Por: Thiago Leal

O que (ainda não) aconteceu:
Alguém duvida que Cristobal Huet é favoritíssimo ao Troféu Conn Smythe? Seus dois shutouts nas finais da Conferência Oeste onde o Chicago Blackhawks varreu os (mais uma vez) decepcionante Sharks praticamente lhe garantiram o prêmio de MVP, não fosse um pequeno detalhe: Huet ainda tem a missão de levar os Hawks à Copa Stanley. E depois do que aconteceu ontem no Wachovia Center, por acaso alguém duvida que o Philadelphia Flyers ganhe a Copa e Mike Richards termine com o Conn Smythe que Huet tanto sonha?

Se você preferiu assistir a Fluminense x Botafogo, Clássico Vovô da Série B, nessa noite de sexta-feira, perdeu o que pode ter sido um dos melhores jogos de playoffs desde o Milagre de Manchester: a sétima partida da final da Conferência Leste entre Philadelphia, campeão do Troféu dos Presidentes, e Washington. Após primeiro período em branco, com destaque apenas para a briga entre o irritante Ian Laperriere e Matt Bradley, Mike Richards, sempre escoltado por Matt Carle, abriu o placar no início do segundo período, num gol que nasceu na lâmina do taco do demolidor Chris Pronger, mais uma vez se superando e fazendo uma temporada que supera seus melhores dias no St. Louis, Edmonton e Anaheim. Nessa hora me perguntei o que se passaria na cabeça de Alexander Ovechkin, mais uma vez eliminado tão perto de disputar uma Copa.

O próprio Ovie me respondeu ao marcar pouco mais de um minuto depois, com assistência de Nicklas Bäckstrom e Bradley, empatando para os Capitals. Dois minutos depois, Flyers na frente de novo: Timonen. Quem assistiu? Carle. E mais três minutos e... gol! De quem? Ovechkin. Assistência? Bäckstrom. E o pesadelo de Ovechkin parecia que acabaria quando seu xará Alexander Semin pôs os Caps finalmente na frente.

Mas no caminho dos dois estavam Richards e o sensacional defensor Carle, constantemente presente no ataque. Em menos de dois minutos, os Flyers já estavam na frente do marcador com dois gols de Richards assistido por Carle. Alguém na Filadélfia ainda sente saudades do Esquadrão da Morte de Lindros, LeClair e Renberg? Richards tem se mostrado muito mais digno de usar o C no ombro, não apenas por ser um jogador mais completo (melhor que Lindros, em tese, ele não é...), mas por ser um líder no rinque — tanto que ele, e não Simon Gagne, é o capitão da equipe.

Depois de tomar uma Pepsi-Cola durante o intervalo do segundo para o terceiro período, quase tive uma arritmia quando, entre oito e dez minutos da etapa complementar, Semin e Brendan Morrison viraram o jogo para os Capitals. Ovechkin e Bäckstrom contibuíram, claro, com assistências. A esta altura já amordacei minha esposa, para que ela parasse de gritar "Amor, vem pra cama!", e pluguei o fone de ouvido, pois já não aguentava mais a vizinha do lado me enchendo o saco com o barulho da torcida laranja do Philadelphia. E agora o pesadelo que me vinha em mente era o de Gagne e dos Flyers, que mais uma vez morreria na praia. Até que a cinco minutos do final, Scott Hartnell tornou a empatar.

Os dois times estavam cansados demais quando Danny Brière, que vem devendo desde seu fracasso com o Buffalo em 2007, garantiu a vitória dos Flyers pouco depois do início da prorrogação.

Chris Pronger estava certo quando lá atrás, no dia 6 de outubro, ainda no começo da temporada, disse que quem vencesse aquele jogo entre Flyers e Capitals venceria também a Copa Stanley? Acredito que sim. vejamos se os Blackhawks têm a mesma opinião.

...

O que (realmente) aconteceu (por incrível que pareça):
* A última frase deste artigo fictício acima. Chris Pronger (realmente) declarou que quem vencesse o confronto da terça-feira, dia 6 de outubro, venceria também a Copa Stanley. Até onde o gigantesco defensor falava sério e até onde ele estava brincando, não se pode medir. Tratando-se de um sujeito aparentemente pouco humilde como Pronger, dá pra acreditar que ele realmente quissesse dizer isso mesmo. Se o cara foi para o Philadelphia, deve esperar alguma coisa do time — e essa "alguma coisa" pode ser a Copa Stanley. Até apostaria em Pronger para MVP, não fosse esse início de temporada arrasador de Mike Richards.

