Ninguém se reforçou melhor que o Philadelphia Flyers para a temporada 2005-06 da National Hockey League. Dia após dia nos surpreendíamos com a última aquisição do gerente-geral Bob Clarke para somar ao elenco o talento necessário para vencer a Copa Stanley, o que não acontece desde 1975.

E nestes 30 anos sem conquistas os Flyers somaram cinco derrotas nas finais, a mais recente para o Detroit Red Wings em 1996-97, ano do famoso "Esquadrão da Morte" liderado por Eric Lindros.

Lindros tinha como companheiros de linha naquela temporada John LeClair e Mikael Renberg, formando o trio de ataque principal que prometia levar os Flyers ao título. Também havia Rod Brind'Amour, Eric Desjardins, Trent Klatt e Paul Coffey, nomes conhecidos por dez em cada dez fãs de hóquei no gelo. O problema é que a dupla de goleiros do time era das piores, com Ron Hextall e Garth Snow, conforme os Red Wings provaram na varrida imposta nas finais.

Não é difícil perceber a cruel semelhança entre o time vice-campeão em 1997 e o que foi montado para vencer em 2006. No hóquei é praticamente impossível ganhar um campeonato sem um grande goleiro.

A atual versão dos Flyers saiu da gaveta de Clarke com o tão sonhado retorno de Peter Forsberg — tido por muitos como o melhor jogador da liga — e a chegada de três defensores de impacto: Derian Hatcher, Mike Rathje e Chris Therien. Para tanto, o gerente-geral teve que abrir mão de atacantes consagrados como LeClair e Tony Amonte, porque precisava se adequar ao teto salarial de 39 milhões de dólares.

Imediatamente após as contratações os Flyers já eram tidos pela imprensa como os principais favoritos ao título — afinal, com Forsberg, quem não seria favorito? Entretanto, ao negligenciar a caótica situação da equipe na posição número um do jogo, Clarke pode ter assinado a sentença de morte do sonhado ano do título para Philadelphia.

Nem o titular Robert Esche, nem Antero Niittymaki transmitem a confiança necessária para vencer jogos para o time. E isso fica cada vez mais claro à medida que entram no gelo e compilam números desagradáveis, como por exemplo os quase cinco gols sofridos por jogo de Niittymaki e os menos de 90% de defesas de Esche.

E problema com goleiros não é uma novidade para os Flyers, vide a última temporada, quando a equipe utilizou cinco atletas diferentes, três deles por quinze ou mais jogos. É bem verdade que a precoce aposentadoria de Jeff Hackett em fevereiro ajudou a alcançar tamanha lambança, forçando a aquisição de Sean Burke, que veio para salvar a pátria mas nos playoffs já era o reserva de Esche.

Na atual temporada os Flyers registram a sexta pior defesa da liga em média de gols sofridos por jogo, com o quarto pior aproveitamento percentual de defesas e um time de matar penalidades eficaz em apenas 75% das vezes em que foi ao gelo. E mais: manter a liderença no placar durante o último período dos jogos tem sido um martírio!

É de se estranhar tamanha ruindade defensiva na equipe que contratou um trio de defensores de uma só vez e que tem como treinador o recordista de partidas seguidas sem dar um sorriso, Ken Hitchcock, cujo estilo de jogo é voltado para a defesa. Talvez seja apenas uma questão de tempo até que os recém-contratados se adaptem à forma de jogar de Hitchcock.

No ataque estão os Flyers que dão certo, tanto que o time tem a segunda maior média de gols marcados por jogo, com 4,35. Simon Gagne marcou dez dos 44 gols da equipe, o que não é surpreendente quando se atua ao lado de Forsberg, que soma 17 assistências e lidera o time em pontos com 19.

O retorno de Forsberg aos Flyers corrige um erro histórico cometido pela gerência à época em que ele foi recrutado, quando ofereceram um "pequeno" pacote de atletas — entre eles o sueco — e escolhas do recrutamento por Lindros, escolhido pelo Quebec Nordiques.

