Por: Daniel Novais

Dia desses eu estava navegando por blogs do Ottawa Senators — como costumo fazer em situações de tédio extremo — e me deparei com uma notícia no The 6th Sens. Vale ressaltar a qualidade das análises feitas pelos donos do blog em relação aos jogadores da franquia da capital canadense.

Mas, nesse dia, eu me deparei com um dos tópicos mais interessantes que já li. Em resumo, para os que tiverem preguiça de dar uma olhada, ele faz um histórico de como a assinatura de um contrato estratosférico com o famoso — pelas razões erradas — Alexandre Daigle provocou a limitação por parte da liga sobre os valores dos contratos de entrada oferecidos aos calouros. No texto o autor inclusive cita os valores — US$ 850 mil para recrutados em 2005 e 2006, US$ 875 mil para recrutados em 2007 e 2008, US$ 900 mil para 2009 e 2010 e US$ 925 mil para recrutados em 2011).

Essa era uma excelente forma de se evitar que a liga se afundasse em um buraco de salários astronômicos sem renda suficiente para sustentá-los. Mas o problema viria posteriormente.

Numa era de teto salarial, vários fatores passaram a ser levados em conta para assinar o contrato de um jogador. Idade, salário, duração de contrato deixaram de ser verificados apenas por parte da liga e passaram a fazer parte das exigências básicas para se gerenciar até mesmo o NY Rangers. O grande problema é que esqueceram de aplicar as mesmas regras para os recém-recrutados e alguns prospectos em ascensão.

Vamos voltar ao blog. Lá é mencionado o impacto dos salários dos recém-recrutados que estão atuando em seus respectivos times principais:

1) Steven Stamkos - US$ 3,725 milhões
2) Drew Doughty - US$ 3,475 milhões
3) Zach Bogosian - US$ 2,725 milhões
4) Alex Pietrangelo - US$ 2,225 milhões
5) Luke Schenn - US$ 2,225 milhões

Ora, se o salário base teria que ser de US$ 875 mil para a classe de 2008, por que esses valores estratoféricos? Simples, os gerentes gerais parecem ter encontrado uma forma de "burlar" a regra, entupindo os contratos desses novatos de bônus por produção.

Tudo bem, o dinheiro não necessariamente será pago, mas ainda assim conta contra o teto salarial. Mas se considerarmos que estamos falando de meninos de 18 anos, sem qualquer experiência de NHL em sua vida, é possível constatar que estão tomando um espaço da folha maior do que o esperado para calouros.

Aprofundando um pouco mais o assunto, vamos pegar alguns números extras. Abaixo alguns jogadores do Tampa Bay Lightning e seus respectivos impactos salariais.

1) Vincent Lecavalier - US$ 6,875 milhões
2) Martin St. Louis - US$ 5,25 milhões
3) Ryan Malone - US$ 4,5 milhões
4) Andrej Meszaros - US$ 4 milhões
5) Steven Stamkos - US$ 3,725 milhões
6) Vaclav Prospal - US$ 3,5 milhões
7) Radim Vrbata - US$ 3 milhões
8) Olaf Kolzig - US$ 2,5 milhões
9) Gary Roberts - US$ 2,07 milhões
10) Jeff Halpern - US$ 2 milhões

Sim, o calouro recém-chegado já possui o quinto maior impacto salarial da franquia de Tampa Bay. Apesar disso, Stamkos até agora só conseguiu marcar dois gols, ambos em um mesmo jogo. Na há qualquer dúvida de seu potencial para dominar a liga em anos futuros, mas tal contrato, de certa forma, não acaba algemando a própria franquia, que terá ainda menos espaço para contratar algum reforço de peso e que realmente possa ter impacto imediato?

Vamos para o segundo exemplo: o badalado defensor Drew Doughty. Usando a mesma referência, Doughty é o defensor mais bem pago do Los Angeles Kings, terceiro se considerados todos os jogadores. E, sim, está na frente de Kopitar e Johnson. Para colocar as coisas em perspectiva, o seu salário com bônus é apenas US$ 25 mil menor do que o de Chris Phillips, defensor número 1 dos Senators. Ah, e lembra do Finger, aquele pouco conhecido defensor com contrato astronômico e absurdo dos Leafs? Pois é, o seu salário é US$ 25 mil maior para uma produtividade semelhante.

