Nenhuma outra equipe da liga levou tão a sério a expressão "ano novo, vida nova" quanto o Montreal Canadiens.
A gerência se aproveitou do término simultâneo do contrato de vários jogadores e promoveu mudanças no atacado. É um time novo, praticamente.
O gerente geral, Bob Gainey, foi duramente criticado por algumas de suas decisões nas férias, mas o fraco desempenho dos ex-atletas em suas novas equipes provam, por enquanto, que ele estava certo.
Dez jogadores saíram de Montreal, numa tentativa do gerente de mudar a cultura do time.
A lista foi encabeçada pelo ex-capitão Saku Koivu, 35 anos, que foi para o Anaheim Ducks. O finlandês nunca foi um jogador fora de série, mas era tremendamente admirado por ter defendido a camisa tricolor em toda a sua carreira e por ter superado um câncer em 2001-02. Seus recordes em uma temporada, no entanto, são modestos — 22 gols e 75 pontos.
Em dez jogos na Califórnia, atuando quase 20 minutos por noite, o finlandês marcou um gol e três pontos, acumulando saldo de -5.
Outro grande nome presente na barca era Alexei Kovalev, 36, hoje no Ottawa Senators. Sua passagem pelos Habs foi marcada por altos e baixos. Com exceção da partida contra o próprio Montreal, Kovalev não tem tido muito brilho em sua nova equipe. O russo marcou três gols e quatro pontos, com saldo -4, em nove jogos disputados.
O defensor Mike Komisarek, atualmente no Toronto Maple Leafs, é o símbolo da campanha do pior time da liga.
Komisarek, 28, lidera os Leafs em minutos de penalidades, o que não significa nada, mas enche os olhos de seu novo patrão, Brian Burke. Com saldo -5 e nenhum ponto marcado em nove jogos, ninguém sente saudades do norte-americano em Montreal, onde ele era supervalorizado.
Mais um "produto da casa", Christopher Higgins foi vítima da mudança de mentalidade da gerência Habitant e dos péssimos números registrados na última temporada, a primeira com menos de 20 gols depois de três campanhas seguidas superando a marca. Agora no New York Rangers, Higgins, 26, é o "bode expiatório" do treinador John Tortorella. Em 12 jogos, dois pontos e saldo -2.
Os atacantes Alex Tanguay e Robert Lang disputaram apenas uma temporada em Montreal, o suficiente para que Gainey percebesse que eles não se encaixavam em seus planos para o futuro. Ambos tiveram a campanha abreviada por contusões, o que é incomum para os dois jogadores, que nunca tiveram histórico de contusões. Com o Tampa Bay Lightning, Tanguay, 30, é uma das maiores decepções da temporada, somando dois pontos e saldo -3 em nove jogos. Já Lang, 39, tem um gol e quatro pontos em dez jogos pelo Phoenix Coyotes, o time da NHL — literalmente.
Ainda mais velho que Lang, o defensor Mathieu Schneider, 40, encontrou um lugar no Vancouver Canucks quando sua aposentadoria era bastante provável. Contundido, Schneider somente fez sua estreia nesta semana. Já no seu segundo jogo, marcou um gol contra o Detroit Red Wings. Então, em dois jogos, um gol e saldo -1.
Também defensor, Francois Bouillon voltou para o Nashville Predators, onde deixou boa impressão em curta passagem durante a temporada 2002-03. Com quase 21 minutos de tempo de gelo por jogo, o veterano de 34 anos é um dos principais nomes do time, embora não tenha pontuado em dez jogos, acumulando saldo de -4.
E a lista continua. Tom Kostopoulos, 31, não entregava muito mais do que minutos de penalidade, apesar de ter marcado 22 pontos na temporada passada. Atualmente no Carolina Hurricanes, o canadense com nome de grego marcou um gol em dez jogos, e o saldo, como sempre, é negativo, -1.
Entre tantos jogadores renomados — alguns nem tanto, é verdade —, aquele que deixa mais saudades na torcida tricolor é o aguerrido Steve Begin, jogador de quarta linha que valoriza cada turno no gelo. Em dez jogos com o Boston Bruins, Begin marcou dois gols e seis pontos, com saldo +1, em 13 minutos de ação por noite, a caminho da melhor temporada de sua carreira.
Juntos, os dez ex-Habs somam neste começo de temporada 91 jogos, nove gols, 14 assistências, 23 pontos e saldo -25, custando aos cofres de seus novos times a bagatela de US$ 23,766 milhões — sem contar o bônus de US$ 1,2 milhão que pode ser pago a Schneider.
Para compensar as perdas, oito jogadores chegaram a Montreal, sendo sete contratados no mercado de agentes-livres e um adquirido via troca.
