Por: Alexandre Giesbrecht        Foto: Jeff Gross/Getty Images

Para quem assistiu a boa parte da série entre Anaheim e Detroit, é até meio estranho saber que foram os Ducks que se classificaram. Não que os Wings tenham sido absolutamente dominantes. Não foram. Mas os Ducks foram mal demais por tempo demais. No jogo 3, por exemplo, tenho certeza que algum time da ECHL seqüestrou os jogadores dos Ducks e assumiu seus lugares, talvez com alguma tecnologia de máscaras no estilo de "Missão Impossível 2".

Aliás, nessa altura é que muita gente achou que os Wings já estivessem com os dois pés nas finais. O desempenho meio claudicante dos Ducks na vitória no jogo seguinte só reforçou essa idéia. Ganha o jogo quem faz gols, não quem "merece" por ter dominado a partida.

E veio a hora do jogo 5.

No primeiro tempo, uma partida equilibrada, e o zero não saiu do placar para nenhum dos times. No segundo, um massacre do Detroit, com 15 tiros a gol, contra apenas três dos californianos. Mas esses 15 chutes geraram apenas um gol. Tudo bem, esse gol poderia ser suficiente, afinal não se pode dizer que os Ducks ofereciam lá muito perigo para o o goleiro Dominik Hasek, que, ainda por cima, vinha muito bem na série.

Passou o segundo período quase que inteiro, e o golzinho dos Wings pareceu ser o suficiente. Os Wings, aliás, nem pressionaram tanto assim em busca de um gol para selar a vitória. Grande erro. Com o ponteiro a 48 tiques do que seria o fim do jogo, Scott Niedermayer empatou a partida, cortesia também de uma penalidade por interferência de Pavel Datsyuk — o fim de um jogo apertado certamente não é hora para uma penalidade estúpida, a não ser que você torça para o adversário.

Na prorrogação, os Ducks pareciam mais descansados. E, para desespero da torcida dos Wings, os Ducks pareciam também querer mais a vitória. Dizem que "querer é poder", e Teemu Selanne deu a vitória aos ex-Mighty Ducks. Ele e o goleiro Jean-Sébastien Giguere, claro, que parou 36 dos 37 chutes que foram na direção do seu gol.

Os jogadores e a comissão técnica dos Ducks sabiam que o jogo 6 seria crucial. Dar sobrevida aos Red Wings era tudo que eles queriam evitar. E com bons motivos, como se pôde ver no terceiro período do jogo 6. Nos outros dois, os Ducks sobraram no gelo. Foram dominantes como se deve ser em casa nos playoffs e abriram 3-0.

Só que no último período o time travou. O gol de Henrik Zetterberg não seria mais que uma mera mancha nas estatísticas de Giguere, ainda mais depois que Samuel Pahlsson restaurou a vantagem de três gols. Mas os Wings não saíam de sua zona de ataque, em busca de nada menos que sobrevivência.

Datsyuk diminuiu em uma vantagem numérica. E diminuiu ainda mais em outra a pouco mais de três minutos do final do jogo. Talvez isso tenha acendido o sinal de alerta no banco dos Ducks, que perceberam que seria mais disso que eles veriam em um eventual jogo 7, caso a vitória continuasse a desmoronar.

Giguere deve ter tido essa mesma noção, ainda que sem chegar perto do banco. E segurou tudo lá atrás. Foi, de novo, o grande herói dos Ducks. Foi, de novo, o grande algoz dos Wings, tal qual em 2003. E, tal qual em 2003, o seu time chega às finais da Copa Stanley, um território que ele já conhece e que já sabe ser perigoso.

Desta vez, os Ducks não terão um Martin Brodeur pela frente. Terão, isso sim, um Ray Emery, que está sendo mais do que se esperava dele, mas ainda está muito longe de Brodeur. O problema agora não vai ser marcar gols.

Não. Agora, o problema vai ser não cometer os mesmos lapsos que, com um pouco menos de sorte — ou um pouco menos de Giguere —, poderiam ter custado uma sofrida eliminação.

Porque os Senators vêm demonstrando ao longo destes playoffs que sabem se aproveitar do erro adversário. Mais do que isso: estão mostrando que querem, sim ganhar, ao contrário de outros anos, em que a mera menção da palavra "playoffs" já parecia ser o suficiente para mais de meio time tremer.

Eu tenho usado muito nas últimas semanas a expressão "fogo nos olhos" para definir esse time doo Ottawa. Ainda considero a expressão bastante adequada, talvez a que melhor explique como o quarto colocado do Leste chegou até aqui sem perder mais que um jogo em série alguma.

E essa expressão talvez seja exatamente a fórmula do que é necessário para alguém vencer os embalados Senators. O que se viu dos Ducks em vários pontos durante as finais do Oeste foi justamente o contrário: um time às vezes desinteressado. Não como os Sabres pareceram durante as últimas seis semanas. Eles pareciam achar que ganhariam quando quisessem. No caso dos Ducks, é algo para que ainda não achei uma explicação.

Se eles jogarem como jogaram nos dois primeiros períodos do jogo 6, as finais serão uma série extremamente emocionante. Mas se jogarem como no último período as coisas podem se complicar. Ao contrário dos Wings, os Sens não estão criando hábito de perder chances de ouro.

Alexandre Giesbrecht, 31 anos, gosta de redescobrir músicas que não ouvia fazia tempo.
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Página publicada em 23 de maio de 2007.