Parte I - O Complexo Sloteano
Para desespero de muitos e alegria de poucos, TheSlot.com.br se aproxima dos seis anos de vida. Se por um lado isso mostra que o tempo corre muito rápido quando se tenta dominar o planeta hóquei, vemos também que ainda faltam longos doze anos para atingirmos a maioridade e sermos responsabilizados juridicamente pelos nossos atos. Até lá... salve-se quem puder.
Portanto os amigos nobres e queridos, que possuem boa estima por esta publicação, terão ainda uma dúzia de Copas Stanley recebendo nossa cobertura. Já quem odeia a TheSlot.com.br pode ir queimar na fogueira dos ímpios enquanto espera, em vão, nossa derrocada final!
E para festejar estes tenros seis anos, colocaremos em nossas ilustres páginas matérias pertinentes à história da única revista sobre hóquei no gelo do hemisfério sul. O surgimento, a proposta, os integrantes acéfalos, os grandes momentos, as reportagens mais polêmicas, os aliados e inimigos, as edições mais significativas, as capas mais belas e até mesmo uma entrevista exclusiva e reveladora com o editor-chefe Alexandre Giesbrecht. Um material tarja preta, sem dúvidas.
E para começar apresentamos nosso quartel general, o muito comentado, porém pouco conhecido, complexo Sloteano, onde idéias, nem sempre brilhantes, ganham vida e se transformam em alucinógenas e complexas crônicas.
E sequer precisarei escrever sobre este assunto, porque nesse último final de semana, Gabriel Schünddler, jornalista do Tribuna do Colono, da pacata cidade de São Cristóvão do Sul, Santa Catarina, visitou o lugar sacrossanto.
Deixamos aqui nosso agradecimento à Tribuna do Colono e ao Sr. Schünddler, por permitirem a cópia parcial da reportagem.
Um contratempo comum à maior metrópole do país me fez perder o Jogo das Estrelas dos novatos e as competições de habilidade das feras da liga nacional de hóquei norte-americana. As quais eu assistiria em um local onde se respira esse esporte com intensidade destacável.
Com São Paulo se movendo lentamente devido a quilômetros de congestionamento, acabei chegando com três horas de atraso no bairro de Pinheiros, onde se situa o Complexo Redatorial Darius Kasparaitis — um edifício de 27 andares, de arquitetura desafiadora e aspecto pouco atrativo.
Embora tenha analistas espalhados por várias regiões do Brasil, é aqui onde todas as colunas se encontram e ganham o caminho do parque gráfico — localizado no subsolo do mesmo complexo. E com o JDE da NHL sendo disputado neste final de semana, boa parte dos jovens que fazem da TheSlot.com.br o site mais bem sucedido sobre a modalidade por essas bandas se encontravam no ambiente.
Logo no Hall de entrada vejo pôsteres dos grandes " ídolos Sloteanos". Seu Aguiar, o porteiro, me fala orgulhoso sobre os logros dos homenageados. De Ron Francis a Saku Koivu, passando por outras lendas do esporte. Fascina-me que até mesmo o porteiro do complexo tenha um entendimento tão grande sobre o assunto, mas ele logo me explica que ter conhecimento sobre a NHL e seus grandes destaques é requisito básico para conseguir um emprego ali.
Enquanto me atende, Aguiar tenta também lidar com centenas de jovens fãs que vão todos os dias caçar autógrafos na entrada do complexo. Entre eles um que, vestindo a camisa do Tampa Bay Lightning, jurava ser filho do chefe da sucursal carioca, Marcelo Constantino. Um outro garoto, incrédulo e debochado, soltou um "sim, e eu sou filho do John Buccigross...". O suposto filho de Constantino, irritado, se atracou com o novíssimo desafeto. Paixão e entrega genuinamente Sloteana presente até mesmo nos pequeninos leitores.
Rapidamente recebo meu crachá de livre acesso aos outros setores e ganho a companhia da guia oficial do complexo, Mariana, uma jovem estagiária de 17 anos ainda incompletos. A bela, dona de um corpo escultural e sorriso desconcertante, me responde negativamente quando pergunto se ela também conhece hóquei a fundo. E completa dizendo que por terem certas habilidades orais e pouco juízo, as estagiárias da revista sequer precisam saber o que é um faceoff. Pelo visto a teoria do Sr. Aguiar não se aplica a pessoas atrativas do sexo feminino.
Em vez de subir, descemos alguns lances de escada e chegamos ao parque gráfico.
Longe de ser moderno, distante de decente, a milhas do que existe até mesmo do mais simplório. Mas, pelo menos, o maquinário funciona, já que a TheSlot.com.br nunca deixou de ir ao ar por um período considerável de tempo — com exceção do locaute que extirpou toda a temporada 2004-05.
E entre ferrugem e restos de edições antigas da revista pornográfica "O Coito" — que, assim como TheSlot.com.br e TheCurling.com.py, também são produzidas nesse parque gráfico —, avistamos a gigantesca figura de Jacob Mendonça.
Quem não se lembra do memorável jogo do hóquei de rua entre integrantes e leitores da revista há alguns anos, quando Jacob literalmente fechou o gol de sua equipe?! Mas ele não quis falar com a Tribuna do Colono porque ficou sabendo que, em nossa resenha sobre aquele épico encontro, criticamos a escalação de um goleiro de massa adiposa tão generosa, que anulava completamente a possibilidade de uma adversário tentar o five hole.
Deixei aquele ambiente com um sentimento estranho: como poderia sair daqueles equipamentos sucateados e há muito obsoletos a mais magnífica publicação de hóquei destas bandas?! Parte da fábula se quebrou, mas ainda existia muito crédito na conta Sloteana em meu conceito; e a visita dos sonhos apenas começava.
