Por: Thiago Leal

Por pouco o Campeonato Mundial Sub20 não passa despercebido por TheSlot.com.br. Minha pauta era outra e o artigo estava bem encaminhado, quando percebi que ele não seria nada mais, nada menos que uma atualização do Guia da Temporada do Pacífico. Então lembrei da divertida edição do Mundial Juvenil que foi disputada agora no começo do ano e resolvi abordar o tema, afinal de contas, não é sempre que temos nossa querida Suíça se destacando numa competição internacional. Seria um crime esquecer a tradição de TheSlot.com.br e o legado de Eduardo Costa em falar dos Mundiais juvenis. Então, vamos lá. E o título da coluna ainda faz uma auto-referência.

Os Mundiais Sub20, como todos sabemos, é um celeiro de futuros grandes jogadores e uma oportunidade de assistir prospectos em ação. Wayne Gretzky, Mario Lemieux, Peter Forsberg, Slava Fetisov, Mike Modano, Saku Koivu e Jaromir Jagr já passaram por aqui antes de se tornarem lendas na NHL. E a última edição teve o privilégio de contar com Taylor Hall, possível escolha de número 1 do próximo recrutamento, que defendeu a Seleção Canadense ao lado de Brayden Schenn (5ª escolha no recrutamento de 2009 pelo Los Angeles Kings), e com Magnus Pääjärvi-Svensson (recrutado em 10º no geral pelo Edmonton Oilers) pela Seleção Sueca. Anaheim Ducks e New York Islanders foram os times que mais tiveram prospectos em campo, com sete cada.

A exemplo do último Mundial, este também foi disputado no Canadá. Ao invés de Ottawa, no entanto, Saskatoon e Regina foram as sedes do torneio. Alemanha e Cazaquistão, rebaixadas no Mundial 2009, foram substituídas por Áustria e Eslovênia. O Grupo A do torneio era formado por Canadá, Estados Unidos da América, Suíça, Eslováquia e Letônia enquanto o Grupo B ficou com Suécia, Rússia, Finlândia, República Tcheca e Letônia.

E só para lembrar o retrospecto até aqui: o Canadá ficou com as cinco últimas medalhas de ouro, conquistando três contra a Rússia e duas contra a Suécia.

Todo poderoso Canadá
O dono da casa, disposto a conquistar o sexto ouro consecutivo, marca até hoje não alcançada (entre 1993 e 1997, o Canadá também levou cinco ouros seguidos), não foi um bom anfitrião com a Letônia: 16-0 diante de um público relativamente decepcionante: quase 12500 pessoas — bem menos que as 15 mil esperadas para a abertura. O destaque do massacre foi Gabriel Bourque com nove pontos, sendo três gols e quatro assistências. O mais engraçado disso tudo é que o menino Bourque, que deu toda pinta de quem estouraria no Mundial só marcou mais duas assistências o campeonato inteiro. Nesta primeira partida Hall contribuiu com duas assistências. Brandon Kozun, com cinco pontos, e Alex Pietrangelo, com quatro, tiveram mais destaque. Enquanto isso os Estados Unidos da América derrotava a Eslováquia por 7-3 e a Suíça por 3-0.

Os canadenses continuaram sua marcha com 6-0 em cima da Suíça e 8-2 na Eslováquia. O esperado confronto entre canadenses e estadunidenses que definiria o líder da chave aconteceu na última rodada, depois que os ianques passaram pela Letônia (12-1).

O primeiro grande jogo
O prospecto do Washington Capitals, Stefan Della Rovere, abriu o placar do jogo. Mas a possível melhor geração de juvenis americanos desde 2004 não tardou a empatar a partida e assumir a frente do jogo, realidade que perduraria todo tempo regulamentar. Philip McRae empatou e Jordan Schroeder, em desvantagem numérica, pôs os Estados Unidos na frente por 2-1. A sucessão de placares da partida foi daí até o fim do terceiro período sempre a favor dos Estados Unidos, com o Canadá buscando resultado: depois que Jordan Eberle empatou, Tyler Johnson, também em desvantagem numérica, abriu 3-2 e Danny Kristo ampliou para 4-2. Eberle tornou a marcar diminuindo a diferença e, a menos de cinco minutos do tempo regulamentar, Pietrangelo, cumprindo seu dever de único jogador efetivo na NHL do time, empatou a partida.

