Sob a sombra de uma palmeira verde, um robusto liberiano vende abacaxis e tenta escapar do quente e úmido calor tropical, orgulhosamente vestindo uma camisa de hóquei pesada de mangas compridas do Toronto Maple Leafs. "Não conhecemos o esporte", admite Joe Peters, limpando o suor de sua bochecha. "Mas as camisas são muito boas. De muito boa qualidade."
O promissor e controverso negócio de roupas usadas na África significa que camisas de hóquei podem ser achadas aqui e ali ao longo dessa nação do oeste africano, assolada pela guerra. De maneira bizarra, as camisas de hóquei autênticas viraram um símbolo de status entre a população mais pobre, por sua qualificação como "premium" e seu alto preço (quatro dólares canadenses).
"É um material resistente", avalia a vendedora de rua Evelyn Togbah. "Se você comprar uma, pode usá-la por vinte anos." As camisas brilhantes da NHL destacam-se mais que as camisetas sujas e rasgadas vestidas por muitos dos sofridos liberianos que são forçados a usar repetidamente uma ou duas camisas. Mais da metade da população da Libéria vive com menos de um dólar por dia.
Na remota cidade de Ganta, localizada cerca de 240 quilômetros ao norte da costa, perto da fronteira com a Guiné, há um desfile diário do passatempo nacional canadense em mascates que lotam as ruas cheias de buracos. Um "Chelios" vende sandálias de plástico em um carrinho de mão enferrujado enquanto usa sua camisa vermelha dos Blackhawks. Um "Gretzky" vende celulares chineses falsificados sob o sol sufocante.
Sete anos após a guerra, muitos ex-combatentes tentam sobreviver oferecendo corridas de táxi em motocicletas surradas com amortecedores quebrados. Em seus peitos, um pinguim (Penguins), uma folha de ácer (Maple Leafs), uma roda alava vermelha (Red Wings) ou um raio (Lightning). Essas camisas tiveram uma longa e difícil jornada. Geralmente, igrejas e instituições de caridade da América do Norte carregam roupas de segunda mão doadas em contêineres que são embarcados para a Ásia, o Leste Europeu e a África.
No Quênia, as roupas são chamadas de "Mitumba," a palavra em suaíli para "fardos", que descreve apropriadamente os embrulhos descarregados dos navios. Na Libéria, um país construído por escravos libertos dos Estados Unidos e mais tarde devastado por catorze anos de uma sangrenta crise civil, os habitantes são particularmente dependentes de mercadorias importadas da América do Norte.
Os fardos de roupas são amontoados em caminhões ou carrinhos e mão e eventualmente acabam chegando nas menores e mais remotas vilas escondidas no fundo da floresta tropical (onde as crianças mal conseguem imaginar como é o gelo, quanto mais o hóquei). No box de um mercado com telhado de bambu em in Ganta, William Paye especializou-se nessas camisas esportivas — NFL, NBA, NHL. Ele tem pouca noção dos esportes ou dos jogadores cujos nomes estão estampados nas costas. A Libéria não tem uma rede de distribuição de eletricidade, e televisões são para os ricos.
"Eu recebo o que eu recebo", explica Paye, apontando para a grande sacola de plástico no seu chão sujo. A cada semana ele arrisca a sorte ao comprar um fardo selado com a etiqueta "camisas esportivas" sem inspecionar seu conteúdo. "Se eu conseguir boa camisa, consigo bom preço."
Relatos históricos traçam a origem da indústria de roupas usadas às consequências da Primeira Guerra Mundial, quando uniformes militares excedentes foram despejados na África colonial. Hoje roupas de segunda mão avaliadas em quase meio bilhão de dólares são importadas todo ano na África subsaariana. A popularidade é surpreendente, dada a crença generalizada entre os africanos de que essas roupas usadas foram arrancadas do corpo de uma pessoa morta. A expressão "roupa de um homem branco morto" é comum no mercado de Uganda. Em Gana (onde vi uma camisa do Winnipeg Jets em 2005), a frase na língua local é "obruni we wo". Tradução: "Um homem branco morreu."
Afinal de contas, por que outro motivo alguém desistiria dessas roupas perfeitamente boas? Ainda assim, nas ruas liberianas, vendedores alegremente oferecem calças jeans baratas, cachecóis Gucci e blusas do Hooters. Pode-se achar camisas "retrô" da moda, que seriam vendidas por cinquenta dólares em Toronto, sendo oferecidas por um dólar no mercado de alguma cidade pequena.
Há acusações de que a importação de roupas de segunda mão enfraquece a indústria têxtil local e acaba com a colorida roupa tradicional africana. Isso fez com que países como Quênia, África do Sul e Nigéria impusessem várias proibições ao longo dos anos. Mas o afluxo de camisas esportivas da América do Norte continua em boa parte da África; um carregamento inteiro foi desejado no norte da Libéria, criando uma abundância de camisas de ligas menores e juvenis, de promoções da Molson Canadian e de etiquetas da CCM.
Minha saga pessoal para colecionar fotos de todos os trinta times da NHL só está na metade, mas já me levou a diversos intercâmbios culturais interessantes. Um homem vestindo uma camisa do Philadelphia Flyers me encarou com um olhar perdido enquanto eu gritava, devagar, "H-Ó-Q-U-E-I!" Para ele, as atrações principais de sua grossa camisa de mangas compridas são o seu colorido em branco e laranja e o fato de que ela não tem nenhum buraco ou marca de pizza no sovaco.
Um garoto vestindo uma camisa dos Habs, provavelmente doada por um torcedor desiludido após a campanha da temporada passada, parecia aturdido enquanto a moça branca louca à sua frente tentava fazer mímica de hóquei ao deslizar seus pés, balançar seus braços e falar sobre "disparos" (não foi meu momento mais brilhante em um país ainda se recuperando de quase duas décadas de guerra civil).
Ao menos, com esse surpreendente desfile de camisas de hóquei, é fácil fingir que os liberianos sabiam que os playoffs estavam por começar.
Bonnie Allen é jornalista do National Post. O artigo original foi traduzido e editado por Alexandre Giesbrecht.