Como definir fracasso? Talvez os vários anos dos Rangers sem alcançar a pós-temporada. Ou talvez a pífia temporada do Atlético Mineiro no Brasileirão. Ou o Darth Vader perder para aquele patético Luke Skywalker. Enfim, fracasso tem a ver com aquela sensação de que faltou algo, de que algo não se realizou completamente ou que simplesmente não aconteceu como o esperado.
Na NHL, é claro que todos os times passam por isso, mas como uma equipe é composta de diversos jogadores, é sempre possível uma reconstrução. Mas e quando falamos da carreira daqueles de quem se esperava muito? O que dizer?
É difícil dizer. Por isso selecionei alguns exemplos de quem considero algumas das maiores decepções na história da liga. Os critérios são: ser escolhido alto no recrutamento (primeira rodada) e não produzir de acordo com as expectativas. Não vou fazer um ranking, porque aí o texto vai ficar ainda mais subjetivo e sinceramente não estou querendo causar discussões.
Vou começar falando de um jogador que causou certa discussão algumas semanas atrás na redação de TheSlot.com.br: Alexander Daigle. Quem leu o texto de Daniel Rocha ("O exemplo errado a seguir") há algumas semanas, conheceu um pouco mais da carreira deste jogador que foi o primeiro selecionado do recrutamento de 1993. Altíssimas expectativas. Mais de dois pontos por jogo na liga júnior, tinha tudo para dar certo. Mas como nem sempre o talento dita o futuro, Daigle padeceu por sofrer muita pressão numa equipe medíocre na época — Dan que me perdoe, mas aquele time dos Sens era um horror. Não aguentou, pirou e já rodou meio mundo. Temporada passada, com 30 e tantos anos, teve uma boa temporada. Mas para quem foi escolhido em primeiro, péssima carreira.
Aliás, desse mesmo recrutamento, temos Chris Gratton. Foi o terceiro, atrás de Daigle e Chris Pronger. Gratton era apontado como um mini-Eric Lindros — que vai ter sua parte, esperem —, mas nunca jogou nada do esperado. Jogador físico, forte, com habilidade. No papel, deveria ser um monstro, mas tirando duas temporadas com mais de 60 pontos, nunca jogou metade do esperado. Apesar de que se formos pensar, se ele era um mini-Lindros, está perfeito. Eric "bebê chorão" nunca rendeu o que se esperava também. Mas vou deixá-lo pro fim.
Sugiro que o caro colega que está tendo coragem de ler isto dê uma olhada nas listas dos recrutamentos da NHL e assuste-se. É incrível como existem jogadores selecionados lá em cima mas que nunca jogaram o esperado. Calma, calma. Eu sei que o recrutamento não é uma ciência exata, mas estou apenas apontando como às vezes é complicado arriscar muito para conseguir um jogador de talento e de repente, puf! Ele desaparece.
Como Radek Bonk. Os fãs de Ottawa devem detestá-lo amargamente. Tinha tudo para ser um Jaromir Jagr na posição de central. Habilidoso, grande, recrutado na terceira posição da 1ª rodada de 1994, mas que no fim nunca jogou fisicamente e muito menos pontuou prolificamente como esperado. Junta-se a ele na lista de jogador grande e ineficiente o defensor Aki Berg. Em 1995, os Kings pensaram ter encontrado um grande defensor. Mas foi isso que aconteceu: só tinha tamanho. É, no máximo, mediano.
Pra não dizer que não falei dos Rangers, tenho que infelizmente lembrar de Manny Malhotra. Sabe, eu acho sinceramente que existe uma certa ilusão, esperança na NHL que jogadores físicos, grandes e com habilidade, explodam de tanto jogar. Vocês lembram de quantos que atendam estes requisitos nos últimos tempos e que se deram bem? Eu lembro de Gordie Howe e Mark Messier. Servem? Malhotra foi um desses. Os Rangers investiram muito nele e por fim arrependeram-se amargamente. Assim como foi com Jamie Lundmark, mas esse eu creio que ainda tem alguma chance, já que acabou de ser trocado com os Coyotes. Talvez lá algo aconteça.
Algo acontecer é o que todas as equipes esperam, isso é óbvio. E vão-se jogadores, posições no recrutamento, em troca da escolha ou do jogador sagrado. E você faz a troca esperando muitos resultados. Mas o que você obtém ao fim é um bebê chorão, que reclama de tudo e só quer saber de ouvir pai e mãe.
Exato! Estamos falando dele, a maior decepção de todos os tempos: Eric Lindros. Sei que mesmo dentro de TheSlot.com.br eu não vou conseguir unanimidade, mas eu sou um torcedor de um time que ele jogou e sei o quanto é irritante ver um cara com toda a pompa que sempre vem com ele, não jogar metade do que deveria. Um cara daquele tamanho, com medo de ficar em frente do gol. Pode ser que ele esteja jogando bem em Toronto e pode ser que tudo isso tenha a ver com as concussões. Mas como bem notou Scott Stevens, quando arrebentou com ele em um dos playoffs que Lindros caiu fora: "Ele patina de cabeça baixa. Se ele patinar sempre assim, vai levar trancos mesmo". Não que eu não goste dele. Quem me conhece, sabe que eu o admiro, mas não pelo quanto foi gasto, na grande troca em seu começo de carreira.
A primeira, após uma pendenga e muito choro com a direção dos Nordiques que o selecionou em 1991. Ele simplesmente disse que não jogaria pela equipe de Quebec. E após uma temporada nos juniores, foi trocado para os Flyers, numa troca, que para mim, foi a grande responsável pelo título do Avalanche em 96. Pasmem: Peter Forsberg, Ron Hextall, Chris Simon, Mike Ricci, Kerry Huffman, Steve Duchesne, a primeira escolha de 93 (Jocelyn Thibault, que depois virou Patrick Roy), a primeira escolha de 94 e 15 milhões de dólares. Assustador, não?
Por isso eu digo... um cara desses, que custou tudo isso para os Flyers, que nunca jogou além do potencial (só na temporada que foi o Hart), que vive machucado, só pode ser decepção. A questão não é se ele é um bom jogador. Isso ele é. Só não é EXCELENTE. E xinguem-me o quanto quiserem.
A culpa, é claro, não é só dos jogadores. É a mesma história dos salários que forçaram o teto salarial que hoje existe na liga. Se os salários ficaram tão altos é porque os gerentes-gerais assim quiseram. E se um jogador é tido como a salvação é por culpa dele também. Se Lindros hoje é tão supervalorizado, certamente foi aquele troca maluca que só ajudou os Avs. Só para lembrar: os Rangers iriam ceder Alexei Kovalev, Tony Amonte, Doug Weight e John Vanbiesbrouck pelo bebê chorão.
Em resumo: ainda bem que ele não foi para Nova York. Os Rangers hoje estariam há... 65 anos sem um título.
Fabiano Pereira geralmente seleciona Lindros na primeira ou segunda rodada dos recrutamentos de fantasia dos NHLs, mas tem plena convicção de que ele só é fantástico no jogo virtual.