* O jogo descrito a partir da frase "Após primeiro período em branco..." (realmente) aconteceu. E exatamente da forma que descrevi, com exceção, claro, da Pepsi-Cola, da minha esposa e da minha vizinha. Cada gol e assistência, com o tempo precisamente registrado neste artigo, foram assinalados no Wachovia Center na noite de 6 de outubro, testemunhados por mais de 19 mil torcedores, grande maioria deles loucos vestidos com aquele tom de laranja forte característico do time da casa.

Os Flyers, que fazem excelente início de temporada, receberam o Washington, após visitarem o Carolina e vencer por 2-0 e, no caminho de volta para casa, passarem em Newark para bater o New Jersey Devils por 5-2. Os Capitals, por sinal, não ficam atrás. Foram a Boston bater o Bruins por 4-1 e, em seguida, pegaram os Maple Leafs em casa. Venceram por 6-4. Os destaques da franquia da capital federal vêm sendo, claro, Ovechkin, Semin e Bäckstrom, além de um surpreendente Brooks Laich.

E já que começou botando lenha na fogueira, bem que Pronger tinha que fazer alguma diferença no rinque. E não fez? O primeiro gol dos Flyers surgiu num belo passe dele para Carle que, a meu ver, tentou chutar, mas acabou encontrando Richards, que marcou o primeiro gol da noite. Carle ainda assinalaria mais três assistências, enquanto Richards completaria um hat trick, preenchendo de bonés o gelo do Wachovia Center. Detalhe: em todos os seus três gols, Richards teve assistência de Carle. Por isso (realmente) perguntei: alguém na Filadélfia, cidade do amor fraterno, ainda têm saudades dos anos do Esquadrão da Morte?

O que (realmente) pode acontecer:
Capitals e Flyers decidindo no Leste? Hoje diria que sim, não pelo jogo do dia 6, mas pelo elenco que os dois times têm e pelo modo que vêm jogando.

O desempenho nestes dois primeiros meses de temporada é fundamental para se ter alguma noção do padrão de jogo dos Flyers e dos Capitals e dizer se realmente os dois são bons o bastante para avançar às finais de Conferência. O elenco e o modo como o Philadelphia vem jogando empolga, principalmente com uma defesa forte tanto fisicamente quanto tecnicamente — Carle e Pronger têm tanta capacidade de apoiar o ataque quanto de demolir atacantes adversários. O jogo físico é intensificado por Laperrière, Hartnell e Ole-Kristian Tollefsen. Tanto que três dos seis gols marcados na batalha contra os Capitals aconteceram em vantagem numérica. É um modo de jogo bastante eficiente na NHL, vide o título do Anaheim Ducks em 2007.

Os Capitals são mais técnicos — tanto quanto os rivais Penguins. A linha formada por Ovechkin, Bäckstrom e Bradley é um bom exemplo de combinação de técnica e força. Alexander Semin se encaixa neste mesmo perfil. Matt Green, defensor, também. E o jogo físico pode ser intensificado com grandes defensores como Milan Jurcina, John Erskine e Jeff Schulz. Os goleiros é que não me trazem tanta confiança, principalmente Jose Theodore. Mas Semyon Varlamov tem evoluído debaixo da trave e pode inspirar um pouco mais de segurança no decorrer da temporada regular.

Então é seguro acreditar que Philadelphia e Washington farão uma boa temporada, mesmo com risco de contusões. Não dá para dizer se os dois farão a decisão no Leste, como Pronger propõe, uma vez que os encontros dos playoffs são determinados pela classificação final de cada clube na tabela. Mas apostar em Philadelphia e Washington como campeões de suas respectivas divisões não é insensato, o que aumenta a possibilidade de encontro numa provável final de conferência. Mas acredito tanto no Philadelphia e no Washington quanto acredito no Chicago na Conferência Oeste.

E bem que eu gostaria que o Pronger estivesse certo: assim, seria apenas dar um Ctrl+C e Ctrl+V nos primeiros parágrafos deste artigo, e eu teria uma coluna de final de Conferência pronta.

Thiago Leal almoçou com alguns publicitários de João Pessoa. Cardápio: feijoada com cerveja Skol.
Bruce Bennett/Getty Images
Essas são as responsáveis pela limpeza do gelo? Então que Mike Richards marque hat tricks todo jogo em casa.
(06/10/2009)

AP
Danny Brière apareceu apenas no gol vencedor. Mas, pela reação da torcida, isso não fez muita diferença...
(06/10/2009)

Bruce Bennett/Getty Images
Matt Carle (#25) anotou quatro assistências, a segunda delas a Kimmo Timonen.
(06/10/2009)

Bruce Bennett/Getty Images
Mike Richards saiu vencedor de seu duelo particular com Alexander Ovechkin.
(06/10/2009)

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Página publicada em 7 de outubro de 2009.