Seu nome é Guilherme Calciolari e esta é a sua história.
Torcedor do Detroit Red Wings, Guilherme escreve para o blog Red Wings Brasil desde julho de 2009, quando foi convidado pelos membros fundadores do blog para fazer parte da equipe.
Na verdade, ninguém imaginava isso, mas depois de participar ativamente das discussões na página durante os playoffs da Copa Stanley, Guilherme "obrigou" os fundadores a convidá-lo. Na visão dos "titulares" do time, ele surgia como um calouro promissor, alguém que poderia assumir a condição de escravo e trabalhar incansavelmente para informar aos torcedores brasileiros as últimas notícias dos Red Wings.
E assim foi feito. O blog nunca teve tantos textos publicados, o que refletiu no aumento do número de acessos e de comentários. A comunidade cresceu.
No fim de novembro, a blogueira norte-americana Kris, do Snipe, Snipe, Dangle, Dangle, entrou em contato com o blog Red Wings Brasil para entrevistar um de seus membros, como parte de uma seção de entrevistas com blogueiros dos Red Wings que vivem fora dos Estados Unidos. Guilherme, o mais ativo dos participantes brasileiros, concedeu a entrevista, publicada em 17 de dezembro.
No mesmo dia, a entrevista foi comentada no blog Abel to Yzerman, o "rei dos blogs" sobre os Red Wings, pertencente ao Kukla's Korner, a fonte diária de informações para quem quer saber tudo o que se passa na NHL — a leitura do KK é altamente recomendada.
Entre os comentários dos leitores que se espantavam com a presença de um blogueiro no Brasil, um deles proclamou: "Alguém deveria começar um fundo para levar Herm a um jogo dos Wings na Joe." Herm é como Guilherme ficou conhecido entre os norte-americanos — porque nenhum deles consegue pronunciar seu nome.
Rapidamente, o que começou como uma sugestão vaga se tornou o objetivo de dezenas de torcedores. Então, no dia 21 de dezembro, estava oficialmente lançada a campanha "Vamos trazer Herm para Hockeytown", cujo objetivo era arrecadar doações para custear toda as despesas (documentação, passagens, hospedagem, alimentação e ingresso). Era o milagre de Natal.
O jogo escolhido não poderia acontecer em data mais sugestiva: Detroit Red Wings contra Minnesota Wild, no dia 26 de março.
"Nós vamos trazer Guilherme do Red Wings Brasil para Detroit para assistir a um jogo dos Wings. Por quê?
Porque ele disse que nunca esteve em um antes, e nós achamos que será legal ir adiante e consertar esse pequeno problema. Ele nunca encontrou pessoalmente outro torcedor dos Wings em sua vida. Ele nunca esteve nos Estados Unidos, muito menos
em Detroit. Então vamos consertar isso também. Ele assistiu aos jogos pela internet e pela televisão, ocasionalmente. Ele adotou o melhor time de hóquei e agora nós vamos recompensá-lo por sua lealdade".
Em 30 horas, a campanha atingiu o objetivo inicial de arrecadar mil dólares.
Até aquele momento, ninguém sabia exatamente o quanto iria custar o presente ao torcedor brasileiro, então determinaram que cada dólar além do necessário seria doado para o Hospital Infantil de Michigan.
Rapidamente, a notícia da campanha se espalhou por outros blogs de torcedores dos Red Wings (1) (2) (3) (4) (5) (6), de outras equipes (Wild, Capitals, Penguins) e até mesmo da imprensa, como destacou o jornal mLive.com, o jornal da cidade de Flint e a XM NHL Home Ice (a rádio oficial da NHL).
A campanha ganhou logo, perfil no Facebook, no twitter e sua página própria (ainda em construção). Mas o melhor de tudo foram os vídeos (1) (2) criados pelos blogueiros do The Triple Deke, verdadeiros comerciais da campanha.
Com a ampla divulgação, as doações chegaram a US$ 2,4 mil (até 13 de janeiro), mais do que o suficiente para financiar a viagem. O curioso é que gente de diversas partes do mundo, como Austrália, Eslováquia, Inglaterra e Espanha, contribuiu para a campanha. Não há qualquer parâmetro para o valor de cada doação. Então, vários colaboradores doaram 43 dólares, número da camisa de Darren Helm, o jogador favorito de Guilherme, ou 19 dólares (o número eternizado por Steve Yzerman). Um torcedor do Pittsburgh Penguins doou 66 dólares (dispensa explicação). Estudantes falidos colaboraram com cinco dólares e quatro bem-aventurados doaram cem dólares.
A passagem de Guilherme por Detroit tornou-se o pretexto para um encontro com cerca de cem blogueiros e leitores torcedores dos Red Wings.
Assim, a programação do evento ganhou novos episódios.
Antes do jogo, às 16h locais, os torcedores se reunirão no tradicional bar Hockeytown Cafe. Já na Joe Louis Arena, Guilherme acompanhará o aquecimento dos times sentado no banco de penalidades, cortesia de um funcionário dos Red Wings que também conseguiu ingressos em bloco e com desconto para os participantes da campanha. É provável, mas não está confirmada, uma entrevista do brasileiro com Ken Daniels, narrador da Fox Sports Network de Detroit durante o intervalo do jogo.
Enquanto isso, em São Bernardo do Campo, Guilherme, de 21 anos, se prepara
para viver a maior emoção de sua vida. Ele já tirou o passaporte e, na semana que vem, fará a entrevista para conseguir o visto. A partir daí, começará a arrumar as malas.
Um torcedor brasileiro, realizando o sonho de assistir a um jogo do seu time favorito, em seu ginásio, como prêmio por sua dedicação ao time e ao esporte. É a maior vitória da comunidade brasileira de fanáticos por hóquei no gelo.
É, mesmo, um milagre.
Herm to Hockeytown |