Por: Alexandre Giesbrecht

Nas duas últimas finais da Copa Stanley os mesmos goleiros enfrentaram-se, com uma vitória para cada lado, Marc-André Fleury, pelos Penguins, e Chris Osgood, pelos Red Wings. Nenhum deles era o único destaque de seu time, mas ambos foram fundamentais nas campanhas que deram a seus times seus respectivos títulos. Nada de mais nesta constatação, a não ser se levarmos em consideração os salários de ambos. Goleiros não costumam ter salários tão estratosféricos quanto os de atacantes estelares, então a comparação aqui não é com os US$ 9,5 milhões que Alex Ovechkin ganhará em média ao longo de seu longo contrato.

Não, a comparação é entre os goleiros, mesmo. Por terem sido os goleiros de maior sucesso nos playoffs da liga nos dois últimos anos, esperar-se-ia que eles estivessem entre os mais bem pagos. Não estão. Aliás, não estão nem perto disso. E é aí que a coisa fica engraçada. Quer dizer, não para os torcedores de determinados times.

O goleiro mais bem pago da liga é Henrik Lundqvist, dos Rangers, com salário médio de US$ 6,875 milhões. O sueco tem em seu currículo uma medalha de ouro nas Olimpíadas e é dos mais confiáveis em toda a liga, sendo o grande responsável pelas três últimas classificações de seu time aos playoffs. Não é uma má escolha para salário mais alto, só que é um goleiro que ainda tem muito a provar.

Segue-se a ele na lista outro goleiro sólido, Roberto Luongo, que, por sinal, acaba de renovar contrato com os Canucks por uma média de US$ 5,33 milhões, mas ainda tem um salário médio de US$ 6,75 milhões até o fim desta temporada. Sim, ele tem belas estatísticas, está sempre na briga pelo Troféu Vezina e deverá estar na favorita seleção canadense que disputará as Olimpíadas de Inverno em fevereiro, talvez como titular do gol. São seus frequentes insucessos nos playoffs que depõem contra ele. Ele tem talento para se destacar; só não tem mais tanto tempo, já que vai fazer 31 anos em abril. Seu início na atual temporada foi um desastre completo, com média de 4,56 gols sofridos e 82% de defesas em três jogos. Se ele se aposentasse amanhã, daria para considerá-lo entre os grandes de todos os tempos?

Lundqvist e Luongo não têm o sucesso nos playoffs, ao menos não ainda, mas têm talento para chegar lá, então seus salários são até compreensíveis. Em seguida vem outra escolha compreensível: Cam Ward, dos Hurricanes, o primeiro da lista com uma Copa Stanley no currículo. E um Conn Smythe, troféu que nem Osgood nem Fleury conquistaram. Além de sua campanha do titulo, em 2005-06, Ward foi um dos principais responsáveis pela boa campanha do Carolina nos playoffs passados, embora não tenha se destacado nas duas campanhas em que seu time não foi aos playoffs. A temporada que se inicia será um bom termômetro, e curiosamente ele será apenas o 20.º goleiro titular mais bem pago da liga, já que seu contrato com média salarial de US$ 6,3 milhões só começará a valer a partir de 2010-11.

Boa parte dos nomes que se seguem a esse três na lista começa a causar estranheza. Em quarto lugar está Ryan Miller, dos Sabres, com US$ 6,25 milhões. Sim, ele levou os Sabres a duas finais de conferência seguidas, em 2005-06 e 2006-07, perdendo ambas. Mas aquelas versões do Buffalo tinham um elenco de destaque, e Miller era apenas mais uma das peças. Quando aquele time começou a ser desmontado, o goleiro não conseguiu segurar a bronca, embora tenha mantido números respeitáveis e estivesse contundido quando o time começou a afundar na temporada passada.

Com US$ 6 milhões, Niklas Backström, do Wild, é o quinto colocado. Com média de 2,24 gols sofridos em sua carreira até a temporada passada e 92,3% de defesas, as estatísticas chamam a atenção e inicialmente sugerem que seu contrato pode não ser tão inchado assim. Mas é bom lembrar que o técnico Jacques Lemaire, que implantou o único sistema de jogo que o time de Minnesota conheceu até hoje, foi demitido, e esse estilo defensivo sem dúvida teve algo a ver com os números de Backström. A comparação ao final deste ano certamente será interessante.

