jogadores (Mike Modano, Jere Lehtinen e Sergei Zubov), algumas contratações amargas (Eric Lindros, Matthew Barnaby, Patrik Stefan e Mike Ribeiro) que teoricamente não supririam as saídas de importantes peças ofensivas (Bill Guerin e Jason Arnott) e a desconfiança acerca de seu goleiro (Marty Turco). O gerente geral Doug Armstrong e o treinador Dave Tippett fizeram arriscadas apostas.

A feliz realidade

Realmente o Anaheim Ducks lidera a divisão, mas os Stars estão a dois pontos apenas da equipe californiana, e com um jogo a menos. Onze vitórias em 13 jogos. Muitas delas foram contra adversários não tão fortes, é verdade, mas venceram por uma boa margem de gols, como tem que ser nesses casos. Os mais complicados confrontos vencidos foram contra os próprios Ducks — vitória nos pênaltis, após bela partida no Honda Center — e contra o Edmonton Oilers — quando contaram com a ajuda não requisitada, mas muito bem-vinda, do árbitro Mick "Magoo" McGeough. Erros arbitrais favorecendo Dallas não te lembram de algo? Outra coisa que faz lembrar os Stars de 1999 é a excelência de sua defesa. Possuem a mais eficiente da liga, tendo sofrido 24 gols em 13 jogos. Quanto ao contestado Marty Turco, bem ele merece um parágrafo à parte.

Marty Turco contra o mundo

Ainda com as palavras culpa e fracasso carimbadas na alma — herança das patéticas atuações frente ao Avalanche nos últimos playoffs —, Turco vem sobrando entre os goleiros quando o assunto é média de gols sofridos e porcentagem de defesas. Lidera em ambos os quesitos. Sendo que é o único com média inferior a dois gols sofridos por partida, entre os goleiros titulares. Isso na NHL que privilegia o ataque é de se admirar. Mas mesmo com esse desempenho estatístico, de sua admirável durabilidade e de ser o goleiro que melhor manuseia o disco na NHL — junto a Martin Brodeur —, Turco só será plenamente respeitado quando tiver sucesso em uma pós-temporada. É o preço que se paga quando se vai mal quando a coisa vale mais. Por enquanto ele vai vencendo jogos e antes mesmo de março chegar já deverá ser o goleiro com maior número de vitórias com a camisa dos Stars, superando as 160 de Ed Belfour.

Marcação sufocante

Philippe Boucher e Jaroslav Modry podem não ter o peso histórico de Sergei Zubov ou Darryl Sydor, mas são fundamentais dentro da equipe. A temporada 2005-06 quase terminou em Troféu Norris para o russo Zubov e, se tivesse acontecido, o primeiro nome que ele deveria agradecer ao receber o troféu seria o de Boucher. Jaroslav Modry é uma das caras novas dessa temporada em Dallas. O ex-defensor dos Thrashers está tão bem que figura entre os dez melhores +/- de toda liga. Modry e Boucher são defensores extremamente físicos e disciplinados, o que agrada a uma torcida que costumava reverenciar o hoje acabadíssimo Derian Hatcher. Mas sistema defensivo não é responsabilidade apenas dos linhas azuis. Nesse contexto, dois centrais têm garantido dor de cabeça as principais linhas adversárias: Stu Barnes e Jeff Halpern. Barnes vem atuando ao lado de Niklas Hagman. E ambos vem destilando caos e destruição. O que é lindo. O que é ótimo. E Barnes sempre foi um jogador sagaz, e não desperdiça a velocidade de Hagman. Halpern é o cara que vem absorvendo os minutos que correspondia a Jason Arnott. Obviamente não possui o mesmo senso ofensivo, mas sabe aquele jogador que contagia o resto do elenco com uma alucinada dedicação? Esse é Halpern. Já era assim nos Capitals, mas na equipe de DC, para aparecer, só sendo russo, genial e ter Alexander como primeiro nome.

