Por: Alexandre Giesbrecht

Como se já não bastassem os 42 anos sem títulos, os Leafs deram um jeito de fazer sua imensa torcida sofrer ainda mais neste começo de temporada. Jogo após jogo o time terminava atrás no placar, e a cada vez a desesperança aumentava e assim foi construído o pior início de ano da história da franquia, que já não vencia desde 11 de abril. Os mais pessimistas já imaginavam se seria possível vencer uma só partida nesta temporada. Sim, seria, só que demoraria nove jogos. E ela teria ingredientes curiosos.

Em primeiro lugar, foi fora de casa, em Anaheim, contra um time dos Ducks que ainda não se encontrou. Em segundo lugar, foi a primeira visita do gerente geral dos Leafs, Brian Burke, ao Honda Center, onde conquistou a Copa Stanley como GG dos mesmos Ducks dois anos e meio atrás. Em terceiro lugar, contou com nada menos que cinco gols em vantagem numérica, fruto da quase benevolência dos californianos, que acumularam 47 minutos de penalidades ao longo dos 60 minutos, uma tendência que faz do time o líder da liga em quantidade de desvantagens numéricas, estatística acentuada pelo terceiro menor número de chances em vantagem numérica. Em quarto lugar, Niklas Hagman marcou um hat trick, o segundo de sua carreira, com um gol em vantagem numérica em cada período. Em quinto lugar, o goleiro sueco Jonas Gustavsson, se não conseguiu baixar sua média de gols sofridos em mais de 0,01 ponto percentual, ao menos conseguiu sua primeira vitória na NHL e também fez uma das defesas mais espetaculares do ano, ao impedir que Erik Christensen marcasse no que parecia ser uma rede completamente vazia... por algumas frações de segundo.

O goleiro, conhecido como "Monstro", tinha dado uma declaração quase premonitória antes da partida. "No fim das contas, só se vence como um time", dissera, naquela manhã. "Mas é claro que às vezes você tem de chamar para si a responsabilidade e fazer as grandes defesas." Ele não foi o principal responsável pela vitória, mas teve um papel importante, com a melhor atuação de um goleiro com a folha de bordo no uniforme este ano. É óbvio que, com três gols sofridos, ainda há espaço para melhorar, mas, se isso acontecer, pode ser que o campeonato ainda não tenha descido pelo esgoto.

O sexto ingrediente na verdade pouco deve ter tido a ver com a vitória, mas eu não escolhi o adjetivo "curioso" para finalizar o primeiro parágrafo por acaso. O jogo ainda estava 0-0 e não tinham sido decorridos nem três minutos quando Colton Orr, dos Leafs, se estranhou com George Parros. O embate seguia equilibrado quando os árbitros tentaram interferir. Orr, no melhor estilo "briga de rua", simplesmente deu um chega-pra-lá em um deles, empurrando-o no peito como se dizendo "Sai fora!" e derrubando-o ao chão. Os mais supersticiosos vão querer usar o momento como uma metáfora para livrar-se da zica.

Se de fato a troca de gentilezas teve essa conotação quase espiritual, não deu certo, ao menos não logo de cara: assim como em todos os jogos anteriores, os Leafs saíram atrás. A virada veio pouco mais de um minuto depois do gol de empate e colocou os canadenses em vantagem pela primeira vez em 444 minutos e 47 segundos, ou desde o terceiro período do primeiro jogo da temporada. Já deve ter sido um grande alívio, mas o terceiro gol certamente foi mais comemorado, até por outro ingrediente curioso: durante uma vantagem numérica Lee Stempniak deu um tranco esquisito — mas legal — em Todd Marchant, que fez com que Scott Niedermayer tentasse "vingar" o ocorrido, o que só lhe valeu uma penalidade por agressão, deixando os Ducks com dois homens a menos no gelo. Exatos trinta segundos depois Hagman comemorava o segundo de seus três gols.

No rol de curiosidades que envolveram este duelo ainda houve um ingrediente que passou quase que despercebido, mas que os místicos poderão facilmente associar à primeira vitória do "Monstro" na NHL: Justin Pogge estava no banco dos Ducks. Quem?! Justin Pogge, aquele goleiro que até o ano passado era o goleiro do futuro dos Leafs, que venceu sua primeira partida pelos azuis mas não venceu mais em suas seis partidas seguintes, com uma média de 4,36 gols sofridos. Aquele que ficou sem espaço m Toronto justamente por causa da chegada do sueco e foi mandado para Anaheim em troca de uma escolha de recrutamento que sequer foi definida. Atrás de Jonas Hiller e Jean-Sébastien Giguère na hierarquia, ele só foi convocado para a reserva nesta partida porque Giguère contundiu-se sem gravidade na virilha. Foi a deixa para sair do anonimato em que vivia em Bakersfield, onde defende os Condors da ECHL, e ser cercado pela imprensa canadense, atraindo mais atenção da mídia visitante do que Ryan Getzlaf, astro dos Ducks, recebe da mídia local.

Vencido o obstáculo da primeira vitória, ainda falta um tabu a ser quebrado pelos Leafs: tornar-se o último time a vencer uma partida em casa. Depois de mais três jogos fora, a primeira chance será na terça-feira que vem, contra o Lightning. Toronto inteira espera que não sejam necessários outros cinco gols em vantagem numérica para quebrar essa escrita.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, compara o gol marcado na segunda-feia por Patrick Kane ao que Evgeni Malkin marcou contra os Hurricanes nas últimas finais de conferência.
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Página publicada em 28 de outubro de 2009.