O sexto colocado é Miikka Kiprusoff, dos Flames, com US$ 5,833 milhões. Seu currículo tem uma final de Copa Stanley perdida apenas no sétimo jogo, em 2003-04, quando ele foi um dos principais responsáveis pela bela campanha. A grande mancha no currículo, se é que pode ser chamada assim, é que nas quatro temporadas seguintes ele foi eliminado logo na primeira fase da pós-temporada.

Até aqui, vimos goleiros que, se não valem tudo o que ganham, ao menos dá para se interpretar seus contratos como "custo do potencial" ou até gratidão. Pois é agora que a lista começa a ficar engraçada de verdade. No sétimo lugar está Tomáš Vokoun, dos Panthers, com seus assombrosos US$ 5,7 milhões de salário médio. Se ele estivesse ganhando isso na época de Preds, quando realmente teve bons anos atrás de elencos sofríveis e podia ser considerado uma promessa. Seus números são razoáveis, mas ele nunca ganhou uma série nos playoffs e, ainda por cima, viu a diretoria contratar para este ano Scott Clemmensen, ex-reserva de Brodeur nos Devils, com um salário médio de US$ 1,2 milhão, para dividir o gol com Vokoun. Não é exatamente um gesto de confiança.

Quem também tem salário médio de US$ 5,7 milhões é Marty Turco, a eterna promessa dos Stars. Aos 34 anos, o goleiro só foi longe uma vez nos playoffs, justamente com um dos elencos mais fracos que ele viu a sua frente, em 2007-08, e, mesmo assim, não passou das finais de conferência. Antes, foi apontado durante boa parte de sua carreira como um dos principais culpados a cada derrota nos mata-matas.

Um pouquinho abaixo, na casa dos US$ 5,625 milhões, está Cristobal Huet, dos Hawks, outro que nunca ganhou uma série nos playoffs — ele perdeu a vaga de titular no ano passado com as boas atuações de Nikolai Khabibulin e, quando este se contundiu nas finais de conferência, contra o Detroit, Huet não conseguiu salvar o time. Logo abaixo, na décima posição, encontramos Evgeni Nabokov, a síntese das amareladas dos Sharks nos playoffs: ele passou uma única vez da segunda fase e em apenas duas de suas sete participações nos playoffs ele teve números melhores que na temporada, e em uma delas a melhoria foi apenas marginal (0,06 ponto percentual).

Em seguida vem um dos maiores absurdos da liga: Marin Brodeur, que recebe salário médio de US$ 5,2 milhões. Sério, se Vokoun recebe US$ 5,7 milhões, quanto Brodeur deveria receber? Algo na casa dos bilhões de dólares? É bem verdade que o contrato de Brodeur é mais antigo, mas há apenas um ano de diferença!

É agora que aparece o contrato de Fleury, a US$ 5 milhões de média, empatado com Tim Thomas, dos Bruins, outro que não tem nada no currículo mais importante que um Troféu Vezina — alguma dúvida que ele preferiria ter outro troféu no currículo? Note que, até chegarmos a Fleury, apenas dois goleiros tinham Copas Stanley no currículo, sendo que um deles (Ward) nem deveria aparecer nesta lista, pois sua média salarial para 2009-10 ainda é US$ 2,667 milhões. E Fleury nem é a maior barganha, já que Osgood é o sexto goleiro titular menos bem pago da lista, com média salarial de US$ 1,4 milhão, se assumirmos que José Théodore ainda é o titular em Washington e Jonas Hiller, em Anaheim. Ora, o mundialmente conhecido Steve Ott pesa mais contra o teto salarial dos Stars do que Osgood em relação ao dos Wings!

Os goleiros são apenas um microcosmo dentro do universo da NHL, mas já dá para perceber por eles como é que se chegou ao locaute que eliminou a temporada de 2004-05. Insanidade monetária pura e simples. E olha que nem cheguei a citar o nababesco contrato de Rick DiPietro com os Islanders, caso único no mundo de alguém que ganha dinheiro para ter plano de saúde.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, está louco para assistir a Bastardos Inglórios.
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Página publicada em 7 de outubro de 2009.