Por Scott Gomez, os Habs se desfizeram de Higgins, entre outras peças menores envolvidas na troca. Gomez, 30, é um central ofensivo, mais passador do que finalizador, capaz de atuar 20 minutos por noite com qualidade, tipo de jogador que os Canadiens tanto procuraram no passado. É claro que ele não vale tanto quanto o seu contrato diz (US$ 7,357 milhões), mas a carência no centro levou Gainey a disparar o gatilho. Em 11 jogos, Gomez tem dois gols, sete pontos e saldo +1.
A maior contratação do time, no entanto, foi o ponta Michael Cammalleri, que traz na bagagem 39 gols e 82 pontos pelo Calgary Flames na temporada passada.
Cammalleri, 27, tem potencial para se perpetuar como um atacante de 40 gols por ano. É nisso que os Habs apostam. Até agora foram cinco gols e 12 pontos em 11 jogos, com saldo +4, sendo que apenas um de seus gols foi marcado em vantagem numérica.
Outro reforço para o ataque, Brian Gionta, 31, trocou o New Jersey Devils, único time de sua vida, pelos Canadiens. O Gionta de hoje não é aquele que em 2005-06 marcou 48 gols e 89 pontos. Tal desempenho pode ser considerado um desvio na curva normal do jogador, que desde então não chegou a 30 gols, nem superou os 60 pontos, números que definem a sua meta pessoal em Montreal. O começo de temporada poderia ser melhor: quatro gols e seis pontos em 11 jogos, com saldo +4.
Gomez, Cammalleri e Gionta formam um trio de ataque talentoso, mas muito pequeno para os padrões do esporte. Essa foi a crítica mais repetida antes da temporada.
Entre os atacantes recém-chegados, o maior, em tamanho, é Travis Moen, 27, que se destacou nos Ducks. Apesar de ser reconhecidamente bom nos aspectos defensivos do jogo, Moen acumula um saldo +/- bisonho em sua carreira (-52). Pelo menos nos Habs ele tem se destacado também ofensivamente, com três gols e cinco pontos em 11 jogos.
As demais contratações foram para a defesa, a começar pelo veterano Jaroslav Spacek, de 35 anos. Em toda a sua carreira, Spacek agradou por onde passou. Nunca foi um defensor de encher os olhos, atuou em times modestos e só disputou os playoffs em três ocasiões, mas sempre foi seguro e competente na transição entre defesa e ataque. No Montreal, está para bater seu recorde pessoal de minutos jogados em uma temporada, com 24:47 por noite. Em 11 jogos, soma um gol e cinco pontos, com ótimo saldo de +5.
Paul Mara é mais um defensor supervalorizado, mas pelo menos os Habs não pagaram tão caro por sua experiência. Aos 30 anos, Mara vai custar US$ 1,675 milhão aos cofres do time. Em 11 jogos, tem cinco assistências e saldo -2 — um avanço para quem acumula -97 na carreira.
Se tamanho é documento, então Hal Gill vai ganhar o Troféu Norris. Grande, forte, pesado, Gill, no entanto, é um bonde que, definitivamente, não vale US$ 2,25 milhões. Azar dos Habs, que viram no atual campeão da Copa Stanley um reforço para sua defesa. O saldo de -4 em 11 jogos diz tudo.
O último a chegar ao tricolor foi Marc-Andre Bergeron, já com a temporada em andamento, o que mereceu destaque na edição n.º 241. Bergeron foi contratado para substituir Andrei Markov, principal defensor do time, que se machucou gravemente. Com dois gols em vantagem numérica e três pontos em quatro jogos, os Habs encontraram no novo reforço a resposta para o 5-contra-4. De novo, é de se espantar como um defensor tão qualificado estava disponível no mercado. Com Bergeron no gelo o Montreal venceu os quatro jogos disputados.
Os oito reforços dos Canadiens acumulam 17 gols, 25 assistências, 42 pontos e saldo +9 em 81 jogos, desempenho bastante superior ao registrado pelos ex-jogadores. Com o octeto o Montreal vai gastar US$ 28,342 milhões na temporada.
Com tantas mudanças, o time ficou mais jovem e mais caro, mas com a cara que o treinador Jacques Martin
queria. A campanha ainda não empolga, mas a sequência atual de quatro vitórias empolga a torcida, que ainda está incomodada com a goleada por 7-1 sofrida para o Vancouver.
Críticas à parte, Gainey deve estar orgulhoso. Os Habs de outubro são bem melhores que os Habs de abril, varridos pelos Bruins nos playoffs.
E os números provam que seus novos jogadores estão produzindo mais do que aqueles que agora vestem outras camisas. Contra números não há argumentos.
Phillip MacCallum/Getty Images |
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