Por: Michael Farber

O calendário marcava ontem nos Estados Unidos o Dia da Lembrança, mas pareceu mais o Dia da Marmota.

Avise-me se você já ouviu isto antes: o Detroit Red Wings coloca alguns discos atrás do goleiro do Pittsburgh, Marc-André Fleury; joga com mais garra e domina os Penguins, ao menos se avaliarmos por trancos sísmicos e não o quase Bertuzziano (e não-penalizado) soco pelas costas de Gary Roberts no terceiro período em Johan Franzen, do Detroit, que estava voltando depois de ficar fora de seis jogos por concussão; viu o rejuvenecido goleiro Chris Osgood não ter de encarar um chute em igualdade numérica até 25:24 terem se passado; pressionou Evgeni Malkin, deixando o incrivelmente encolhido central russo e sua linha número 2 sem um chute sequer; não permitiu que o Pittsburgh trabalhasse o disco com velocidade na zona central ou conseguisse estabelecer qualquer tipo de marcação; e começou a gravar uma placa em homenagem ao ponta esquerda Ryan Malone, do Pittaburgh, a ser colocada no banco de penalidades dos visitantes na Joe Louis Arena, para marcar suas quatro penalidades cometidas.

Depois de um furioso jogo de dança das cadeiras com seus pontas esquerdas depois da goleada por 4-0 no jogo 1, os reestruturados Penguins, que não sofriam shutouts consecutivos desde fevereiro de 2003, chegaram para o jogo 2 e viram sua própria sombra. Agora, podem ter sobrado apenas dois jogos em sua temporada.

O som que você ouviu depois da vitória por 3-0 do Detroit ontem foi o dos norte-americanos desligando suas trasnmissões do jogo pela Versus, ao menos aqueles que conseguiram achar o parceiro subterrâneo da NHL. A NBC, emissora aberta, assume as finais da Copa Stanley a partir do jogo 3, o que dá a impressão de que ela está comprando o direito de transmitir o filme Titanic, mas só depois de o navio já ter submergido pela metade. Ainda assim, a qualquer momento um anúncio na grade de programação vai proclamar:

"Veja Sidney Crosby, o futuro da NHL, tentar escapar da camisa-de-força do Detroit Red Wings! Harry Houdini conseguiu; por que Sid não conseguiria? Conseguirão os Penguins ganhar um jogo? Conseguirão os Penguins marcar um gol? Assista ao vivo quarta-feira, na NBC."

É claro que já houve inícios soporíferos de finais da Copa Stanley nos últimos anos, incluindo um par de shutouts por 3-0 nos dois primeiros jogos do embate de 2003 entre Anaheim e New Jerseym quando aparentemente os Mighty Ducks não foram informados de que as finais tinham começado. Os Ducks recuperaram-se em casa e a série até chegou aos sete jogos, mas a diferença foi que esses times não eram muito cativantes e operavam em cidades menores (uma rápida lição de geografia: New Jersey não é Nova York, e Anaheim não é Los Angeles). Esta final é badalada, cinco anos e um locaute depois daquele Devils-Ducks, apresenta dois times bastante talentosos e com inegáveis estrelas — Crosby e Malkin contra Henrik Zetterberg e Pavel Datsyuk — e, ao menos antes de estes "contra-tempos" começarem, parecia capaz de produzir um hóquei ousado e memorável. A NHL precisava de uma longa e empolgante série entre um dos Seis Originais com dez Copas Stanley no currículo e um "princípio de dinastia". O cenário perfeito seria um jogo 7 decisivo, que atrairia uma audiência que apareceria por uma noite, sem ter que se importar em investir emocionalmente em um esporte que infelizmente é caracterizado por muitos norte-americanos como exótico.

Como observou Osgood depois do jogo 1, os Penguins não tiveram de encarar um time como o Detroit na Conferência Leste, um que consegue segurar o disco com decisão e constrói jogadas conscientes e inteligentes. Mas não é só a capacidade do Detroit de fazer o adversário persegui-lo ao longo do jogo que limita as chances de gol deste — o Pittsburgh teve 22 chutes a gol no jogo 2, depois de meros 19 na abertura da série —; são as transições rápidas executadas pelos dois principais pares defensivos (Nicklas Lidström e Brian Rafalski, Brad Stuart e Niklas Kronwall) e uma disposição do time inteiro em bloquear chutes e isolar rebotes.

"Eles não dão muito espaço", disse Jarkko Ruutu, da quarta linha dos Pens. "Temos de ter um pouco mais de vontade, chutar a gol e criar chances assim. Não vai ser um chute perfeito em uma jogada perfeita. Quando saem na frente, é fácil para eles jogar. Eles têm um bom esquema. Não conseguimos marcar gols, apesar de criarmos algumas chances."

"Definitivamente, eles são o time mais completo que enfrentamos atpe agora, em termos de equipe", definiu o defensor Rob Scuderi. "Eles não cometem muitos erros. Já passamos por isso antes, mas não de maneira tão extrema. Temos de nos ajustar. Temos de começar a gerar chances nos círculos e na boca do gol. Eu nunca imaginei que fosse possível [não marcarmos gols em dois jogos] com o talento [que temos]; você sempre acha que um golpe de sorte em um rebote ou um chute [vai entrar]. Estamos surpresos. Chegamos aqui esperando ao menos uma vitória. Agora não há nada mais que possamos fazer. Podemos nos lamentar e ir mal no jogo 3 ou nos recompor e voltar com um bom esforço em Pittsburgh."

O técnico Michel Therrien observou que os Penguins estão voltando para casa, um lugar onde são "difíceis de se enfrentar". De volta à Pensilvânia, os Pens vão estar em um estado mais confortável do que o em que se encontravam ontem — estado de negação. Neste instante, o Pittsburgh está convencido de que só precisa marcar o primeiro gol, e a série vai sofrer uma reviravolta. Que tal pensar um apenas um gol?

Michael Farber é colunista do site SI.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 27 de maio de 2008.