Agora subindo. Já no terceiro andar conheço a sala de projeção Mike Bossy, também conhecida como teatro dos sonhos em jogos dos Red Wings, Senators, Penguins, etc., ou câmera dos amaldiçoados em jogos dos Maple Leafs — mesmo que exista mais simpatia do que o contrário em relação aos Leafs neste recinto, é inegável que o produto apresentado no gelo pela mais popular equipe da NHL é realmente muito pouco atrativo no momento.
É nesta sala que alguns membros da revista absorvem conhecimentos táticos e detalhes praticamente inatingíveis para mentes comuns. É nesse recinto que parte da magia da revista acontece. E, de acordo com Mariana, algumas orgias também! Nossa guia se lembra particularmente de uma que envolveu, além dela, a atriz Samara Fellippo e Jacy Borreaux. "Foi selvagem, fiquei semanas sem poder sentar...", disse a jovem.
Me atendo apenas aos fatos hoqueísticos, fiquei preciosos minutos olhando para aquele telão Telefuken 14" e imaginando quantos jogos clássicos, quantas batalhas memoráveis e as inúmeras finais de Copa Stanley aquelas paredes não haviam visto. Provavelmente nenhuma já que paredes são construções inanimadas...
Dois andares acima conheci o editor-chefe Alexandre Giesbrecht, que como o cargo leva a supor, é o atual n.º 1 na hierarquia da revista.
Indivíduo de fala fácil, que utiliza com maestria a língua portuguesa — apesar do acento genuinamente paulistano —, Giesbrecht se mostra animado com a idéia de ver o projeto do qual faz parte ser assunto de uma reportagem — mesmo que para um veículo do qual nunca ouviu falar.
Na mesa do editor-chefe, vi a edição comemorativa dos 60 anos da The Hockey News, além de algumas edições da conceituada Sports Illustrated e a edição do dia do Estadão. Não menos curioso notamos também um pôster de Eddie Verder junto a um quadro com algumas das capas de TheSlot.com.br.
Entre estas capas "selecionadas" me chama a atenção uma das mais fortes da história da revista, a que trazia o impiedoso título "Yellow Wings". Giesbrecht diz que, apesar desse nunca ser o objetivo da publicação, esperava-se certa hostilidade vindo dos leitores que torcem pelo time de Detroit, mas o retorno foi uma aprovação maciça, "Constantino colocou, além de informação, é claro, alguns sentimentos que eram largamente compartilhados pelos vermelhos e isso fez daquela edição, capa e coluna um marco," afirmou Giesbrecht.
Mas o mais estranho mesmo é um pôster de um atleta com a camisa dos Rangers, cuja face está toda furada por obras de dardos. Irreconhecível mesmo. Notando minha curiosidade, o déspota Sloteano se adianta e diz se tratar de Adam Graves. Como nunca escondeu que é um ferrenho torcedor do time de Pittsburgh, aparentemente Giesbrecht ainda não superou o episódio em que o ex-jogador dos Rangers quebrou, deliberadamente, a mão do ídolo máximo Mario Lemieux, com uma tacada no jogo dois das finais da Divisão Patrick em 1992.
Após um telefonema, o homem forte da publicação diz que precisa se ausentar por uns minutos. Aproveito para bater ponto na redação. Foi quando conheci outros colunistas da revista. Definitivamente um grupo de incansáveis humanos — ou coisa parecida — que deixaram vidas de conforto e prosperidade para poder levar às massas um conteúdo brilhante e original. Óbvio que ter o status de celebridade e ser desejado pelas mais belas modelos deste país também contribuem para a escolha.
Eles têm jarras de cerveja sobre a mesa e recebem "agrados" de mulheres de beleza exótica enquanto escrevem sobre hóquei. Em vez de analisarem o trio ofensivo do Fluminense ou duvidarem da sexualidade de algum atleta do São Paulo, eles debatem sobre Brandon Dubinsky ou a equipe de vantagem numérica dos Canadiens. Via teleconferência, Thiago Leal pede a ficha completa de Ryan Hollweg e é prontamente atendido. É como o Éden hoqueístico.
Quando fico frente a frente com Humberto Fernandes, quero saber como anda a saúde da revista, já que o mesmo acumula os cargos de colunista sênior, diagramador e tesoureiro. Segundo Fernandes a TheSlot.com.br está tão saudável quanto Kurt Cobain.
Mas... um momento. Cobain não morreu há mais de uma década? "Sim, isso mesmo," para em seguida completar, "estamos no buraco, precisamos de um suporte urgente. Seria ótimo se cada um de nossos leitores pudesse doar R$ 1,00 por mês para a revista, então teríamos R$ 12,00 mensais para investir em nosso projeto."
Infelizmente, após quatro horas intensas, minha visita estava chegando ao final. Ciente que eu teria que pegar as congestionadas marginais paulistanas rumo ao aeroporto internacional de Guarulhos, Alexandre Giesbrecht ofereceu uma carona. Então acabei conhecendo o Heliporto Anze Kopitar, de onde pegamos, óbvio, o helicóptero Golden Brett de TheSlot.com.br. Sobrevoando a cidade, pessoas reconheciam a aeronave pelo logotipo da revista estampado na lataria e acenavam. Mulheres tiravam suas roupas. Alguns humanos ajoelhavam e pediam graças.
Foi um dia inesquecível. Uma experiência que um dia contarei para meu filho, porque o sentimento pela TheSlot.com.br é como paixão clubística, deve ser passado de geração para geração. Aquele infeliz só não vai ficar com minha coleção da revista, porque essa eu carrego pro túmulo.
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