E Forsberg tem sido tudo que os Flyers poderiam esperar dele. Sempre que está no gelo é o cara a ser observado, é quem domina as ações. Lidera a liga em assistências. Mas ainda há o que corrigir em seu jogo, porque o sueco tem uma irritante mania de não chutar a gol tanto quanto deveria. Até mesmo na cobrança de um pênalti contra o Florida Panthers ele errou a rede.

Também destacam-se no ataque os jogadores Mike Knuble, companheiro de Gagne e Forsberg na linha principal, Michal Handzus e um calouro que promete muito: Mike Richards.

Aos 20 anos, em sua primeira temporada, Richards já mata penalidades e auxilia o time em vantagem numérica. Atua por mais de quinze minutos todas as noites, mais da metade do tempo nos times especiais. É muito difícil ver um calouro com tantas responsabilidades, ainda mais quando treinado por Hitchcock, que não se contém ao descrever Richards.

"Mike é um jogador completo", declarou Hitchcock. "Há uma tremenda certeza no nosso time de que Mike pode jogar em qualquer posição, em qualquer lugar, a qualquer hora e contra qualquer um".

Exageros à parte, Richards terá um papel ainda maior agora que o capitão Keith Primeau está fora do time por sofrer com sintomas de concussão. O jogador teria sofrido a contusão no jogo contra o Montreal Canadiens, quando Alexander Perezhogin — um dos mais perigosos jogadores de que se tem notícia — acertou uma cotovelada em sua cabeça. O problema é que Primeau tem um histórico de concussões em sua carreira e cada nova contusão desse tipo é sempre uma grande ameaça ao seu futuro como atleta.

Para preencher o lugar deixado por Primeau no ataque foi chamado R.J. Umberger, do Philadelphia Phantoms, que vive uma situação muito curiosa. O jogador é chamado para o time principal somente em dias de jogos, treinando nos demais dias com os Phantoms, porque graças ao novo teto salarial o jogador recebe salário por cada dia que passa na NHL. No caso de Umberger são cerca de 5 mil dólares por algumas horas de treinamento com a camisa dos Flyers, o que representa uma ameaça ao 1,2 milhão de dólares restante na folha salarial da equipe.

"Eu não sei se [Gary] Bettman pensou sobre isso quando oficializou o acordo", disse Clarke. "Obviamente seria muito melhor para Umberger se ele estivesse treinando conosco. E melhor para nosso time também. Você não se importa de pagar o salário, mas odeia que este dinheiro conte no seu teto salarial".

Para azar de Clarke a ameaça se espalha como praga no vestiário da equipe. Kim Johnsson, Brian Savage e Esche não treinaram recentemente por contusões na virilha, enquanto Handzus tem um pequeno problema no cotovelo.

O primeiro mês de temporada não foi bom, mas ainda era só o começo. Os Flyers têm a força necessária para vencer e precisam ser observados de perto, principalmente enquanto Forsberg mantiver-se em perfeitas condições.

E apenas por curiosidade, a citada troca entre Flyers e Nordiques foi a seguinte: Forsberg, Hextall, Chris Simon, Mike Ricci, Kerry Huffman, Steve Duchesne, uma escolha de primeira rodada em 1993 (Jocelyn Thibault), uma escolha de primeira rodada em 1994 (Nolan Baumgartner) e US$ 15 milhões em dinheiro em troca de Lindros. Pasme.


Humberto Fernandes recomenda o programa "Linha de Passe — Mesa-Redonda", da ESPN Brasil, como o que há de melhor sobre futebol na televisão.
SOFRAM, FÃS! Com Robert Esche (42) e o reserva Antero Niittymaki, a cena acima deve se repetir muitas vezes na temporada, com Mike Ribeiro (71) e muitos outros atacantes (Francois Roy/AP - 25/10/2005)
REFORÇO DE OURO... O sueco Peter Forsberg na noite em que marcaria seu primeiro gol como jogador dos Flyers, na vitória por 5-4 contra o Florida Panthers na prorrogação (Jim McIsaac/ AFP/Getty Images - 27/10/2005)
...E DE PRATA Derian Hatcher faz o que mais sabe: intimidar. Christoph Schubert, corajoso, até tentou revidar (Tom Hanson/AP - 30/10/2005)
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Página publicada em 3 de novembro de 2005.