Mike Modano

Uma das coisas que mais chamaram a atenção de quem acompanhou os primeiros jogos dos Stars, ainda na pré-temporada, foi a troca de capitania na equipe. O mais aclamado atleta da franquia, desde a época em que a mesma se chamava North Stars e mandava seus jogos bem mais ao norte, perdeu a condição de capitão após 154 jogos ostentando tal honraria. Qual a verdade por trás disso? O que teria acontecido? Estaria a gerência irritando deliberadamente Modano para facilitar uma negociação, buscando tornar a equipe mais jovem? Bem, a resposta não foi fácil de encontrar, mas o que a TheSlot.com.br não faz por você, caro leitor? Então aí vai: a alta cúpula da organização não gostou da forma deprimente que a equipe terminou as últimas três temporadas. Algo como um tapa na cara do elenco teria que ser dado. E escolheram o mais representativo dos atletas para mandar a mensagem. Quem acha que foi para tirar um pouco da pressão dos ombros de Modano errou. Ele ainda é o jogador do time destinado a ir pro gelo nos momentos mais decisivos e continua consumindo a maior fatia salarial do elenco. Mas é fato que, apesar de sua história dentro dos Stars, ele nunca foi o tipo de capitão que lidera dando exemplo. Por isso foi escolhido Brenden Morrow. Modano não gostou dessa mudança, mas isso parece não afetar o central que, apesar dos 36 anos, vem sendo um dos mais velozes da NHL, jogo após jogo.

Morrow, o novo capitão

Bloquear chutes, esmagar adversários nas bordas, semear a discórdia frente à área inimiga e ainda produzir ofensivamente. Por essas virtudes muitos sempre viram Morrow como um capitão em potencial. O que não era esperado era que ele assumisse isso antes da aposentadoria de Mike Modano. Morrow também recebe uma carga maior de responsabilidade e com isso Tippett espera que ele eleve seus números ofensivos. E vem conseguindo, tanto que possui o mesmo número de pontos que seus dois companheiros de linha, Modano (11) e Lindros (os três lideram a equipe nesse quesito).

Lindros, pela primeira vez no Oeste

Muitos consideram a Conferência Oeste bem mais hostil e inóspita que a Leste. Só o fato do açoite de Calgary, Dion Phaneuf e do implacável e inimitável Dallas Drake estarem nela já confirma a tese. Se Lindros se manterá inteiro até o final da temporada com tanto sujeito mau patinando por ali, só o tempo dirá. Deslocado do centro para a ponta direita, parece ter encontrado em Modano e Morrow uma boa química. Pessoalmente e desportivamente Lindros sempre teve conceito baixo no meu bloco de anotações, mas a TheSlot.com.br não me paga horrores (literalmente falando) para expor gostos aqui, então não posso omitir que o gerente geral Doug Armstrong está muito satisfeito em ter apostado em Lindros.

Se tudo terminasse em empate...

A campanha dos Stars seria 82-0-0. Jussi Jokinen é uma besta (sentido bíblico, por favor) quando o assunto é disputa de pênaltis. Na temporada passada acertou 10 de 13. Na atual converteu a única chance que teve. Disputa de pênaltis evita esse aborto esportivo denominado empate. Com isso o mundo é um lugar melhor para se viver. Mas não é só o finlandês que se destaca nessa área. Sergei Zubov também tem um famélico desejo por disputas de pênaltis. Sem dúvidas a equipe que mais se beneficiou da extinção dos empates na NHL foi o Dallas.

Imbatível quando marca primeiro

O regulamento seguido à risca, como deve ser, favorece viradas no placar. Mas a equipe analisada aqui não vem dando chances aos adversários quando marca primeiro. Nas sete vezes em que isso aconteceu, acabou vencendo a partida.

Fator Dallas Drake

O nobre leitor deve estar se perguntando o que o grande Dallas James Drake tem a ver com essa coluna. Bem, na verdade a resposta está na identidade. Ei, se você se chamasse Dallas da Silva, não estaria orgulhoso com a campanha 10-2-0 do seu xará? Dallas enfrentou Dallas há alguns dias e, num momento de puro êxtase para os presentes na American Airlines Center, Drake teve a chance de marcar num contra-ataque. Mas Turco a sorte a seu lado... Em tempo: a maior vítima da carreira de Dallas James Drake é o próprio Dallas Stars. Em 52 jogos, 35 pontos. Coincidência? Também acho que não!

