Por: Alexandre Giesbrecht

Não há dúvidas de que o teto salarial fez um bem danado à liga. Ao menos por enquanto, já que, se no futuro o teto ficar alto demais, podemos acabar voltando a uma situação muito parecida à que tínhamos antes. Mas no futuro próximo as coisas tendem a ser benéficas para a liga.

Como em todo remédio supostamente milagroso, há alguns efeitos colaterais. Felizmente, no caso da NHL a coisa se limita a detalhes, como o sufoco por que passaram os Ducks para se adequar abaixo do teto no começo de 2007-08, o que faria com que o time perdesse o goleiro Ilya Bryzgalov sem receber nada em troca, por exemplo. Outro caso que ganhou as manchetes na última semana foi o dos Sabres.

O caso em questão é o que fazer com Brian Campbell. Não que o defensor esteja pedindo algo muito próximo do teto ou mesmo que o Buffalo não tenha um grande espaço para negociação. A questão não é essa. Mas tem a ver com o teto salarial.

No fim da última temporada, venceram os contratos dos atacantes Chris Drury e Daniel Brière. Depois de um ano com ótimos números, era de se esperar que alguns times oferecessem um belo caminhão de dinheiro para cada um deles, além de alguns rins e bebês recém-nascidos do sexo masculino, bastante valorizados na China. Também era de se esperar que os Sabres não fossem conseguir superar ou mesmo igualar tais ofertas. No máximo, talvez ficassem com um dos dois.

Pois bem: os Rangers assinaram com Drury e Brière foi para a Filadélfia. PAra piorar as coisas, poucos dias depois os Oilers ofereceram outro caminhão de dinheiro para Thomas Vanek. Como Vanek era agente livre restrito, os Sabres tiveram a oportunidade de igualar a oferta. E, no desespero, igualaram-na. Após perderem seus dois principais atacantes, não poderiam perder outro destaque ofensivo.

Com isso, os Sabres, favoritos ao título ao longo de boa parte da temporada passada e finalistas do Leste, despencaram na bolsa de apostas. O time ainda tem boas chances de classificar-se aos playoffs, mas passar da primeira fase não será nada fácil. Faltam estrelas de primeira grandeza ao time. Pena que um dos maiores ídolos da nossa redação, o ponta Andrew Peters, não se encaixe nessa definição.


É aí que entra Campbell na equação. Ele está longe de ser uma estrela de primeira grandeza, mas é um defensor confiável, tem sido uma das bases da defesa em Buffalo, contribui bem no ataque — até terça-feira, ele era o oitavo artilheiro entre os defensores — e, aos 28 anos, ainda é razoavelmente jovem. Mas seu contrato vai vencer ao fim da temporada, ele não vai pedir só um pacote de cream cracker para renovar e sabe que o time não tem um futuro brilhante no curto prazo.

Com o salário de Vanek impingindo um estrago de mais de US$ 7 milhões nas próximas seis temporadas, fica difícil pensar em dar a Campbell algo próximo do que ele gostaria, ainda mais porque têm de se preparar para o estrago que o contrato do goleiro Ryan Miller tende a fazer quando vencer, ao final da próxima temporada, e ele certamente é muito mais importante para o time.

As negociações foram interrompidas nesta semana, o que não é um bom sinal para a torcida do noroeste do estado de Nova York, já não muito satisfeita com a debandada de Drury e Brière. Se os dois lados não voltarem a negociar rapidamente, a chance de Campbell ser trocado antes do dia-limite de trocas vai subir tão rápido quanto Maxim Afinogenov contra-atacando.

Não que ele tenha grande valor como commodity, justamente por causa de seu contrato com prazo de validade curto. Mas alguma coisa é melhor do que nada, que é justamente o que os Sabres ganharam em julho depois de ver duas de suas maiores estrelas ir para rivais de conferência.

"A prioridade é renovar o contrato [de Campbell]", disfarça o gerente geral dos Sabres, Darcy Regier. "Eu nunca digo nunca, mas gostaríamos de renovar com ele e esperamos que isso aconteça. Mas ficamos desapontados [com a interrupção das negociações], porque queríamos continuar." Pode fingir que acredita. Assim como Campbell finge que está tudo bem. "Há coisas mais importantes do que eu", disse o zagueiro, em tom diplomático. "Temos é que vencer. Acho que é o melhor para o time."

O sonho de finalmente dar um título profissional à cidade de Buffalo depois de décadas parece ter desmoronado. O time, promissor nos dois últimos anos, está voltando a ser um time comum, prestes a sofrer uma indesejável e dolorosa reconstrução.

Resta saber quando a diretoria irá se dar conta disso.
Alexandre Giesbrecht, 31 anos, aos poucos vai completando os anos de 1977, 1986 e 1987 em sua coleção de Placar.
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Página publicada em 16 de janeiro de 2008.