O dia 4 de fevereiro por muitos e muitos anos foi lembrado como uma data triste para o mundo do hóquei. Foi neste dia — no ano de 1943 — que morreu o primeiro presidente da liga, Frank Calder. Mas exatos 26 anos depois da morte desse personagem histórico, o planeta hóquei teria um motivo para sorrir. Na provinciana Trail, na Columbia Britânica, nascia Dallas James Drake!

E é com esse dado significante que iniciamos aqui a segunda parte do especial Dallas Drake. Lembrando mais uma vez que, mais importante do que ler e guardar esse tributo a Dallas na memória, é você, valioso leitor, passar adiante o legado desse atleta único, para que as futuras gerações saibam, no mínimo, o básico sobre esse atleta exemplar.

Após a primeira reportagem sobre Drake, o editor-chefe da Slot finalmente percebeu que o assunto é mais do que pertinente, e que Drake é um ídolo que vende muito. Para se ter uma idéia, a revista teve um acréscimo de 14 % nas vendas em relação ao guia da temporada. Em algumas bancas a edição nem chegou a ser exposta. Com todos os exemplares já reservados, o único trabalho do jornaleiro foi ligar para os leitores que encomendaram a Slot n º 91 para irem buscá-la. É claro que muita gente vai dizer que a venda expressiva foi motivada pela matéria da capa — a súbita e inesperada aposentadoria de Brett Hull — mas é evidente que o fator Drake falou mais alto.

Infelizmente o grau de mendigaria aqui na Slot é muito alto quando se trata de investir em reportagens que não sejam sobre o Pittsburgh Penguins ou o Toronto Maple Leafs. Por isso foi vetada a verba para um assento na classe econômica da Air Canadá. Uma viagem para Trail seria o ideal para coletarmos mais informações, mas como não deu, vamos com o que temos.

Trail. Lar dos campeões.

Os habitantes da provinciana Trail — de apenas 8.200 habitantes — não querem nem saber dos Canucks. As atenções estão sempre voltadas para o Trail Smoke Eaters Hockey Club. Na época do amadorismo esse time representou o Canadá nos campeonatos mundiais de 1939 e 1961, e venceu as duas edições. Hoje o TSEHC atua na liga de hóquei da Columbia Britânica.

Outro motivo de orgulho para os locais é o fato de já ter possuído — e ainda possuir — vários representantes na NHL. Citando os mais conhecidos:

- Ray Ferraro: 898 pontos em 18 temporadas na NHL. Um dos mais queridos atletas da história do extinto Hartford Whalers. Ray também é muito conhecido por ter trabalhado em uma das maiores rivais da The Slot, a ESPN.
- Adam Deadmarsh: Adam representou a seleção dos Estados Unidos em muitas competições mas nasceu em Trail, no Canadá. Venceu uma Copa Stanley em 1996 com o Colorado Avalanche e se aposentou recentemente.
- Bobby Kromm: treinou o Detroit Red Wings por três temporadas.
- Tom McVie: ex-treinador de Capitals, Jets, Devils e Bruins.
- Barret Jackman: companheiro de Drake nos Blues, eleito o melhor novato da NHL na temporada 2002-03.
- Steve McCarthy: defensor dos Canucks.
- Shawn Horcoff: um dos mais promissores atletas do Edmonton Oilers, venceu duas vezes o campeonato mundial com a seleção canadense.

Apesar dessa atmosfera favorável ao melhor esporte do mundo, parece que o povo de Trail não conhece tanto de hóquei como se supõe. Geralmente citam Ray Ferraro ou Adam Deadmarsh como melhor atleta local a ter atuado na NHL. Seriam os quase 900 pontos na NHL de Ferraro e a Copa Stanley de 1996 vencida por Deadmarsh, motivos suficiente para alijar Dallas do hipotético prêmio de melhor jogador de hóquei de Trail? Provavelmente não, mas vai saber o que passa na cabeça desse povo.

Mas analisando bem, é fácil entender o porque desse desdém. Dallas não iniciou sua carreira no time local, e sim nos rival Vernon Lakers. Com 18 anos ele literalmente assombrou nos gelos da província. Foi apenas uma temporada em Vernon, mas o legado é eterno. Foram 124 pontos em 47 jogos, que foram fundamentais para a conquista do torneio da BCHL. E no plano individual essa temporada espetacular rendeu a Drake o troféu Sandman Inn, dado ao jogador mais valioso da temporada. Aí você fala: "Grande coisa"! Sim, grande mesmo, pois Brett Hull e Paul Kariya também possuem um desses em suas respectivas estantes.

Com esses números ficou difícil manter Dallas. Marquette, Michigan, foi a próxima parada para o jovem astro. Já em seu primeiro ano foi eleito o melhor novato atuando pela universidade de Northern Michigan. Durante esse período foi selecionado no recrutamento de 1989 pelo Detroit Red Wings, mas antes de patinar na NHL viriam mais glórias no hóquei universitário. O ponto alto de Drake nesse período veio durante o conhecido "frozen four" da NCAA. Nas semifinais do torneio de 1991 marcou o gol da vitória contra rivais da universidade de Maine. Na finalíssima em St. Paul, Minnesota, fez — no terceiro tempo extra — o gol do 8-7 contra a universidade de Boston.

Na temporada seguinte liderou a Western Collegiate Hockey Association em gols (39) e pontos (80). Sendo, com isso, eleito o jogador do ano. Durante suas quatro temporadas no hóquei universitário foram 214 pontos em 156 jogos. O reconhecimento a isso tudo veio em 2002 quando entrou pro Salão da Fama da Universidade de Northern Michigan. Depois dessa faceta universitária viria a NHL. Mas isso é assunto para a terceira parte desse especial (?).

Eduardo Costa se assustou quando descobriu que Dallas Drake nasceu no mesmo dia, mês e ano de outra jóia obscura da NHL: Joe Sacco!