Então, onde eu quero chegar? É simples. Não tenho qualquer dúvida da capacidade de Stamkos e Doughty de ser dois dos jogadores mais dominantes da liga, ao modelo de Crosby, Ovechkin ou Pronger. Mas, o que vem ocorrendo com esses jogadores é o grande contrato antes mesmo de apresentar a que veio na liga.

No longo prazo, isso pode nos levar a um novo locaute. Maus gerentes, ao ofertar mundos e fundos por jogadores, estabelecem um patamar de expectativa dos outros jogadores — e seus respectivos agentes — com valor e idade equivalente, se tornando valor de referência. O resultado disso é que aqueles jogadores em desenvolvimento, fundamentais para uma franquia estruturada para ser campeã por ter salários abaixo da produção apresentada, podem se tornar uma espécie em extinção dados os valores de contratos oferecidos.

Se somarmos tudo isso à previsão de redução do teto em cerca de US$ 1 milhão para a próxima temporada, mesmo com a crise ainda não tendo todos seus efeitos sentidos, o futuro não parece tão brilhante como antes.

Como destruir uma franquia nas férias

Mudando um pouco o foco, mas sem sair do tema "fatores necessários para construir uma franquia campeã", vale a pena falar aqui um pouco sobre os Blackhawks.

Não há dúvida de que essa franquia possui um dos grupos mais dinâmicos e jovens em toda a NHL. Kane e Toews são peças garimpadas uma vez a cada dez anos — bem, exceto se você torcer para os Red Wings.

Porém as ações de gastar quase US$ 13 milhões por mais quatro temporadas com dois jogadores sobrevalorizados do mercado de agentes irrestritos (Campbell e Huet) pode ter atrapalhado fortemente as chances da franquia de brigar pelo título em próximas temporadas.

A ação dos donos da franquia é compreensível. Os Hawks só tiveram uma única oportunidade de sentir o gosto de uma série de playoffs na última década, e isso ocorreu na longínqua temporada de 2001-02.

Porém, a meta de chegar aos playoffs imediatamente poderia ser atingida com contratações de prazo mais curto. Especialmente no gol, a necessidade de Huet se mostrou nula até o presente momento.

Kane e Toews se tornam agentes restritos daqui a duas temporadas e assiná-los deve custar um belo aumento. Barker já precisará ter contrato renovado na próxima temporada, e daqui a mais três é a vez de Seabrook. Todos esses resultarão em um aumento de folha considerável para a manutenção da base intacta nos próximos três ou quatro anos, quando esse grupo estiver maduro o suficiente para brigar pelo título.

O problema é que, nesse exato instante, os Hawks não terão flexibilidade financeira, seja para manter o seu forte grupo ou até para adquirir um grande reforço para dar o impulso final na luta pelo título, pois ainda estarão atados valores exorbitantes a Huet e Campbell.

Pior ainda: será que, quando esse grupo tiver jogando no seu potencial, Huet ainda será o titular no gol? E Campbell, ainda será um defensor da principal linha, para valer o seu salário?

Acredito que não, especialmente no caso do veterano goleiro, que deve ceder espaço para Antti Niemi, goleiro finlandês que vem apresentando excelentes números na AHL e deverá assumir o posto de titular em 2010-2011 no mais tardar, especialmente se Huet continuar sendo o fiasco atual.

O que me parece é que a situação de 2005 se repete em Chicago. Na época, os Hawks fizeram altos investimentos na aquisição de Khabibulin e Aucoin (Adrian, atualmente nos Flames). Ambas as contratações acabaram se mostrando fiascos.

Curiosamente, também naquela situação, era o caso de um defensor e um goleiro sobrevalorizados.

Fica então mais uma vez a lição dada pelos dois finalistas da última temporada, que seguem dando um show de gerenciamento. Os Red Wings, ao assinar por apenas um ano a sua única grande contratação do mercado de agentes livres (Hossa), permitiram que a equipe segure seus principais nomes (em especial Zetteberg). Os Penguins, que assinaram por apenas um ano com Fedotenko e Satan, estão cientes dos aumentos esperados para manter Malkin, Fleury e, potencialmente, Staal e Sykora.

Daniel Novais acha que a NHL é como uma mula: você pode até endireitá-la para fazer as coisas certas, mas ela fatalmente desandará se não for mantido o controle.
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Página publicada em 26 de novembro de 2008.