Em qualquer temporada da NHL o dia-limite de trocas representa um marco.
Se o Jogo das Estrelas marca algo como a divisória entre as duas (incorretas)
metades da temporada, o dia-limite de trocas marca o início da reta
final rumo aos playoffs. Naquele dia os times se definem ou como eliminados,
ou como concorrentes ao título (dificilmente uma equipe investe pesadamente
apenas para fazer uma boa figuração nos playoffs), ou ainda como um
time que segue na briga por uma vaga.
O panorama geral na Conferência Oeste é muito bem definido atualmente.
Na segunda-feira dez pontos separavam o Colorado Avalanche, nono colocado,
do Calgary Flames, oitavo. Já na Leste a história é outra, com vários
times embaralhados na classificação. Apenas um ponto separa o oitavo
do nono e até mesmo o 13º, Florida Panthers, tem alguma chance, com
seis pontos de diferença para o oitavo. Cada time ainda tem cerca de
15 partidas por disputar e, caso se confirme o panorama atual no Oeste,
será estranho playoffs sem os Avs. O Edmonton Oilers é apenas mais um
vice que fracassa na temporada seguinte (há uma longa lista deles),
mas é possível também que o próprio atual campeão da Copa Stanley fique
de fora: os Canes são um dos times embaralhados na briga pelos playoffs
no Leste.
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Eu estava de férias no dia-limite de trocas e acabei perdendo a festa
da edição passada. Então, além de desculpas pelo atraso, valem alguns
breves comentários.
Se há um time que eu não entendi o que fez no dia-limite, esse é o Atlanta
Thrashers. Desde o começo, ou melhor, desde a temporada passada que o
principal vazio do time está na defesa, problema cantado por dez entre
dez analistas. Ok, Alexei Zhitnik chegou para tentar preencher esse espaço,
mas ainda há uma boa lacuna. E os Blues devem estar dando festas regadas
a champanhe até hoje não apenas por terem se livrado de Keith Tkachuk,
mas pela monstruosidade que receberam por ele.
Durante algum tempo eu fiquei pensando como o Florida pôde ter se livrado
de Todd Bertuzzi por tão pouco. Mas, de certa forma, entendo a ação da
gerência. Com uma improvável classificação aos playoffs dependendo de
algum milagre (Bertuzzi?) e um Bertuzzi com toda aquela situação que o
cercava, talvez negociá-lo por qualquer coisa tenha sido a melhor opção.
Gostei da movimentação do Pittsburgh Penguins, trazendo a garra de Gary
Roberts e um porradeiro que eventualmente também sabe jogar, George Laraque.
É algo como a velha NHL de volta, tempos de Semenko e Gretzky, com um
brucutu para proteger o astro da equipe.
Entendo que o Dallas Stars optou por uma ação mais pontual, mais "calma".
Não vejo em Ladislav Nagy tudo isso que andou sendo comentado, mas concordo
que era um dos bons jogadores disponíveis no mercado. Idem para Mattias
Norstrom, que é um bom defensor e que também irá reforçar ainda mais o
já ótimo elenco defensivo do time (só há um outro time, além dos Stars,
que não levou seis ou mais gols numa partida nesta temporada: o Minnesota
Wild).
Talvez a troca-chave do dia-limite venha a ser a que levou Bill Guerin
para o San Jose Sharks. Guerin (assim como o Bertuzzi pré-tentativa de
assassinato) é o tipo de jogador que todo time deveria adorar ter no elenco
durante os playoffs, e é um baita reforço para um time que precisa de
uma balançada. Serve também como alerta a Jonathan Cheechoo, que provavelmente
perderá o posto de principal asa direito da equipe.
Por fim, a troca mais bombástica certamente foi a de Ryan Smyth para o
New York Islanders. Triste sina a do Edmonton, que não consegue segurar
seus bons jogadores. Felizes dos Isles, que devem alçar um vôo mais alto
nos playoffs. Mas não tão alto.
Talvez o grande sinal emitido pela gerência do Detroit Red Wings no dia-limite
tenha sido o de que o time vai brigar pra valer pela Copa. Poucos acreditam
nisso, mas você não contrata um Todd Bertuzzi apenas para ficar bem na
fita. Ainda assim esta é uma equipe que precisa mostrar que não amarela
nos playoffs, e, para isso, só há uma maneira: jogar com o coração na
ponta do taco e lutar até o fim, seja ele onde for.
Um time que passou praticamente em branco no dia-limite foi o New Jersey
Devils, que segue calcando seu jogo em Martin Brodeur e na execução do
velho sistema defensivo. Havia uma razão clara para a suposta inércia,
que era o orçamento batendo no teto. Mas ainda acredito que a gerência
entende que os Devils não são concorrentes ao título
este ano.
O Toronto Maple Leafs está naquela turma que eu classifiquei como "time
que segue na briga por uma vaga". Tem sido assim nos últimos anos, neste
período de dia-limite. Dizem que isso impede a gerência de rifar eventuais
pesos (em caso de desclassificação) ou de investir (em caso de playoffs).
Balela. Os Leafs podem até se classificar, mas dificilmente avançam uma
rodada. A realidade é triste para o tradicional time canadense: quem tem
medo dos Maple Leafs?
Lembrem-se, todo o Oeste temia o oitavo colocado do ano passado, o Edmonton
Oilers, e o temor revelou-se amplamente fundamentado. Já passou da hora
de a gerência agir na direção de um processo de reformulação de elenco
-- e isso não significa necessariamente negociar Mats Sundin, longe disso.
Mas é questionável a necessidade de se adquirir o bom central (e excelência
em
face-offs) Yanic Perreault diante desse panorama.
Mal chegou ao Nasville Predators e lá está Peter Forsberg já afastado
por problemas de contusão. Outra triste sina. Mas não apenas ele, no momento
há um considerável leque de jogadores importantes enfrentando algum problema
de contusão: Brendan Shanahan, Maxim Afinogenov, Erik Cole, Henrik Zetterberg,
Cristobal Huet, Alexei Kovalev, Patrick Marleau, Chris Drury, Ray Whitney,
Steve Sullivan, Dominik Hasek (outro
habitué)...
Lá no começo da temporada um determinado colunista desta revista fez duas
apostas: a de que Sidney Crosby não levaria o Art Ross da temporada e
que os Penguins não iriam para os playoffs. Olho nele (no colunista),
é exatamente o mesmo que esculhambou o Carolina Hurricanes no Guia da
temporada passada, apenas para vê-lo campeão no fim das contas.