Nenhum canadense desperdiçou tiros livres e Jake Allen defendeu o pênalti de Schroeder, definindo vitória canadense.

A Suíça, que venceu a Letônia por 7-5 e a Eslováquia por 4-1, classificou-se em terceiro lugar na chave, deixando os outros dois times (cujo confronto direto terminou em 8-3 para os eslovacos) para jogar a rodada de rebaixamento.

Tríplice Coroa infernal
Os suecos cumpriram com louvor a cartilha de melhor país europeu praticante de hóquei no momento, pelo menos enquanto seleções. Os juvenis da Seleção da Tríplice Coroa não tiveram conhecimento sobre República Tcheca (10-1); Áustria (7-3); Rússia (4-1); e Finlândia, seus tradicionais rivais (7-1). O melhor jogo desta chave, no entanto, foi o embate entre russos e finlandeses. A Rússia venceu por 2-0, gols de Petr Khokhriakov e Nikita Filatov, aquele que chegou a disputar algumas partidas pelo Columbus Blue Jackets temporada passada. Mas o nome da Rússia no gelo foi Igor Bobkov, goleiro que parou 46 chutes finlandeses.

A Finlândia em muito lembra a seleção adulta. Chuta demais a gol e marca pouco. Outro exemplo disso foi sua vitória por 4-3 sobre a República Tcheca, que está com uma geração de juvenis horrenda. Os tchecos cansaram de chutar a gols para marcar quatro vezes, enquanto os tchecos precisaram de poucos chutes para quase conseguir um empate. Um goleiro do nível de Miika Kiprusoff, aparentemente, não faz parte da próxima geração de finlandeses.

A Suécia passou em primeiro com Rússia em segundo e Finlândia em terceiro. República Tcheca e Áustria para a rodada de rebaixamento.

Fase final
Enquanto República Tcheca e Eslováquia, que um dia já formaram, juntas, o segundo melhor time do mundo, escapavam do rebaixamendo, mandando Áustria e Letônia para Divisão I em jogos com menos de 9 mil pagantes, o campeonato tinha continuidade.

A Suíça despachou a Rússia por 3-2 na prorrogação. Até 30 segundos do final da partida a Rússia vencia por 2-1. Nino Niederreiter, do time juvenil Portland Winterhawks, da WHL, empatou a partida, quando os suíços tinham seis patinadores no rinque. O próprio Niederreiter fez o gol da vitória suíça na prorrogação. Todos dois sem assistência. Dá-lhe queijo! Os Estados Unidos dispensaram a Finlândia por 6-2. Na disputa do quinto lugar os finlandeses se vingaram dos russos e venceram por 5-4.

Nas semifinais o queijo apodreceu e novamente a Suíça não pôde fazer nada diante do Canadá. Bom, levando em conta que tomaram de 6-0 na primeira, conseguiram evoluir e desta vez perderam por 6-1. RÁ! Já a Suécia, poderosa Suécia, tomou 5-2 dos Estados Unidos. Os suecos, time com mais prospectos na NHL depois de Canadá e EUA, chegaram a ficar na frente do placar — começaram perdendo por 1-0, gol de Johnson, mas com dois gols de Anton Lander, viraram o marcador. Mas com gols de Jerry D'Amigo, John Carlson e AJ Jenks, os ianques massacraram e abriram caminho para a final.

