Por: Eduardo Costa

No mundo extremamente competitivo da NHL, é preciso aproveitar as chances que aparecem. Alguns atletas talentosos falharam na primeira oportunidade e nunca mais tiveram direito à revanche.

Quando Patrice Bergeron foi vitimado no início da última temporada por uma entrada criminosa do Flyer Randy Jones, o treinador do Boston Bruins, Claude Julien, olhou para o sistema e reservou um lugar para David Krejci.

O tcheco foi de menor a maior, ganhando destaque na corrida final dos Bruins rumo aos playoffs. Nove pontos nos últimos sete jogos da temporada regular. Nos playoffs viriam mais cinco, em sete duros embates, frente ao Montreal Canadiens.

Krejci entrava, então, no radar da NHL.

Hoje, mesmo com a volta de Bergeron ao gelo, a 63.ª escolha geral do recrutamento de 2004 vem brilhando intensamente, dando aquele conhecido problema agradável de múltiplas opções para Julien, que não tem ignorado a média superior a um ponto por partida de Krejci, e dado protagonismo ao jovem de 22 anos.

Tão surpreendente quanto a atual campanha do Boston Bruins — o time é o primeiro colocado geral da liga —, é a produtividade de Krejci. No momento em que escrevo essa missiva, ele é o 14.º na tabela de artilheiros da temporada, a frente de gente do gabarito de Vincent Lecavalier, Daniel Sedin e Dany Heatley. Ao contrários desses três exemplos, Krejci é um atleta de segunda linha, tanto de turnos cinco-contra-cinco, quanto da equipe de vantagem numérica.

Marc Savard vem centrando Milan Lucic e Phil Kessel na linha principal da equipe com maestria ímpar, mas Krejci não fica muito atrás. Sua sociedade com o novato Blake Wheeler e o já experimentado Michael Ryder também é parte integrante do sucesso do time até aqui. É um trio que se entende bem.

Dono de excelente passe, Krejci tem na criatividade e rápidos reflexos seus pontos fortes. Sabe como atrair a marcação e deixar seus companheiros com o espaço necessário para concluir suas jogadas. Para o contentamento de Julian, o tcheco sabe que apenas ser bom ofensivamente não é o suficiente.

"Apenas habilidade não vai te fazer ser um jogador de impacto nessa liga," reconhece. "Acredito sim que eu tenha qualidades ofensivas, mas tenho que sempre trabalhar duro e estar atento a todos os pequenos detalhes."

Uma boa prova que esse mandamento está sendo seguido está na tabela de +/- da temporada. Não é a única, mas é a melhor estatística para mostrar o quão responsável em ambos os lados do gelo um jogador é. O segundo-anista apresenta +26 após 51 cortejos, número bom o suficiente para situá-lo em quarto na NHL — em fato destacável, os cinco primeiros nesse quesito são atletas do Boston Bruins.

Com isso muita gente colocou Krejci na lista dos atletas esnobados pela liga na hora da escolha dos reservas para o famigerado Jogo das Estrelas. Embora tenha feito parte do time composto pelos jogadores em seu segundo ano na NHL, sua produção era boa o bastante para fazê-lo dividir o gelo com os grandes nomes da NHL.

Curiosamente, o confronto entre calouros e segundo-anistas colocou frente a frente Krejci e seu companheiro de linha, Wheeler. Dono de uma boa combinação de tamanho e agilidade, Wheeler foi a atração da partida, invertendo os papéis do que vinha acontecendo até aquele ponto da temporada.

"É preciso estar sempre atento quando se joga ao lado dele [Krejci], pois a qualquer momento ele pode te passar o disco de forma pouco comum. Não sei como, mas ele parece saber sempre onde estamos no gelo."

O terceiro elemento da linha possui bem mais rodagem que Wheeler na NHL, mesmo assim Ryder adota o mesmíssimo discurso quando perguntado sobre o passador:

"Ele faz jogadas difíceis de serem realizadas, então busco apenas um lugar vazio perto do gol e espero. Quase sempre ele consegue descobrir onde estou."

Ryder esteve longe da unanimidade quando foi contratado pelos Bruins. Alto custo, passado Habitant e, principalmente, pelas suas últimas duas temporadas em Montreal, onde penou. Com mais de 20 partidas ainda por jogar, o ponta já ultrapassou sua última marca em pontos como atleta dos Canadiens. Passou também de um -29 acumulados em suas últimas campanhas para um destacado +20 com o preto e dourado.

Notadamente seu melhor período como jogador dos Canadiens foi sob a tutela de Claude Julien, e não de Guy Carbonneau.

O reencontro tem sido produtivo. Na última temporada os Bruins tiveram apenas o 25.º ataque da NHL. Julien gostou do que viu em Krejci nos playoffs e apostou em um finalizador que poderia se adaptar bem ao central. O duo vem ajudando na tarefa de aniquilar a aridez ofensiva. Boston tem o segundo melhor ataque da liga com 175 gols, atrás apenas do Detroit Red Wings (177).

Como era esperado o segundo trio vem recebendo mais atenção por parte dos adversários do que no início da temporada. Felizmente, para os Bruins, poucas equipes possuem duas linhas de combate boas o suficiente para neutralizar os combos de Savard e Krejci.

O momento do time é excepcional. Muita gente pergunta os segredos dessa campanha. São muitas as respostas.

Ela começa no gol, onde Tim Thomas e Manny Fernandez, ambos em temporadas de final de contrato, parecem brigar pelos dólares futuros com muita segurança entre as traves. Até mesmo o novato finlandês Tuukka Rask brilhou, quando disputou seu único jogo, ao manter sua meta invicta contra os Rangers.

A defesa menos vazada da NHL é bruta e abusa do bom posicionamento. Se alguém falar que Dennis Wideman é hoje um dos mais sólidos linhas azuis da liga, não considere um absurdo. Zdeno Chara finalmente vem atuando de acordo com seu salário. Ele absorve um tempo de gelo monstro e por estar em uma fase exuberante, isso reflete nos resultados dos jogos.

Lá na frente Savard vem jogando tão bem que finalmente está recebendo o reconhecimento da mídia especializada. Lucic é o favorito da torcida. Um gigante nas bordas e que também não faz feio quando enfrenta tráfego pesado frente à meta inimiga. Phil Kessel, mesmo mantendo sua constante presença no departamento médico, tem a velocidade tão valorizada na NHL pós-locaute.

Até chegarmos em Krejci que, não fosse Steve Mason, goleiro sensação do Columbus Blue Jackets, poderia muito bem ser o maior fator surpresa da temporada. Um jogador oportunista, imprevisível e com muito gana de vencer. Um retrato fiel da atual versão do Boston Bruins.

Eduardo Costa lamenta profundamente a perda do grande amigo Heinz Krug Junior, uma pessoa fantástica, dessas que valem por milhões. Heinz jamais será esquecido.
Jim McIsaac/Getty Images
Com Michael Ryder e Blake Wheeler, David Krejci formou um trio de sucesso, fortalecendo o ataque do Boston Bruins.
(04/02/2009)
AP
David Krejci não consegue marcar em Carey Price, goleiro do arquirival Montreal Canadiens.
(01/02/2009)
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Página publicada em 4 de fevereiro de 2009.