Ah, que maravilha! Você torce para o New York Rangers, equipe que após tantos vexames, foi duas vezes seguidas para a pós-temporada. E nesta última ida, varreram os Thrashers e ainda deram um sufoco nos Sabres, não fosse aquele maldito Chris Drury para salvar a outra equipe de New York. Você, então, vê esse mesmo Drury unir-se a seu time. Mas não apenas ele: Scott Gomez, dos odiados Devils, também vem, do mercado de agentes livres. Você pensa assim: "Ah, se com Nylander estava bem, pode ir embora. Drury e Gomez são bem melhores!" Você está nos céus. Todos os analistas (inclusive os de TheSlot.com.br) apontam sua equipe como favorita. Desde quando isso não acontece? Desde... a temporada de 1997, quando Messier ainda tinha "apenas" 36 anos e Wayne Gretzky havia sido adquirido junto ao St. Louis Blues na temporada anterior? É, de repente, de time que gastava com jogadores inúteis, a time que sabia, agora, gastar sabiamente. Sim, porque Drury e Gomez não eram os Kamenskis, Lindros, Fleurys, MacLeans (John e Kirk), Lefevbres, que os Rangers costumavam contratar. Não, esses eram jogadores comprovadamente bons.
Bem, aí a temporada começa e você acha que sua equipe vai arrebentar, que vai passar por cima de todo mundo. Sim, claro, porque na teoria, você tem duas linhas fantásticas em Straka - Gomez - Jagr e Shanahan - Drury - Avery, além dos garotos Prucha e Callahan na terceira linha. A defesa continua sólida, mas desde que Brian Leetch deixou a equipe, que falta um organizador lá atrás. Lundqvist, sem comentários. Volto a frisar que ele está facilmente entre os cinco melhores da liga. E de repente o caos e o número místico e assustador: 2-5-1. Parece nome de lei, como 171. Mas esta é a campanha da equipe que iria rivalizar com Senators e Penguins. Que deixaria Devils, Flyers, Lightning, Canes para trás. A equipe que iria disputar as finais da Copa Stanley. Patinando para marcar gols. Porque já são duas derrotas seguidas por 1 a 0 (segundo o Elias Bureau, é a primeira vez que isso acontece com os camisas azuis). Contra os Bruins, Lundqvist ao menos saiu invicto, já que a derrota veio apenas da disputa de pênaltis. Bom, como sou pago (sou?) para analisar hóquei no gelo, hoje vou falar sobre os Rangers. Tá, é o assunto que eu mais cubro aqui e sim, eu sou muito parcial. Quem me conhece pessoalmente sabe o quanto.
Como ouvi certa vez numa reunião de trabalho, "eu tenho uma visão" de por que os Rangers estarem tão mal. Linhas. Sim, eu fui bem óbvio, mas isso é muito claro. Na terça-feira, contra os Pens, os Rangers dominaram em chutes, mas não em situações de gol. Porque você pode dar 20 chutes no gol e marcar cinco, se suas linhas combinam bem. Você pode apenas permitir chutes do perímetro e limpar a frente do gol e seu goleiro levar 40 chutes e ainda assim poder dizer: "Não fomos pressionados". Acontece isso, claramente. O próprio Jagr corrobora o que digo sobre chutar: "Todos dizem que você tem que chutar mais. Eu não acho que essa seja a resposta. Não estamos em 1980. Você não consegue marcar da linha vermelha. Para marcar nesta liga, você tem que ter boas chances. Os goleiros são muito bons e as defesas agora não vão te dar muitas chances."
Para mim, Gomez tem que parar de jogar com Jagr. Já tinha escrito no guia desta temporada que Jagr monopoliza o disco e precisa de jogadores que estejam dispostos a ficar em frente ao gol, contabilizar rebotes ou apenas querer conferir. Aí você coloca dois jogadores que adoram carregar o disco e espera que eles se dêem bem. Impossível. Na segunda linha, Drury não é um grande passador. Avery, muito menos (esse merece um capítulo à parte). E Shanahan, bem, esse desde os idos do NHL 93 é o rei do chute de primeira, junto de Brett Hull. Será que é tão difícil entender que Gomez tem que jogar com Shanahan? Ou ainda, Jagr e Shanahan?
Alguns rumores contam que o treinador Tom Renney tem evitado colocar Drury com Jagr por medo do primeiro meter a boca no trombone por conta da falta de vontade do capitão novaiorquino. O que está muito claro. Um gol em oito jogos? Vá lá que ele marcou 30 na temporada passada, mas se continuar assim, ele vai terminar com dez. Ficou muito claro que Jagr não gostou que Michael Nylander foi liberado. O jogador sueco tem o típico estilo europeu que Jagr gosta e eu sou o primeiro a reconhecer que isso realmente fez diferença. Acreditei, levado pela empolgação, que Jagr teria aceitado bem a chegada de Drury e Gomez e que esqueceria que os Rangers mal ofereceram dinheiro por Nylander. Não adianta. Temos que nos decepcionar para enxergar certas coisas. Ele reclamou lá da República Tcheca que a diretoria dos Rangers não estava fazendo nada para assinar o central de sua linha. Pobre e cego torcedor que fui.
Por fim, as contusões. Straka quebrou o dedo bloqueando um chute de Zdeno Chara contra os Bruins. Nunca pensei que fosse ler que Straka bloqueava chutes, já que a fama de jogador mole sempre o acompanhou. Mas agora, menos um jogador no ataque, que já é o pior da liga, com apenas 13 gols. Além dele, Avery, que parece ser o motor dessa equipe, vai ficar fora ainda alguns jogos. Avery faz parte do novo perfil de agitador da liga. Jogador que bate, atrapalha, incomoda, briga, mas ainda contribui ofensivamente (Esa Tikkanen, alguém?). Temporada passada, ele chegou com tudo e acendeu a equipe, que fez aquela retomada brilhante e chegou até a assustar os Sabres nas semifinais de conferência. Talvez ele possa fazer isso de novo. Ou não.
Para fechar, um boato, que nem é tão boato, diz que Glen Sather está perseguindo agressivamente Ed Jovanovski dos Coyotes, numa troca que envolveria Paul Mara. Bom, entre Mara e Jovanovski, sou mais o segundo. Mas convenhamos: JovoCop está realmente parecendo um robô, após tantas contusões e fora que a velocidade nunca foi seu forte. Aí a pergunta: não seria melhor convencer Leetch a voltar da aposentadoria?
Keith Srakocic/AP Aqui não! Marc-Andre Fleury, dos Penguins, avisa Ryan Callahan, dos Rangers, que o disco ali não entra! (23/10/2007) |