Por: Humberto Fernandes

A temporada começou em 1.º de outubro e o defensor Marc-Andre Bergeron continuava desempregado. Aos 29 anos, não passava pela sua cabeça se aposentar ou procurar outros mercados mundo afora. Ele sentia que pertencia à NHL e que poderia jogar por uma grande equipe.

Nas semanas anteriores o telefone de seu empresário tocara diversas vezes, mas nenhuma das chamadas partira de algum lugar atraente oferecendo uma proposta concreta. Bergeron decidiu esperar, mesmo correndo o risco de passar meses sem atuar profissionalmente.

Foi então que o Montreal Canadiens perdeu dois defensores titulares em menos de uma semana de competição.

Andrei Markov, principal defensor do time, se machucou gravemente logo na estreia dos Habs ao trombar com o goleiro Carey Price. A cirurgia no tornozelo o afastará dos gelos por quatro meses. Ryan O'Byrne, o sexto nome da defesa, foi colocado na reserva por contusão por causa de uma lesão não especificada e não tem previsão de retorno.

Para preencher as lacunas deixadas a gerência procurou ajuda no mercado de agentes livres. E o telefone de Bergeron tocou para uma chamada de Montreal. Era a oportunidade a que ele tanto ansiava.

Bergeron, de 29 anos, vai disputar a sétima temporada de sua carreira, com passagens por Edmonton Oilers, New York Islanders e Anaheim Ducks. Na última temporada, atuando pelo Minnesota Wild, marcou 14 gols e 32 pontos em 72 jogos.

São seus gols que chamam a atenção porque Bergeron é um defensor ofensivo, que patina espetacularmente e não compromete em sua principal função que é a de impedir gols. Desde 2002-03, o novo reforço dos Habs é o 14.º maior goleador da liga entre os defensores, com 62 gols, um a menos que Markov, por exemplo, mas em 339 jogos disputados contra 453 do homem a quem vai substituir em Montreal. Considerando a média de gols por jogo, Bergeron é o sexto maior do período.

Seu próximo passo será se apresentar ao Hamilton Bulldogs, da AHL, para recuperar a forma física ideal antes de ser convocado para os Canadiens, que o contrataram por um ano e US$ 750 mil, uma mixaria para um defensor deste calibre.

Bergeron conseguiu o que queria e os Habs, dadas as trágicas circunstâncias, conseguiram muito mais do que esperavam.

Aproveitando o gancho, o novo arquiteto do Toronto Maple Leafs, Brian Burke, começou a reconstruir o time a partir da defesa. Os Leafs sofreram 293 gols na temporada passada, mais do que qualquer outro time, o que fez dessa a prioridade do gerente.

Chegaram a Toronto os defensores Mike Komisarek, François Beauchemin e Garnet Exelby, todos com características agressivas, o que Burke mais aprecia em um jogador de hóquei. Com Tomas Kaberle, Luke Schenn e Ian White, os Leafs desta temporada estão em um patamar muito acima do que a torcida se acostumou a ver nos últimos anos.

A lamentar, apenas, que Beauchemin, segundo no time em tempo de gelo com 24:56, exato um segundo a menos de média que Kaberle, esteja jogando terrivelmente mal. Na estreia contra o Montreal, Beauchemin não só esteve no gelo em todos os quatro gols sofridos como falhou em todos, seja errando passe, perdendo a disputa na borda ou por estar fora de posição. Os atacantes dos Canadiens aproveitaram as lambanças do defensor para vencer o jogo. No jogo seguinte, contra o Washington Capitals, Beauchemin estava no gelo em mais quatro dos seis gols sofridos. Assim, não há estatística que resista: o ex-jogador do Anaheim Ducks é o vice-lanterna da liga com saldo -4.

Enquanto isso, o trabalho de Ron Wilson é questionado e ele pode perder o emprego em breve. Wilson não é o técnico dos sonhos de Burke, gerente que sempre controla tudo ao seu redor.

Defesa ganha título e Burke é defensor (!) ferrenho da ideia.

É difícil decretar essa como uma verdade absoluta quando a memória do último campeão da Copa Stanley ainda está fresca. O Pittsburgh Penguis não tinha defesa. No grupo onde o principal nome era Sergei Gonchar, mais valorizado por seu estilo ofensivo, a brincadeira era: não há nenhum D (de defesa) em G-O-N-C-H-A-R.

Era por causa de sua defesa que para muita gente, inclusive este colunista, os Penguins não ganhariam a Copa. Mas aquele sexteto, por vezes septeto, de Gonchar, Rob Scuderi (hoje no Los Angeles Kings), Brooks Orpik, Hal Gill (hoje no Montreal), Kris Letang, Mark Eaton e Philippe Boucher (aposentado) se superou e acompanhou o nível do resto do time, não deixando Evgeni Malkin, Sidney Crosby e, principalmente, Marc-Andre Fleury na mão.

Mas nem só de defesa viverá o hóquei. Quem acompanhou o jogo entre Capitals e Philadelphia Flyers assistiu ao melhor jogo da temporada até o momento, com potencial para continuar entre os dez mais até o fim da competição.

Mike Richards, Alexander Ovechkin e Alexander Semin se alternaram no placar, marcando sete dos 11 gols do jogo. Richards marcou um hat trick no segundo período, o primeiro da nova temporada, enquanto os dois russos dos Capitals anotaram dois gols cada. Destaque para o primeiro gol do outro Alexander — parecia Ovechkin, mas era Semin. Um golaço.

Na prorrogação, Daniel Briere, aniversariante do dia, marcou o gol da vitória dos Flyers, que chegaram a três vitórias em três jogos. Não dava pra esperar menos do time de Chris Pronger.

Ovechkin chegou a cinco gols na temporada em apenas três jogos. Na temporada passada ele não marcou o quinto gol antes de 14 de novembro, no 14.º jogo.

Humberto Fernandes lançou a campanha "70 gols para Alexander Ovechkin". Faltam 65.

Wikipedia
Marc-Andre Bergeron, novo reforço do Montreal Canadiens, ainda com a camisa da equipe que defendeu na última temporada.

Claus Andersen/Getty Images
François Beauchemin é a âncora da defesa do Toronto Maple Leafs: um peso que afunda rapidamente.
(01/10/2009)

Luis M. Alvarez/AP
Alexander Ovechkin começou voando. Desde 1992-93 ninguém marca 70 ou mais gols na temporada. É este o ano?
(03/10/2009)

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Página publicada em 7 de outubro de 2009.