Por: Alexandre Giesbrecht

Durante a temporada de 2008-09, a terceira de Jordan Staal nos Penguins, o papel dele no time era questionado, pois, como central, ele ficava relegado à terceira linha, tendo à sua frente os intocáveis Sidney Crosby e Evgeni Malkin. De maneira até surpreendente, em janeiro daquele ano seu contrato, que só venceria em julho, foi renovado, e ele não chegou sequer a ser um agente livre restrito. Pelos quatro anos seguintes, ele receberia um salário total de US$ 16 milhões. Renovação e valores foram surpreendentes porque o time tinha três centrais de destaque e poucos pontas à altura. Aquela temporada terminou com os Pens levantando a Copa Stanley, com sólida contribuição dos três, então fica difícil questionar a decisão.

Numa era de teto salarial, contudo, reservar um naco tão grande a apenas uma posição (US$ 21,4 milhões, somando-se o que cada um dos três conta contra o teto, e isso sem contar o central da quarta linha) pode ser um grande problema. Nas duas últimas férias a falta de pontas do time foi ressaltada como principal ponto a ser abordado, mas não chegou nem perto de ser resolvido. Desde setembro quem acompanha os Penguins toma como verdade universal que o time tem um excelente corpo de centrais e fracos pontas.

Bem, essa "verdade" agora não tem mais muito a ver com a realidade em Pittsburgh, ao menos temporariamente. Tudo começou ainda em maio do ano passado, quando Staal sofreu um corte no tendão de deu pé direito. Ele ficou fora de uma partida, mas voltou em seguida sem, no entanto, conseguir evitar a eliminação dos Pens diante dos Canadiens. Com a temporada encerrada, Staal foi operado, mas passou por uma série de complicações que pode ser melhor resumida como zica e só estreou em 2010-11 no primeiro dia de 2011, no Clássico de Inverno.

Parecia que que ali os três centrais estariam reunidos. Mais do que isso: os planos do técnico Dan Bylsma previam que Staal passasse a centrar a segunda linha, com Malkin jogando em uma de suas pontas. Uma fórmula que poderia resolver o eterno problema do time e vinha sendo adiada desde a pré-temporada, por causa da ausência de Staal. Mas foi nessa mesma partida que a situação atual continuou a se desenrolar. Crosby foi atingido por David Steckel, dos Capitals, em um lance que pode ter causado uma concussão, que supostamente foi agravada no jogo seguinte por um tranco de Viktor Hedman, do Lightning.

O jogo contra o Lightning foi o último de Crosby até agora. O departamento médico insiste que ele só voltará ao elenco quando os sintomas da concussão tiverem sido superados. O problema é que uma concussão é traicoeira e dificilmente pode ser medida, então todo o cuidado é pouco. Já faz mais de um mês que os Pens têm tido que se virar sem seu principal central. Essa não foi, entretanto a primeira vez que isso ocorreu. Em meados da temoporada de 2007-08 Crosby também ficou um longo período afastado, e Malkin assumiu a responsabilidade, carregando o time nas costas enquanto seu parceiro não voltava. Agora seria a hora de fazer isso de novo.

E não só pela falta de Crosby, mas porque o próprio ano de Malkin não vinha sendo grande coisa para seus padrões. Em 42 jogos tinham sido apenas 15 gols e 22 assistências, total parco para quem apenas duas temporadas atrás levou o Troféu Art Ross e também o Conn Smythe, além da artilharia dos playoffs, que não dá direito a nenhum prêmio. Quem sabe o "incentivo" da ausência de Crosby poderia transformar seus números?

Mas não foi assim.

O último gol de Malkin foi justamente na mesma partida contra o Lightning em 5 de janeiro. Não demorou muito para surgir uma explicação para sua baixa produtividade. Ele vinha jogando com uma contusão no joelho esquerdo — não foi divulgado quando essa contusão teria sido sofrida —, e uma infecção nos seios da face tirou-lhe de combate em meados de janeiro, servindo pelo menos para lhe dar um descanso ao joelho. Com isso, a derrota por 2-0 para os Devils, no dia 20, foi a primeira partida desde o início de 2006-07 em que os Penguins não contaram com seus dois principais centrais ao mesmo tempo.

Seria de se esperar uma queda no rendimento da equipe, especialmente após a saída de Malkin ter de ser estendida por mais de dez dias, mas o time ganhou os cinco jogos seguintes. Mesmo com aquela derrota em New Jersey, são oito vitórias nos últimos nove jogos, todos eles sem Crosby.

Engana-se quem pensa que tais problemas já seriam o bastante. A vida não funciona assim e não livra ninguém de percalços, mesmo que estes já somem uma boa monta. O próximo a cair foi Mark Letestu, central novato que vinha fazendo uma boa temporada, mas agora deverá sofrer uma artroscopia que vai deixá-lo de molho por no mínimo um mês. Originalmente centrando a terceira ou a quarta linha, ele tinha sido promovido às duas primeiras quando da contusão de Crosby, mas já não joga desde o dia primeiro.

A primeira boa notícia em semanas entre os centrais veio quando foi divulgado que Malkin voltaria ao time contra os Sabres, na sexta-feira. Como se veria pouco depois, essa boa notícia era apenas uma peça pregada pelos deuses do hóquei: no início do segundo período Malkin deu um tranco em Tyler Myers, que caiu em cima do joelho (desta vez o direito) do russo. Apesar de Malkin ter conseguido deixar o gelo sem ajuda, no dia seguinte o time informou que a contusão é séria, e é provável que ele não mais jogue nesta temporada. A única chance de ele voltar ao gelo antes de setembro, ainda assim remota, é se por acaso o time alcançar as finais da Copa Stanley, feito ainda mais difícil sem um de seus dois principais centrais.

Agora os Penguins terão de encarar um período de duração desconhecida em que contarão com apenas um de seus quatro centrais titulares: justamente Staal, que muitos acreditavam que não teria futuro em Pittsburgh por causa do excesso de jogadores em sua posição. "Vai ser interessante ver como o resto da temporada se desenrola", avaliou Staal. "Já encaramos um monte de adversidades, um monte de contusões. Até agoram todo mundo neste time tem chamado para si a responsabilidade e feito um grande trabalho, incluindo eu, mas tenho de jogar ainda melhor do que tenho jogado."

Ironicamente, a contusão de Malkin pode servir para o time tentar resolver o problema nas pontas que tanto o tem incomodado. Quando ele for incluído na lista de contusões de longo prazo — voltada para jogadores que ficam fora de no mínimo dez jogos e 24 dias por causa de contusão ou doença —, os Pens terão um alívio equivalente ao seu salário (US$ 8,7 milhões) sob o teto. O mesmo tem ocorrido com Crosby, embora o alívio seja temporário, porque a expectativa é que ele retorne antes dos playoffs.

Mesmo quando Crosby retornar, mas especialmente enquanto isso não ocorrer, é hora de Staal mostrar do que é capaz. A temporada dos Penguins depende disso.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, questiona quando se poderá confiar nas datas de inauguração divulgadas pelo Metrô de São Paulo.
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Página publicada em 6 de fevereiro de 2011.