Que Copa Stanley, que nada! Copa do Mundo? Bah! Liga dos Campeões
da UEFA? Nem! Final da 125ª FA Cup? Sai pra lá! O grande evento
esportivo que agita as multidões em todo o mundo é o Campeonato
Mundial de hóquei, realizado este ano na Latvia (também conhecida
como Letônia, para os brasileiros), aprazível terra de Sandis
Ozolinsh, Arturs Irbe e do lendário e inesquecível Andrejs Pumpurs.
"We are the champions, my friend..."
Neste ano não deu para russos nem para canadenses, muito menos
para a República Tcheca. O caneco ficou mesmo com a Suécia pela
primeira vez desde 1998 — quarta vez nos últimos 16 anos.
Os suecos conquistaram o título após uma bela apresentação contra
os tchecos na final, com uma vitória por incontestáveis 4-0. Este
ano não teve para mais ninguém em matéria de hóquei: deu Suécia
tanto nas Olimpíadas quanto no Campeonato Mundial. Aliás, essa
foi a primeira vez na história que o mesmo país levantou os dois
canecos!
No caminho até a medalha de ouro, o selecionado do país dos mestres
do black metal (Siebenbürgen) não fez uma campanha tão genial,
mas eles estavam se guardando para as finais, assim como nos Jogos
Olímpicos de Turim. Empataram com a Suíça, perderam pra Eslováquia,
mas, na hora H, bateram seus adversários sem deixar margens para
nenhuma dúvida de sua supremacia. EUA e Canadá que o digam. Os
dois times da América do Norte foram eliminados, respectivamente,
nas quartas e nas semis pelos suecos.
Abrindo uma vantagem de 2-0 logo no início do jogo final, o caneco
veio mais fácil para o selecionado conhecido por "Tre Kronor"
(em alusão aos desenhos em sua camisa), capitaneado por Kenny
Jonsson, velho conhecido dos fãs da NHL. Além do experiente defensor,
Henrik Zetterberg, Mikael Samuelsson, Jorgen Jonsson, Ronnie Sundin,
e Niklas Kronwall — que foi eleito o MVP da competição —
também participaram das duas conquistas históricas dos vikings
neste ano de 2006. Mais histórico que isso, só se a seleção de
Henrik Larsson, Johan Elmander e Zlatan Ibrahimovic levantarem
a Copa do Mundo dia 9 de julho...
Bengt-Ake Gustafsson. Guarde bem esse nome! Esse é o técnico que
entrou para a história ao vencer as Olimpíadas e o campeonato
mundial no mesmo ano.
Forma de disputa
O esquema da competição é uma classificação só. Longe dos dois
grupos de oito, com quatro países se classificando pros playoffs
— modelo que vimos nas Olimpíadas —, o Campeonato
Mundial tem quatro fases distintas.
A primeira delas é a Fase Preliminar. São quatro grupos de quatro
equipes. A pior de cada grupo vai para a Relegation Round,
uma espécie de torneio da morte, no qual o último colocado é rebaixado,
para disputar a "série B" no ano seguinte. Um detalhe curioso
é que existem cinco divisões no campeonato, tendo até um selecionado
da Nova Zelândia!
Depois vem a Fase de Qualificação, com dois grupos de seis países.
Os quatro melhores de cada chave fazem os confrontos dos populares
playoffs, até a definição do campeão.
Os craques que brilharam
A grande estrela do torneio foi o defensor sueco Niklas Kronwall,
que brilhou durante todo o torneio e acabou agraciado com o troféu
de MVP. Ainda no esquadrão campeão, o goleiro Johan Holmqvist
obteve dois shutouts, sendo um deles na final, o que lhe garantiu
o prêmio de melhor goleiro da competição. Já o melhor atacante
foi o pingüim Sidney Crosby, maior pontuador com 16 pontos (8G,
8A), que nem se deu ao trabalho de comparecer à bela cerimônia
de encerramento para receber sua premiação! Quem esteve em seu
lugar foi o GG da equipe, Ken Holland. Será que foi ataque de
estrelismo? Por que não aparecer para ser honrado com um troféu?
Ah, sim, Niklas Kronwall, obviamente, também foi eleito o melhor
defensor. Durante a comemoração, Kronwall foi visto com Borje
Salming, mito da defesa sueca de antigamente!
