Este artigo inicia uma série de colunas sobre grandes jogadores da história da NHL a jamais vencer uma Copa Stanley. E para abrir a série, ninguém melhor que Dino Ciccarelli, um dos melhores jogadores a patinar nos rinques da América do Norte nos anos 80 e 90, ícone da saudosa franquia Minnesota North Stars.
Dino começou sua carreira em clubes pequenos de Sarnia, sua cidade natal na província de Ontário. Após passagens pelo Sarnia Army Vets e pelo Sarnia Bees, o jovem ítalo-canadense largou o ostracismo de equipes menores para despontar na fábrica de craques London Knights. Na explosiva franquia que já havia revelado ao esporte o lendário Darryl Sittler, Dino protagonizou quatro temporadas históricas e se firmou como um dos melhores jogadores desta franquia juvenil — e olha que os Knights têm, em seu currículo, nomes como Scott Campbell, Brendan Shanahan e
Steve Smith, além dos jovens promissores Rick Nash, Corey Perry e Sam Gagner. Em sua primeira temporada, 1976-77, levou a franquia à decisão da Copa J. Ross Robertson, perdendo para o Ottawa 67's. Em seguida, estrelou a sua melhor temporada regular em London, assinalando 142 pontos em 68 jogos — 72 gols e 70 assistências.
A Grande Sensação de 1981
Em sua terceira temporada pelo London Knights, em 1978-79, Ciccarelli, então com 16 anos, sofreu uma grave fratura na perna. Havia expectativas de que Ciccarelli entrasse no recrutamento da NHL naquele mesmo ano. A fratura impediu que a jovem promessa realizasse sua sonhada inscrição. Um ano depois, de volta aos rinques, completou mais uma temporada pelos Knights e, encerrada a pós-temporada da OHL (à época chamada OMJHL), assinou contrato como agente livre com o Minnesota North Stars. Jogou o restante da temporada 1979-80 da Central Hockey League com o Oklahoma City Stars, equipe filiada aos North Stars. Passada metade da temporada regular de 1980-81, onde em 48 jogos pelo Oklahoma City Dino já havia somado 57 pontos, o ítalo-canadense ganhou sua chance no time principal.
De cara, em 32 partidas, Ciccarelli marcou 30 pontos e ajudou os Stars a se garantirem na pós-temporada. Junto com a franquia verde-ouro, avançou à decisão da Copa Stanley marcando 21 pontos, sendo 14 gols e sete assistências, nos 19 jogos disputados. O jovem Dino se mostrou um proeminente goleador e passou a ter todos os holofotes da Liga voltados para si. Na alvorada dos anos 80, Ciccarelli era, ao lado de Wayne Gretzky, a grande promessa da NHL para igualar-se a nomes como Gordon Howe e Bobby Hull, que haviam se despedido naquele mesmo início de década.
O estilo goleador de Ciccarelli era encorpado por seu jeito consistente e ousado de jogar. E foi essa postura no rinque, sempre subindo ao ataque, sempre próximo à área dos goleiros adversários, sempre disposto a se arriscar cometer interferências e faltas para marcar seus gols, que consagrou Ciccarelli ao longo da década à frente do North Stars. Sua temporada seguinte ao sucesso do vice-campeonato na Copa Stanley foi marcada por 106 pontos, considerada a melhor do ítalo-canadense no estado do hóquei. Repetiu o sucesso com 103 pontos em 1986-87 — que não foram suficientes para levar os Stars à pós-temporada. Em 1989, encerrou suas nove temporadas em frente aos Stars. Em março Dino foi trocado com o Washington Capitals, numa transação que mandou para a capital estadunidense o defensor Bob Rouse e trouxe da Casa Branca o atacante Mark Gartner e o excelente defensor Larry Murphy. Dino deixava em Minnesota gols, saudades e três participações em Jogos das Estrelas: 1982, 1983 e 1989.
A carreira após o auge
Em Washington, Dino mostrou de cara a que veio. Marcou 12 gols e 15 pontos nos últimos 11 jogos da Temporada Regular e guiou os Caps à pós-temporada. Teve brilho ainda em 1989-90 e em 1991-92, mas as coisas nos Capitals não foram tão bem quanto em Minnesota. Os constantes fracassos da franquia da capital na luta pela Copa Stanley obrigava o elenco a ser mexido frenqüentemente. Em 1992 essa mudança foi liderada pela saída de Ciccarelli. O ítalo-canadense foi despachado para um lugar onde gente com o sangue parecido com o seu já havia feito muito sucesso: Detroit.
Na cidade motor, já patinando a caminho de tornar-se um veterano, Dino teve uma boa temporada de estréia e marcou 97 pontos nos 82 jogos da Temporada Regular. Permaneceu mais três temporadas em Detroit, viveu a decepção de perder mais uma Copa Stanley, em 1995, para o New Jersey Devils e, em 1996, sua última temporada vermelha, presenciou a explosão do Colorado Avalanche e os eventos que deram início à rivalidade que se instalaria entre as duas franquias.
Depois de despedir-se dos Wings no famoso Jogo 6 das finais de Conferência de 1996, contra o Avalanche, Ciccarelli jamais jogaria outra pós-temporada. Rumou para a Flórida, onde contusões atrapalharam o final de sua brilhante carreira. Passou duas temporadas em Tampa e encerrou seu ciclo nos rinques da NHL no Florida Panthers.
Seu legado consiste em 1200 pontos apenas em temporada regular, sendo 608 deles gols inesquecíveis. Sua camisa no London Knights, a 8, foi merecidamente aposentada, e, ainda na OHL, comprou em 1994 a franquia Sarnia Sting, junto com seu irmão Robert. Os dois tocam a franquia pra frente até hoje, onde Dino é uma inspiração aos jovens que sonham em, um dia, realizar o feito que ele não foi capaz: levantar a Copa.
Como a abertura do artigo aponta, Ciccarelli é considerado pelos especialistas um dos maiores jogadores da NHL a jamais ter ganho uma Copa Stanley.