Por: Marcelo Constantino

Em qualquer temporada da NHL o dia-limite de trocas representa um marco. Se o Jogo das Estrelas marca algo como a divisória entre as duas (incorretas) metades da temporada, o dia-limite de trocas marca o início da reta final rumo aos playoffs. Naquele dia os times se definem ou como eliminados, ou como concorrentes ao título (dificilmente uma equipe investe pesadamente apenas para fazer uma boa figuração nos playoffs), ou ainda como um time que segue na briga por uma vaga.

O panorama geral na Conferência Oeste é muito bem definido atualmente. Na segunda-feira dez pontos separavam o Colorado Avalanche, nono colocado, do Calgary Flames, oitavo. Já na Leste a história é outra, com vários times embaralhados na classificação. Apenas um ponto separa o oitavo do nono e até mesmo o 13º, Florida Panthers, tem alguma chance, com seis pontos de diferença para o oitavo. Cada time ainda tem cerca de 15 partidas por disputar e, caso se confirme o panorama atual no Oeste, será estranho playoffs sem os Avs. O Edmonton Oilers é apenas mais um vice que fracassa na temporada seguinte (há uma longa lista deles), mas é possível também que o próprio atual campeão da Copa Stanley fique de fora: os Canes são um dos times embaralhados na briga pelos playoffs no Leste.


Eu estava de férias no dia-limite de trocas e acabei perdendo a festa da edição passada. Então, além de desculpas pelo atraso, valem alguns breves comentários.

Se há um time que eu não entendi o que fez no dia-limite, esse é o Atlanta Thrashers. Desde o começo, ou melhor, desde a temporada passada que o principal vazio do time está na defesa, problema cantado por dez entre dez analistas. Ok, Alexei Zhitnik chegou para tentar preencher esse espaço, mas ainda há uma boa lacuna. E os Blues devem estar dando festas regadas a champanhe até hoje não apenas por terem se livrado de Keith Tkachuk, mas pela monstruosidade que receberam por ele.

Durante algum tempo eu fiquei pensando como o Florida pôde ter se livrado de Todd Bertuzzi por tão pouco. Mas, de certa forma, entendo a ação da gerência. Com uma improvável classificação aos playoffs dependendo de algum milagre (Bertuzzi?) e um Bertuzzi com toda aquela situação que o cercava, talvez negociá-lo por qualquer coisa tenha sido a melhor opção.

Gostei da movimentação do Pittsburgh Penguins, trazendo a garra de Gary Roberts e um porradeiro que eventualmente também sabe jogar, George Laraque. É algo como a velha NHL de volta, tempos de Semenko e Gretzky, com um brucutu para proteger o astro da equipe.

Entendo que o Dallas Stars optou por uma ação mais pontual, mais "calma". Não vejo em Ladislav Nagy tudo isso que andou sendo comentado, mas concordo que era um dos bons jogadores disponíveis no mercado. Idem para Mattias Norstrom, que é um bom defensor e que também irá reforçar ainda mais o já ótimo elenco defensivo do time (só há um outro time, além dos Stars, que não levou seis ou mais gols numa partida nesta temporada: o Minnesota Wild).

Talvez a troca-chave do dia-limite venha a ser a que levou Bill Guerin para o San Jose Sharks. Guerin (assim como o Bertuzzi pré-tentativa de assassinato) é o tipo de jogador que todo time deveria adorar ter no elenco durante os playoffs, e é um baita reforço para um time que precisa de uma balançada. Serve também como alerta a Jonathan Cheechoo, que provavelmente perderá o posto de principal asa direito da equipe.

Por fim, a troca mais bombástica certamente foi a de Ryan Smyth para o New York Islanders. Triste sina a do Edmonton, que não consegue segurar seus bons jogadores. Felizes dos Isles, que devem alçar um vôo mais alto nos playoffs. Mas não tão alto.


Talvez o grande sinal emitido pela gerência do Detroit Red Wings no dia-limite tenha sido o de que o time vai brigar pra valer pela Copa. Poucos acreditam nisso, mas você não contrata um Todd Bertuzzi apenas para ficar bem na fita. Ainda assim esta é uma equipe que precisa mostrar que não amarela nos playoffs, e, para isso, só há uma maneira: jogar com o coração na ponta do taco e lutar até o fim, seja ele onde for.


Um time que passou praticamente em branco no dia-limite foi o New Jersey Devils, que segue calcando seu jogo em Martin Brodeur e na execução do velho sistema defensivo. Havia uma razão clara para a suposta inércia, que era o orçamento batendo no teto. Mas ainda acredito que a gerência entende que os Devils não são concorrentes ao título este ano.


O Toronto Maple Leafs está naquela turma que eu classifiquei como "time que segue na briga por uma vaga". Tem sido assim nos últimos anos, neste período de dia-limite. Dizem que isso impede a gerência de rifar eventuais pesos (em caso de desclassificação) ou de investir (em caso de playoffs). Balela. Os Leafs podem até se classificar, mas dificilmente avançam uma rodada. A realidade é triste para o tradicional time canadense: quem tem medo dos Maple Leafs?

Lembrem-se, todo o Oeste temia o oitavo colocado do ano passado, o Edmonton Oilers, e o temor revelou-se amplamente fundamentado. Já passou da hora de a gerência agir na direção de um processo de reformulação de elenco -- e isso não significa necessariamente negociar Mats Sundin, longe disso. Mas é questionável a necessidade de se adquirir o bom central (e excelência em face-offs) Yanic Perreault diante desse panorama.


Mal chegou ao Nasville Predators e lá está Peter Forsberg já afastado por problemas de contusão. Outra triste sina. Mas não apenas ele, no momento há um considerável leque de jogadores importantes enfrentando algum problema de contusão: Brendan Shanahan, Maxim Afinogenov, Erik Cole, Henrik Zetterberg, Cristobal Huet, Alexei Kovalev, Patrick Marleau, Chris Drury, Ray Whitney, Steve Sullivan, Dominik Hasek (outro habitué)...


Lá no começo da temporada um determinado colunista desta revista fez duas apostas: a de que Sidney Crosby não levaria o Art Ross da temporada e que os Penguins não iriam para os playoffs. Olho nele (no colunista), é exatamente o mesmo que esculhambou o Carolina Hurricanes no Guia da temporada passada, apenas para vê-lo campeão no fim das contas.
Marcelo Constantino adora cervejas de trigo.
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Daniel Sedin converte seu pênalti, na disputa contra o Minnesota Wild.
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Vejam só o capitão Jason Smit mergulhando no gelo para para um disco que iria no gol de Dwayne Roloson.
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Nathan Paetsch derruba Darcy Tucker durante partida entre Buffalo e Toronto.
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Zach Parise marca um gol de pênalti para o New Jersey Devils contra o Toronto Maple Leafs.
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Ryan Smyth, agora com a camisa dos Isles, e o goleiro Curtis Sanford olham para o alto, esperando para ver onde o disco irá cair.
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Página publicada em 7 de março de 2007.