O líder em penalidades foi o finlandês Tuomo Ruutu, com 49 minutos
no banco de penalidades. E a seleção do torneio, escolhida pelos
jornalistas, ficou assim: Andrei Mezin, da Bielo-Rússia, no gol;
Petteri Nummelin, da Finlândia, e Kronwall na defesa; o canadense
Crosby, o tcheco David Vyborny e o russo Alexander Ovechkin no
ataque.
Surpresas
Tá certo que a Finlândia foi medalha de prata em Turim, e que
mereciam o título, pois jogaram melhor que os suecos, mas não
deixa de ser uma surpresa eles chegando em terceiro e metendo
5-0 nos canadenses na disputa pelo bronze! Além disso, eles não
contavam com seus principais craques — Teemu Selanne, disputando
as finais do Oeste com os Ducks, e Saku Koivu, ainda se recuperando
de contusão. Essa foi a primeira medalha finlandesa desde a prata
em 2001.
Outra grata surpresa foi a Noruega. O país de Esben Knutsen subiu
da "segunda divisão" e deu trabalho para as grandes seleções,
graças ao seu goleiro-sensação Mathias Gundersen, que fez defesas
dificílimas ao longo do torneio, principalmente no jogo contra
os rivais dinamarqueses. É verdade, ficaram em 12º lugar. Mas
não deixa de ser bom pra quem acabou de subir! Para completar
o trio nórdico, a Dinamarca foi apenas a 13ª colocada, mas parece
que veio pra ficar na elite do hóquei mundial. Ano que vem, na
Rússia, irá disputar o campeonato na primeira divisão pela quinta
vez consecutiva!
Decepções
Para russos e canadenses, qualquer posição que não o topo do pódio
já pode ser considerada uma decepção. Ainda mais depois de terem
sucumbido no ano passado. Pior, nem foram capazes de levar uma
medalha olímpica para casa! Os russos, pelo menos, ficaram em
quarto nas Olimpíadas, já os canadenses... Pela primeira vez não
subiram ao pódio desde 2002.
Os EUA, apesar de todo seu poder econômico, que banca os salários
astronômicos de todos os grandes craques do planeta, parecem que
nunca aprendem com eles, pois não conseguem ganhar. E a Suíça?
Depois da bela campanha em Turim, não conseguiu repetir as atuações
em Riga. Será que acabou o fôlego?
Curiosidades
De todos os jogadores suecos, o líder em número de jogos, Jorgen
Jonsson, é o único que participou das três últimas conquistas
do país: o campeonato mundial de 98 em Zurich, as Olimpíadas de
Turim desse ano, e o mundial da Letônia, há menos de um mês.
No ano passado, Suécia e República Tcheca se encontraram na semifinal,
com vitória dos tchecos, que conquistaram o título. Também disputaram
a semifinal em Turim, com os suecos goleando por 7-3.
No Campeonato Mundial, até os árbitros usam anúncios de patrocinadores
em seus capacetes e uniformes!
No jogo entre Canadá e Letônia, que terminou 11-0 para os canadenses,
os juízes tiveram que interromper as ações no gelo por duas vezes.
O motivo foi, no mínimo, interessante: torcedores locais, insatisfeitos
com a arbitragem, jogavam moedas no gelo, "homenageando" os homens
de listras, que marcaram oito penalidades contra os letões apenas
no primeiro período. No total, foram nove gols canadenses em vantagem
numérica.
Já saiu a divisão dos grupos da fase preliminar do campeonato
do ano que vem! Ao contrário do sorteio da FIFA, que bota grupos
"da morte" e grupos sonolentos, o da IIHF é baseado no ranking
da instituição, que leva em conta os resultados e as colocações
de cada seleção! Que chique!
O torneio teve apenas uma briga, entre o italiano Tony Iob e o
capitão ucraniano Sergiy Klymentiev. Segundo o site oficial da
IIHF, esse foi o pior momento da competição...
Mesmo ficando em 13ª lugar, a Dinamarca teve o segundo melhor
time de vantagem numérica, com 28,95% (atrás da Rússia, com 29,31%),
e foi o time que cometeu menos penalidades, com 80 minutos em
desvantagem numérica. Conclusão: só falta melhorar no 5-contra-5
que eles vão longe!
Este foi o 70º Campeonato Mundial de Hóquei.
Igor Vasconcelos torcerá
pela Alemanha e pelos jogadores do Liverpool na Copa do Mundo, e
acha que o Brasil não passará nem da primeira fase.