Enquanto os Suecos metiam 11-4 na Suécia e ficavam com o bronze, provavelmente os americanos ensaiavam piadinhas anticanadenses no vestiário. Sim. Enquanto zoar o eh? que os caipiras canadenses põem no final das frases, de zombar com seu sotaque (That's not aboot! That's abOUt!), de humilhar castores faz todo sentido em termos de política e vida social, no hóquei no gelo a coisa muda de figura. Aqui os canadenses são os fortes. Os americanos são apenas os carinhas que jogam com bola oval ou usam o taco para dar paulada numa bola arremessada com a mão. Mas não desta vez. Era hora da vingança. Era a hora de repetir 2004. Os estadunidenses queriam vencer esse jogo. E fariam isso para vingar a campeã moral do torneio: a gloriosa Suíça, terra do esqui alpino, do queijo, do relógio e do bode montanhês. Terra do paraíso fisca, do Roger Federer, da bandeira quadrada com marca de hospital e do Parkingloahl Gazoldro Marques, vulgo "Parco". Não conhece? Nem eu.

Ou não!

Os canadenses saíram na frente com Luke Adam. E ainda que os estadunidenses tenham virado o jogo para 2-1 e tenha mantido a mesma sequência da partida anterior (Canadá empatou em 2-2, Estados Unidos abriu 3-2, Canadá tornou a empatar e Estados Unidos abriu 5-3), o pesadelo tornou a se repetir. Eberle marcou dois gols a menos de cinco minutos do final do jogo e empatou para delírio dos mais de 15 mil pagantes que superlotavam o Credit Union Center, arena de Saskatoon.

Até que, na prorrogação, aconteceu isto: http://www.youtube.com/watch?v=fkSFwtlBKd0 seguido disto: http://www.youtube.com/watch?v=8X33JbpGh14 e disto: http://www.youtube.com/watch?v=FOeGQmvqWmo

Pela segunda vez na história os Estados Unidos levam a medalha de ouro no Mundial juvenil. E se você é antiamericano, problema o seu. Não estamos falando de política, estamos falando de hóquei no gelo. E é bom que os Estados Unidos cresçam internacionalmente, pois teoricamente isso pode fortalecer o esporte no território nacional — nosso esporte preferido está atrás do futebol americano, do beisebol e da bola-ao-cesto.

Chega a ser maldade chamar esse resultado de "milagre" e compará-lo ao time de 1980 que bateu a União Soviética. Esse time estadunidense é forte e venceu o Canadá não apenas por méritos e esforços, mas por superioridade técnica.

Derek Stepan dos Estados Unidos liderou o campeonato em pontos com quatro gols e dez assistências; o jogador mais valioso foi Eberle, do Canadá. O melhor defensor foi Pietrangelo enquanto Benjamin Conz da Suíça ganhou o prêmio de melhor goleiro.

A seleção do torneio ficou assim:

Conz (Suíça)
Pietrangelo (Canadá)-Carlson (EUA)
Eberle (Canadá)-Stepan (EUA)-Niederreitter (Suíça)

Quando ao Canadá... não aprenderam nada. Colby Armstrong não foi convocado para os Jogos Olímpicos. Parece que os canadenses estão com vontade de serem humilhados novamente. Como diria Eduardo Costa... o castigo virá a galope. Suíça com tudo nas Olimpíadas.

Thiago Leal cobrirá os Jogos Olímpicos de Inverno.
Matthew Manor/IIHF
O capitão da Rússia, Nikita Filatov, assiste aos seus colegas perderem o quinto lugar para a Finlândia. Decepção do torneio.
(05/01/2010)

Jeff Vinnick/IIHF
Que cheiro de queijo: Suíça surpreendeu.
(30/12/2009)

Matthew Manor/IIHF
Suécia. Para quem esperava ouro, o bronze teve um gosto amargo.
(29/12/2009)

Matthew Manor/IIHF
Nem a torcida canadense acreditou no jogo duro dos Estados Unidos da América.
(05/01/2010)

Matthew Manor/IIHF
A cinco minutos do fim do jogo os canadenses marcaram dois gols e empataram, para delírio da torcida.
(05/01/2010)

Matthew Manor/IIHF
De nada adiantou. John Carlson (ajoelhado) marcou o gol do segundo título estadunidense na prorrogação.
(05/01/2010)

Matthew Manor/IIHF
Aos campeões, a honra.
(05/01/2010)

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Página publicada em 15 de janeiro de 2010.