Foi a melhor partida que já vi de Valteri Filppula. Geralmente um bom
jogador de segunda ou terceira linha, daqueles que atacam e defendem
com solidez, Filppula parecia inspirado ontem. Ofensivamente parecia
elétrico, vencendo a maioria das disputas pelo disco nas bordas (a rigor,
todo o time do Detroit venceu a maioria dessas disputas) e organizando
ataques perigosos.
O primeiro gol, num tiro de Brad Stuart que Marc Andre Fleury mal viu
e não conseguiu defender, foi resultado de jogada organizada por ele.
O gol que fechou o caixão do jogo, o terceiro, foi uma belíssima jogada
individual também dele, Filppula.
Mas Filppula não foi exatamente a razão da vitória de ontem. Nem mesmo
Chris Osgood, com seu segundo shutout consecutivo (e aqui cabe uma retratação
em relação à edição passada: no jogo 1, Osgood obtivera seu segundo
shutout nos playoffs, e não primeiro — créditos ao amigo Cauê,
em nossa comunidade no orkut) e suas defesas providenciais — boa
parte delas devido a um ótimo posicionamento.
A razão da vitória no jogo 2 foi a mesma do jogo 1: o Detroit Red Wings
foi muito superior, dominando praticamente o jogo inteiro. Dominando
o disco, dominando as ações, vencendo a maioria das brigas nas bordas,
abrindo o placar e cozinhando o jogo quando necessário.
Quando o Pittsburgh Penguins mais ameaçava, nas vantagens numéricas
(VNs), o time especial dos Wings (inclusive Osgood) aparecia tão bem
que negava qualquer sobrevida ao adversário.
Retrato do domínio: os Pens levaram nada menos que doze minutos para
disparar a gol — e isso só aconteceu graças à primeira VN do time
no jogo. O primeiro disparo a gol jogando 5-contra-5 saiu aos cinco
minutos do segundo período!
Outro retrato: num determinado momento do jogo, ainda no segundo período,
com 2-0 para o Detroit no placar, o coitado do defensor Andréas Lilja
se desequilibrou quando ia dominar o disco na zona defensiva dos Red
Wings, caiu e provocou uma situação em que ficaram dois atacantes dos
Pens na cara de Osgood. Era a chance de diminuir o placar e alterar
o panorama da partida e das finais. Os dois na cara do gol, sem defensores,
apenas Osgood. Mas Gary Roberts e Jordan Staal não conseguiram marcar.
Nem assim.
A matemática banal nos ensina que você precisa fazer gols para vencer
um jogo. Para fazer gols, você precisa disparar a gol. Do jeito que
jogou nesses dois primeiros jogos, os Pens não vencerão jogo algum contra
os Red Wings, salvo algum milagre.
O Detroit, ao contrário, segue encontrando o caminho. Thomas Holmstrom
e Henrik Zetterberg marcaram, praticamente em conjunto, o segundo gol
da noite. Tal qual o primeiro, o disco foi disparado, amortecido por
Fleury, mas, ainda assim, seguiu em direção ao gol. Para garantir que
entrasse logo, Holmstrom adiantou-se ao defensor dos Pens e empurrou
pra dentro do gol. Dali em diante ainda havia vida para os Pens, ainda
que de forma parca. A vida acabou no gol de Filppula.
O Detroit contou também com a ajuda de jogadores como Ryan Malone, que
cometeu uma penca de penalidades, uma delas matando justamente uma chance
de VN do próprio time, justamente num momento crucial quando o Pittsburgh
perdia por 2-0. Malone apenas adiantou o caminhão de frustrações dos
jogadores dos Penguins, extravasado cada vez mais ao longo do terceiro
período. Até mesmo um jogador experiente como Gary Roberts se descontrolou
e deu um soco não penalizado na cara de Johan Franzen.
O jogo 1 provocara um estrago tão grande que o técnico dos Penguins
decidiu fazer mudanças em todas as linhas. Vejam bem, por conta de um
jogo, todas as linhas foram mexidas. Adiantou alguma coisa? Não. A linha
de Sidney Crosby seguiu lutando o jogo inteiro, mas sem sucesso. A linha
de Malkin passou de ineficaz a problemática: nenhum disparo a gol e
-2. A favor dos Penguins apenas o mau aproveitamento do Detroit nas
VNs: zero em oito chances.
Já são dois jogos sem marcar gols, e estamos falando dos Penguins, time
conhecido por marcar gols aos montes. Resta verificar se em Pittsburgh
a postura da equipe muda. Sobretudo a jovem equipe terá pela frente
um tabu: dos 31 times que abriram 2-0 em casa nas finais da Copa Stanley,
30 foram campeões. Os tabus estão aí mesmo para serem quebrados, mas
o panorama atual não favorece e nem indica isso, muito pelo contrário:
atualmente cheira a varrida.