Fator Mike Ribeiro

Na verdade Mike Ribeiro sequer pode ser considerado um fator. Não se enganem com seus 10 pontos até agora. Mike Ribeiro é assim mesmo. Um mestre na arte da displicência. A torcida do Montreal Canadiens sabe do que estou falando. Quando os Stars mais precisarem dele, ele vai sumir. Na verdade, o luso-canadense se destaca mesmo como papel principal da questão que mais intriga a comunidade médica mundial é: como um ser humano com tão pouco sangue correndo nas veias pode se manter vivo e atuar na NHL?

Old time hockey, baby!
Ainda existe gente puritana nesse mundo. Dessas que acham que essas apresentadoras loiras de programas infantis são diferentes daquelas nobres profissionais que giram bolsas em esquinas mundo afora e que a NHL não é lugar para brigas. Se você é um desses pare de ler essa coluna (lá se vão meus poucos leitores!). Mas se seu batimento cardíaco se altera quando vê luvas indo ao gelo e atletas profissionais de hóquei resolvendo suas diferenças no punho, a equipe do estado da estrela solitária também é um atrativo. Apenas o Anaheim Ducks teve mais jogadores penalizados (16) por tão nobre causa. Mas nem tudo é boa notícia aqui. A metade das doze brigas do time foi protagonizado por Matthew Barnaby, cidadão de atitudes infanto-juvenis. Matt (?) é patético na maioria de suas brigas. Segurar a camisa do adversário enquanto patina em círculos não é briga. Parece mais uma espécie de Tarantela on ice.

No horizonte

A promessa é de jogo agressivo até o final, e jogo agressivo não é uma arma ilícita. Será realmente necessário numa divisão com Anaheim Ducks e San Jose Sharks. Problemas podem aparecer quando boa parte da temporada já estiver percorrida, mas na NHL, assim como na vida, deve-se viver o momento. E o hoje do Dallas Stars é digno de uma equipe ainda longe do declínio certo tão apregoado por muitos. E palavras finais para Turco: "Nem é tanto por estarmos com uma campanha de 11-2, é como estamos jogando e como chegamos até aqui, com todos contribuindo. Eu nunca vi esse grau de raça, e não apenas em dia de jogo, é todo dia nos treinamentos."

Nota do escriba: Esta coluna foi encerrada horas antes da partida em que o Vancouver Canucks venceu por 2-1 o Dallas Stars. Dave Tippett ignorou o histórico de Turco contra equipes canadenses (31-7-1), em especial contra os Canucks (11-2-0, com média de gols sofridos na casa do 1.74) e deu descanso para seu goleiro titular. Aí ficou fácil para a TheSlot.com.br manter a fama de pé-frio. Sua equipe vai bem e vira capa aqui? Pode se preparar que derrotas estão a caminho.


Carlos Eduardo Costa é uma besta, mas não no sentido bíblico. Ah, ele não indica livro algum porque a única coisa que lê são rótulos de salgadinhos da Elma Chips, mas sempre indica uma Skol bem gelada.
POSE Marty Turco esquece que está no meio da partida contra o Chicago Blackhawks na American Airlines e faz pose para as lentes da TheSlot.com.br
(Ronald Martinez/Getty Images)
CAPITÃO Mike Modano(9) está na foto, mas quem está com o C no peito é o novo capitão, Brenden Morrow (10). Sergei Zubov (56) e Eric Lindros (88) também festejam mais um gol dos Stars.
(Jeff Bottari/Getty Images)
DALLAS X DALLAS Darryl Sydor conseguiu o que muitos acreditavam ser impossível: parar Dallas Drake nessa jogada. Mas a equipe texana segue sendo a maior vítima de Dallas em sua gloriosa carreira.
(Ronald Martinez/Getty Images)
 
Edição atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-06 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a republicação do conteúdo escrito, desde que citada a fonte.
Página publicada em 8 de novembro de 2006.