"Foi o retorno do exílio para um guerreiro." Com essas palavras, o pai de Patrick Roy, Michel, resumiu muito bem qual era o sentimento dentro do Bell Centre no último sábado.

Roy jogou sua ultima partida em 2003 pelo Colorado Avalanche e no mesmo ano os Avs aposentaram sua camisa. Três anos depois o goleiro entrou para o Hall da Fama do hóquei, mas só agora, mais de 13 anos depois de seu último jogo com a camisa dos Habs, Roy teve seu número aposentado pelo time que o formou.

História nos Canadiens
Roy foi recrutado pelo Montreal em 1984, mas só estreou mesmo como um Canadien na temporada de 1985-86, quando ganhou o posto de titular e liderou o time canadense na conquista da Copa Stanley. Na época com 20 anos, Roy ainda tornou-se o jogador mais jovem a ganhar o Troféu Conn Smythe, dado ao melhor jogador da pós-temporada, e levou o apelido de Saint Patrick, carregado até hoje.

Nos anos que se seguiram, Roy foi mostrando a todos que estava lá para mudar o jeito como se joga hóquei embaixo das traves. Ele aperfeiçoou o estilo borboleta aos tempos modernos de tal forma que praticamente todos os goleiros de hoje foram influenciados pelo estilo. Além dessa influência, a garra e a vontade de vencer do goleiro também inspiraram as gerações seguintes. Tudo isso credenciou-o a ser eleito por três vezes o melhor goleiro da liga, levando o Troféu Vezina em 1989, 1990 e 1992.

Em 1993 Roy ratificou de vez sua posição de melhor goleiro da liga numa atuação magistral nos playoffs, conseguindo 11 vitórias consecutivas, vencendo dez partidas que foram à prorrogação seguidas, conquistando sua segunda Copa Stanley e, de quebra, sendo eleito mais uma vez o melhor jogador das pós-temporada. 

Em 2 de dezembro de 1995, Roy era o titular no jogo contra os Red Wings. Numa atuação medíocre, tomou gols fáceis, em lances onde defenderia o disco facilmente em uma situação normal. Insatisfeita, a torcida passou a aplaudir ironicamente sempre que ele fazia uma defesa fácil. Em resposta, o arqueiro vibrava como se tivesse feito uma defesa espetacular. O treinador do time na época, Mario Tremblay, ao invés de substituí-lo, para preservar seu principal jogador, deixou-o no gelo. Só depois de tomar o nono gol em 26 chutes é que o treinador o substituiu. Ao sair do gelo, Roy dirigiu-se imediatamente ao presidente do clube, dizendo que aquele tinha sido seu ultimo jogo em Montreal.

Três dias depois, numa transação que ficaria conhecida como "A Troca", Roy foi jogar pelo Avalanche. Naquela mesma temporada, o goleiro conseguiu sua terceira Copa Stanley. Em 2001, Roy conquistou sua quarta e última Copa, numa pós-temporada em que mais uma vez ficou com o Conn Smythe, tornando-se a primeira pessoa a ser escolhida melhor jogador dos playoffs por três vezes.

De volta pra casa
Depois de sair pela porta dos fundos em 1995, Roy voltou a Montreal literalmente pela porta da frente do Bell Centre na cerimônia que aposentou o seu número. O temor por algumas vaias foi embora quando o goleiro apareceu no estádio e foi ovacionado por mais de 20 mil torcedores, que lotaram o local para receber Roy de volta.

Roy desceu as escadas em direção ao gelo, onde um tapete vermelho o esperava, cumprimentando a torcida. No palco onde brilhou por 11 anos, uma cerimônia simples, mas bastante emotiva marcou a aposentadoria do número 33 também em Montreal. Assim, Roy tornou-se o sexto jogador a ter sua camisa aposentada por mais de um time.

Primeiro, três ex-treinadores de Roy falaram ao público: Jean Perron, seu primeiro treinador e com quem ele conquistou sua primeira Copa Stanley, Pat Burns, com quem ganhou seus três Troféus Vezina, e Jacques Demers, que o treinava na segunda vez que ele conquistou o título máximo da liga. Todos foram unânimes ao agradecer Roy por melhorar seus currículos. Além deles, estavam na platéia Pierre Lacroix, seu primeiro agente e o gerente geral do Avalanche na época da troca, e François Allaire, treinador que o ajudou a aprimorar seu estilo borboleta.

Quando foi sua vez de falar para audiência, Roy levou seus súditos ao delírio quando falou: "Hoje eu voltei para casa." Torcedor do Quebec Nordiques, franquia que ironicamente defendeu posteriormente (os Nordiques tornaram-se o Colorado Avalanche em 1995), Roy a princípio não gostou muito de ser recrutado pelos Canadiens, mas assumiu que não havia modo melhor de entrar na liga: "Ainda adolescente, eu entrei na NHL através das portas de sua estrela mais prestigiada." Por fim, agradeceu à torcida: "Um muito obrigado a vocês, torcedores, por serem tão exigentes, por esperarem que eu jogasse cada jogo como se fosse o meu último."

Para simbolizar a influência de Roy na NHL, a direção do Montreal vestiu 12 goleiros mirins em uniformes de atuais goleiros da liga nascidos na região de Quebec e que claramente foram influenciados pelo seu estilo, entre eles Martin Brodeur, Roberto Luongo, Jean-Sébastien Giguere e Marc-André Fleury.

No fim da cerimônia, com a ajuda do atual capitão dos Canadiens, Saku Koivu, e dos atuais goleiros do time, Carey Price e Jaroslav Halak, Roy desenrolou o banner que continha seu número e ergueu-o até o teto do Bell Centre, onde seu nome será imortalizado junto ao de outros, como Maurice Richard, Jean Beliveau, Guy Lafleur , Jacques Plante e outros dez grandes ídolos da história dos Canadiens e de toda a liga.

Durante seu discurso, Roy falou que saiu de Montreal sem dizer tchau do jeito que gostaria. Mas, depois do ultimo sábado, Saint Patrick conseguiu mais do que se despedir corretamente: conseguiu dizer olá novamente para a torcida que tanto o idolatrou.

• Capa
• Editorial
• Faceoff
• Prorrogação
• Azedando um centenário
• Como os gerentes suicidam-se
• O novo dono do mundo
• A bruxa solta ataca goleiros da NHL
• Um retorno histórico
• Dá-lhe, Dallas!