Um lembrete amigo para Mike Modano, Joe Thornton e Steve Yzerman, agora que eles estão livres para ir à praia: não miguelem no protetor solar.
Quão apropriado, nesta improvável pós-temporada, que o melhor central no Oeste não tem sido um desses nomes de destaque, mas um cara com pegada de durão e uma das maiores cicatrizes da liga. Até o jogo 4 das finais da Conferência Oeste, o central Shawn Horcoff, do Edmonton Oilers, tinha marcado pontos em 11 de seus 15 jogos nos playoffs, ganho 54,5% de seus face-offs e sido o personagem de uma das imagens mais indeléveis desta pós-temporada.
A cena se deu no quinto jogo da série do Edmonton na primeira fase, contra o Detroit Red Wings, quando Horcoff ajudou a garantir a vitória ao mergulhar de cabeça para bloquear um chute forte de Nicklas Lidstrom. O disco não acertou em cheio a cabeça de Horcoff por um pêlo, esfolando seu queixo e depois acertando — e deixando dormente — sua mão esquerda.
A comissão técnica dos Oilers e seus companheiros de time elogiam a disposição de Horcoff, assim como sua visão de jogo e seu comporta-mento sem o disco, e isso faz sentido. Porque não faz muito tempo que ele era um dos líderes do time em patinação sem o disco (ao fim de uma patinação pré-jogo, quem não jogará a partida fica no gelo com um assistente técnico, patinando por 15 ou 20 minutos.
"Quando você fica fora de todo o jogo, isso é um teste para a sua força de vontade", diz Horcoff, de 27 anos, que já passou por tais tes-tes antes. Ele nasceu com o Mal de Hirschsprung: uma seção de 15 centímetros de seu intestino estava necrosada. "Quase o perdemos", lembra o pai de Shawn, John. A cirurgia para remover aquela seção e curar o intestino o deixou com uma dramática cicatriz no abdôme, que o ponta esquerda dos Oilers Ethan Moreau chama de "mordida de tubarão".
Shawn sobreviveu aquele drama e tornou-se um atacante técnico e veloz que se destacou pela universidade Michigan State entre 1996 e 2000. Lá ele foi treinado pelo legendário técnico dos Spartans, Ron Mason, quem em 1994 tornou-se o técnico mais vencedor da história do hóquei universitário. (E de quem ele tomou o recorde? De Clare Drake, que tinha sido técnico de John Horcoff, com quem ganhou um título nacional pela Universidade de Alberta em 1975.) Em 1998, os Oilers usaram a 99.ª escolha para recrutar Shawn. "Isso é que é bom presságio", sorri John, lembrando do número usado por Wayne Gretzky.
Mas o batismo de Shawn na NHL não teve nada de Gretzky. O Edmonton já tinha três centrais estabelecidos quando ele chegou por lá. Horcoff assistiu a muitos jogos da cabine de imprensa. Quando o técnico Craig MacTavish o deixava tomar o gelo, era como um durão de quarta linha. "O MacT me falava: 'É aqui que você se encaixa neste instante.'", lembra ele. "'Se você quer mais, vai ter de merecer.'"
E Horcoff fez por merecer. Ele foi promovido à terceira linha, pressio-nando a principal linha adversário. Elogiado por MacTavish como "um cara muito inteligente, que presta atenção ao jogo com ou sem o disco", Horcoff evoluiu até se tornar um dos melhores matadores de penalidade da liga. Sua evolução continuou durante o locaute. Como central da primeira linha do Mora IK, ele marcou 19 gols em 50 jogos e terminou como terceiro artilheiro da liga sueca, com 46 pontos.
Quando os Oilers começaram esta temporada com Horcoff como princi-pal central do time, o gerente geral Kevin Lowe foi questionado por não ter trazido um nome de mais destaque. Quando Horcoff marcou um gol com 10 segundos jogados na primeira partida do Edmonton, contra o Colorado, uma boa parte desse questionamento morreu.
Quaisquer dúvidas a respeito da habilidade de Horcoff foram dirimidas durante estes playoffs. Seus cinco gols incluem dois que deram a vitó-ria ao time, entre ele o que encerrou a maratona de três prorrogações contra os Sharks em 10 de maio. A série mudou radicalmente de figura com aquele gol: depois de ganhar os dois jogos anteriores, o San Jose perdeu os três seguintes. O papel principal de Horcoff contra os Sharks foi o de incomodar Thornton, cujos 125 pontos lideraram a NHL na temporada regular — ele conseguiria apenas cinco em seis jogos contra os Oilers.
Apenas em sua quinta temporada na NHL, Horcoff tornou-se um dos jogadores mais completos da liga: uma presença incansável no ataque e na defesa, que domina o círculo de face-offs e joga em todos os times especiais. Apesar de ser mais rápido e mais talentoso do que seu técnico foi em qualquer ponto de sua carreira, é sempre mencionado que ele tem muito de MacTavish nele. Horcoff não se importa com as comparações e diz que MacT "estava lá no último minutos das finais da Copa Stanley. Como profissional, é lá que você quer estar."
E agora é para lá que ele está indo.
Austin Murphy é jornalista do site SI.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.