Por: Alexandre Giesbrecht

Nos últimos dois meses usei duas vezes a metáfora "milagre de proporções bíblicas", ambas descrevendo o que seria necessário para os Devils chegarem aos playoffs. A metáfora ainda é válida, mas esse milagre tem ficado cada vez mais provável nas últimas semanas, com a espantosa reação que o time conseguiu desde que Jacques Lemaire assumiu o comando no lugar de John MacLean. A troca de técnico parecia mera formalidade no contexto de uma desastrosa temporada, que incluía piadinhas correndo pela liga sobre o paquidérmico contrato dado a Ilya Kovalchuk.

A lanterna da liga foi ocupada pelo time de New Jersey por semanas a fio, assim como a lanterna de os mais variados rankings elaborados por tudo quanto é publicação — acredito que inclusive a de nosso finado ranking, se ele ainda estivesse entre nós. Curiosamente, depois que o quase homônimo do herói do filme Duro de Matar foi demitido, o time é que passou a merecer tal apelido. Nos últimos dez jogos, por exemplo, são nove vitórias e uma derrota na prorrogação. Adicione-se mais cinco jogos, e tem-se quatro vitórias e uma derrota. No momento em que escrevo este texto, são sete vitórias seguidas.

É um milagre se desenhando?

Sim. Mas ainda não um de proporções bíblicas. Segundo os cálculos de James Mirtle, do jornal The Globe and Mail, são necessários 90 pontos para um time do Leste se classificar à pós-temporada. No cálculo atualizado, isso significa uma campanha similar a 18-5-0 na reta final. Nos últimos 23 jogos os Devils enfrentarão cinco vezes times que hoje são líderes de suas respectivas divisões, isso sem falar que ainda falta ultrapassar pelo menos cinco times, o mais bem colocado deles a dez pontos de distância. A tarefa é factível, mas hercúlea. De qualquer maneira, basta lembrar que dez jogos atrás esse mesmo cálculo era de 27-5-1 para perceber que é consideravelmente menos improvável do que era então.

A reação e, consequentemente, o cenário menos definido do que o time fará em abril torna a tarefa do gerente geral Lou Lamoriello ainda mais difícil do que de costume, pois a data-limite de trocas está se aproximando, e uma eventual queima de estoque provavelmente matará qualquer chance de jogos de playoffs em Newark, mas a busca de reforços também não é nenhuma garantia de que isso aconteça, isso sem falar que deverá custar recursos que farão falta mais tarde, especialmente se a primeira metade desta temporada se provar a regra, em vez de a exceção.

Os jogadores, entretanto, demonstram confiança de que a volta por cima é possível, embora mantenham os pés fincados na realidade. Patrik Elias, que alcançou seu ponto de número 800 na vitória de sábado sobre os Hurricanes (aquele time com dez pontos a mais que os Devils precisam ultrapassar), disse após a partida que, se o time continuar jogando da mesma maneira, dá para tirar a diferença. Mas ressaltou que os outros times também precisam perder. Precisam, e os Devils têm dado uma força nesse quesito: a vitória de sábado foi a terceira do time sobre o Carolina em doze dias. Jason Arnott, um dos candidatos a ser trocado dependendo do papel que Lamoriello vá cumprir até o dia-limite, fala em uma "virada louca". Só Lemaire descarta a ideia, embora ninguém fora da folha de pagamento do time possa estar certo de que o discurso é o mesmo dentro do vestiário.

Não deixa de ser surpreendente que uma parte considerável da sequência tenha sido atingida sem Martin Brodeur no gol, o maior jogador da história da franquia, mesmo sem estar tendo um ano digno de seus padrões. Ele se contundiu no dia 6 durante partida contra os Canadiens, e o reserva Johan Hedberg tem dado conta do recado, o que fica comprovado por uma simples estatítica: se tirarmos os 4-1 de sábado da conta, nas outras cinco partidas em que ele foi o titular após a contusão de Brodeur, a média de gols marcados pelo time é de apenas 2,2 por jogo. Ou seja, ele não tinha opção a não ser dar conta do recado. Brodeur já parece estar recuperado, já voltou a sentar no banco durante os jogos e talvez volte definitivamente na terça-feira, contra os Stars.

Outra ausência sentida é a de Zach Parise, que está prestes a comemorar um ano do maior feito de sua carreira: o gol de empate dos Estados Unidos na final das Olimpíadas de Inverno de Vancouver (o time perderia a medalha de ouro na prorrogação), em 28 de fevereiro do ano passado. Parise contundiu-se no início da temporada e ainda não tem previsão de quando voltará. Sua volta representaria uma adição mais importante do que qualquer jogador que venha por um preço baixo no dia-limite de trocas.

Para quem assistiu à primeira metade de temporada dos Devils, também não deixa de ser uma surpresa a atuação recente de Kovalchuk. O ponta de US$ 100 milhões tem uma sequência de dez jogos pontuando em andamento e marcou o único gol da vitória sobre os Rangers na sexta-feira. Além disso, ele foi o destaque daquela partida, especialmente no segundo período, quando um hat trick não teria sido nenhum absurdo.

Quem acompanha a NHL está acostumado a ver times com altos e baixos ao longo de uma temporada. O que é extremamente raro é ver um time que só teve baixos agora viver uma época apenas de altos, em busca de um ápice histórico.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, foi vítima de fraude, mas o Citibank tirou o corpo fora.
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Página publicada em 20 de fevereiro de 2011.