Por: Alexandre Giesbrecht

Perdida na importante discussão sobre quem o Time Staal deveria escolher primeiro no recrutamento do Jogo das Estrelas ficou a polêmica sobre os trancos que atingem a cabeça de jogadores na NHL. Ela tinha voltado à pauta depois que Sidney Crosby, astro dos Penguins, sofreu uma concussão no início do ano, supostamente no Clássico de Inverno, e que teria sido agravada na partida seguinte. Nos dois lances, trancos por trás que atingiram a cabeça de Crosby. Nenhum dos dois lances foi unanimemente legal ou ilegal.

Eles serviram para reacender um debate que parecia encerrado depois de a liga estabelecer a regra 48, sobre trancos na cabeça pelos lados ou por trás, que vinha sendo uma demanda de jogadores, médicos e imprensa há algum tempo. Com ela, o debate parecia encerrado, especiamente porque a NHL parecia ter estabelecido a melhor proteção desse tipo em todos os esportes norte-americanos. O futebol americano da NFL, por exemplo, ainda mantém esse debate, sem ter chegado a uma conclusão ou uma regra tão específica quanto a do hóquei no gelo.

Mas quão específica é a regra 48? O último mês mostrou-nos que não é muito específica. O caso de Crosby envolveu não um, mas dois trancos que são atacados ou defendidos com argumentos diferentes baseados nas mesmas imagens. Mas isso só aconteceu porque estamos falando daquele que talvez seja o melhor jogador em atividade na liga. "Se Mike Brown [desconhecido cigano dos Maple Leafs] tivesse sofrido aquela concussão, será que vocês [jornalistas] estariam aqui com câmeras perguntando sobre concussões?", questionou Brian Burke, gerente geral dos Leafs. "Acho que não."

Isso é verdade, sem a menor dúvida. Mas às vezes precisamos de um grande impacto para perceber o que está diante de nossos olhos. O próprio Gary Bettman, comissário da NHL, admitiu no sábado que o número de concussões está em alta, sem entrar em detalhes. Bem, está na hora de se entrar em detalhes. Está na hora de acabar com isso, de uma vez por todas. A nova regra ajudou, mas já é questionada.

E quem sou eu para questionar? Meu conhecimento de neurologia é próximo de zero, só ficando ligeiramente acima de zero por eu ter lido o verbete sobre o assunto na Wikipédia. Mas alguém com muito mais conhecimento sobre o assunto tem algo a dizer. O dr. Ruben Echemendia, neuropsicólogo que é atualmente o responsável pela comissão sobre concussões da NHL e da NHLPA, tem como trabalho exatamente questionar as regras atuais da liga, e isso ele está fazendo. "Ainda falta ver se estamos fazendo o suficiente", disse o médico, em entrevista ao jornal Pittsburgh Post-Gazette. "Acho que sempre podemos fazer mais, e isso é parte do que nosso grupo pretende fazer."

Entretanto, por enquanto a NHL não está fazendo mais. Há muitos clamando por uma total eliminação de trancos na cabeça, acidentais ou não. Pode ser que isso não acabe com as concussões — e provavelmente não acabará —, mas se diminuí-las já não será um grande avanço? Ao menos até que se chegue a um texto para a regra 48 que não permita nenhuma margem a interpretações. Alguns dirigentes, como Burke, não querem algo intempestivo, como sugerem ser a reação à concussão de Crosby, mas os jogadores pensam de maneira diferente, afinal, são eles que estão sujeitos a sofrer as consequências. Shea Weber, dos Predators, o destruidor de mundos, é um dos que, apesar de seus poderes sobrenaturais, sonha com o dia em que não se verá mais trancos na cabeça na NHL. "É um perigo para o esporte", disse o jogador ao jornal Montreal Gazette. "Eles instituíram a [regra 48] por um motivo, tentar acabar com os trancos na cabeça, e ela terá que mudar, cedo ou tarde."

Se o destruidor de mundos falou, eu tenho de concordar.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, gostou de passear a pé pelo bairro de Palermo, em Buenos Aires.
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Página publicada em 30 de janeiro de 2011.