Estamos
às vésperas da Copa do Mundo de futebol, o maior evento esportivo
do planeta. Mas, antes disso — e um pouco durante —,
teremos as finais da Copa Stanley, ápice da emoção para os torcedores
de hóquei de vários cantos do mundo.
Esta, que será a primeira final sem TV para assistirmos —
nem mesmo em videotape, só mesmo baixando os vídeos pela Internet
— tem tudo para ser a melhor dos últimos tempos. Aliás,
as duas últimas finais já tinham sido as melhores da década, uma
melhor que a outra. Finais que chegaram ao jogo 7.
O que dizer do Edmonton Oilers, time que cultivou a oitava posição
da Conferência ao longo de praticamente toda a temporada, apenas
para chegar nos playoffs e destruir todo e qualquer favorito que
estivesse à sua frente e chegar às finais com boa parte da mídia
o tendo como favorito ao título? Essa é a nova NHL!
Os Oilers são um novo time. Depois de ume temporada relativamente
abaixo das expectativas, Chris Pronger é outro nos playoffs, candidatíssimo
ao Conn Smythe. Depois de uma temporada ruim, Mike Peca é outro
nos playoffs, liderando uma equipe jovem, veloz e sobretudo guerreira.
Depois da incerteza no gol durante a temporada, veio Dwayne Roloson
para resolver a parada e garantir várias vitórias ao time na pós-temporada.
A nova NHL pode inclusive proporcionar um MVP adquirido no dia-limite
de trocas. (Aliás, cabe um mea-culpa aqui: injustamente Roloson
deixou de ser citado na coluna da semana passada como um dos candidatos
ao Conn Smythe. Grave erro).
Nenhum outro time joga com tanta raça quanto os Oilers. Como Alexandre
Giesbrecht já escreveu, os Mighty Ducks pressionavam o jogo inteiro,
mas os Oilers sobressaiam na base da raça. Já tinha sido assim
contra os Red Wings, seguiu assim contra os Sharks e certamente
será assim nas finais. Se será o bastante, é o que veremos.
Se há uma coisa que pode afetar os Oilers nessas finais é o hiato
entre as séries, o longo descanso. Embora muitos considerem positivo
haver um período de descanso entre as séries, cada ano que passa
estamos vendo que ocorre exatamente o oposto: quanto mais dias
de descanso para um time que está quente, pior. Os Mighty Ducks
que o digam.
Times que vencem suas séries por 4-0 e esperam uma semana (ou
mais) pelo jogo seguinte acabam esfriando. Normalmente a série
seguinte começaria logo a seguir ao último jogo da anterior, mas
a NHL anda espaçando cada vez mais, e acredito que os Oilers podem
ter esfriado demais. Tendo vencido as finais de conferência em
cinco jogos, no sábado passado, uma folga de quase dez dias em
plenos playoffs de Copa Stanley pode ser fatal.
Já a trajetória do Carolina Hurricanes é diferente. O time esteve
no topo da NHL ao longo de toda a temporada. Surpreendentemente,
a bem da verdade. Chegou aos playoffs não exatamente como favorito,
mas muito longe de ser um azarão. Na temporada, a gerência mostrou
que não estava pensando pequeno para esses playoffs quando contratou
Doug Weight antes do dia-limite de trocas.
Lá no meio da temporada a TheSlot.com.br já dedicava algumas de
suas páginas ao time que era sensação da NHL, por surpreender
a todos e por superar o Ottawa Senators no Leste. De todos aqueles
que estouraram entre outubro e abril (isso inclui times como os
Sens, os Red Wings e os Stars), foi o único que fez valer cada
ponto da temporada nos playoffs.
Depois das finais de 2002 — quando ninguém efetivamente
acreditava no time, parecia um grande golpe de sorte ter chegado
até ali —, a franquia passou por maus bocados. Virou chacota
na divisão da chacota, a Sudeste. Passou duas temporadas penando.
Somente para agora voltar forte como nunca esteve, real candidata
à Copa, inclusive tida como favorita por vários.
Uma coisa é certa: não há como contestar que Edmonton Oilers e
Carolina Hurricanes merecem estar aqui, que foram os melhores
em suas conferências. Não houve golpe de sorte, ambos foram melhores
e venceram seus adversários de forma indiscutível. E ambos são
dignos merecedores da Copa Stanley de 2006.
O eletrizante jogo 7 da final de conferência foi um dos melhores
desses playoffs. O Buffalo Sabres, mesmo esfacelado por contusões,
jamais se entregou. Chegou a ser pressionado impiedosamente no
começo do segundo período, mas soube se defender, esperar o momentum
passar e ainda sair ao ataque para virar o jogo em dois gols rápidos.
O que demonstra a capacidade também guerreira do Carolina em momentos
decisivos: mesmo tendo entrado no terceiro período em desvantagem
— e ainda por cima com um gol (daqueles que acontecem, mas
que são difíceis de se engolir) sofrido nos segundos finais do
segundo período —, eles entraram no gelo no período mais
decisivo da temporada predestinados a virar o placar. E, logo
no começo, o caminho foi aberto por Doug Weight — o mesmo
que reconhecera ter sido o responsável pela derrota do time no
jogo 6, ao cometer uma penalidade na prorrogação. Momentos depois,
Rod Brind'Amour marcou o que seria o gol da vitória, no que tem
sido sua especialidade absoluta: vantagem numérica.
Os Sabres não se entregaram e seguiram tentando. Mas os Hurricanes
seguraram, e Cam Ward seguiu brilhando, até o apito final. Se
a história teria sido outra sem as contusões? Certamente sim,
não se sabe até que ponto. Mas "se" não existe.
UMA COPA PARA
BRIND'AMOUR? Nossa campanha segue de vento em popa:
o Grande Rod marcou o gol da vitória no jogo 7 das finais
de conferência. Se os Canes forem campeões, o Conn
Smythe é dele (Jim McIsaac/Getty Images - 28/05/2006)
OU PARA CHRIS
PRONGER... Se os Oilers vencerem, vai ser difícil
escolher o MVP, e Pronger merece (Harry How/Getty Images - 23/05/2006)
...E DWAYNE
ROLOSON? Roloson também mereceria ser o MVP,
caso o time seja campeão. Seria caso de um Conn Smythe
adquirido no dia-limite de trocas (Mark J. Terrill/AP - 27/05/2006)