Quando
esta matéria for publicada, um dos grandes embates da semana já
terá sido realizado. Buffalo Sabres, o melhor time da Conferência
Leste, enfrenta o New Jersey Devils, o time mais quente daquela
conferência atualmente.
Depois de um começo um tanto cambaleante, os Devils emendaram
duas semanas de grande sucesso e somente vitórias. Uma mudança
radical: eles saíram de uma seqüência de quatro derrotas para
outra, de cinco vitórias. Talvez tenham sido os ares de dezembro.
Neste mês, até o jogo de terça-feira, eram cinco vitórias consecutivas,
ainda que duas delas tenham sido sobre os rastejantes Flyers,
e outras duas sobre times de aproveitamento igual ou inferior
a 50% (Penguins e Bruins). Mas vitória é sempre vitória, e sempre
conta dois pontos a mais. Graças a elas, numa divisão (a do Atlântico)
em que os adversários facilitam a vida de qualquer um, os Devils
lideram e, com isso, estariam com uma das três (a terceira, no
caso atual) primeiras vagas nos playoffs.
A performance da equipe em casa é ótima, apesar da campanha irregular.
São 11 vitórias em 13 jogos. O problema é quando o time joga fora
de casa, aí é um desastre, onde até mesmo ganhar dos Flyers é
complicado. Das 11 derrotas da equipe, 9 foram jogando fora de
casa. Eis um dos problemas ainda a ser resolver na temporada.
Os Devils ainda seguem basicamente o mesmo estilo que consagrou
a equipe com a Copa Stanley de 1995, mesmo com toda as perdas
dos últimos anos — o time que já foi da Crash Line, de Scott
Stevens, da dupla de Scotts e do goleiro Martin Brodeur é hoje
o time de Brodeur. Aliás, o goleiro tido como número 1 da NHL
atuou nas últimas 21 partidas da equipe. Como provavelmente estará
no gol contra os Sabres, lá se vão 22. Sabe-se lá o que o reserva
Scott Clemmensen faz para manter-se em forma.
O estilo de jogo amarrado, fechado, placares baixos, onde qualquer
gol — de que lado for — tem grande valor é a marca
dos Devils há mais de uma década. E, embora a NHL de hoje em dia
seja outra, um estilo assim ainda pode render bons frutos, se
executado com eficácia — e os Devils são especialistas nisso.
Chame do que for, a armadilha da zona neutra ainda é praticada
largamente na liga e ainda gera bons resultados, mesmo que não
seja mais tão preponderante.
Para efeito de comparação, os Sabres também já jogaram assim,
com um estilo amarrado, fechado e chato. Chegaram à final de 1999
desse jeito. Mas mudaram: atualmente o time é outro, ofensivo,
jogando aberto e marcando gols aos montes. É a equipe de melhor
saldo na liga. O New Jersey, não, manteve sua característica mais
forte e evidente, mesmo com a chegada do técnico Claude Julien,
aquele mesmo que comandava o Montreal Canadiens.
Cerca de uma década atrás o New Jersey Devils era considerado
uma das franquias mais sólidas da NHL, devido ao leque de bons
jovens jogadores que possuía. As coisas foram mudando ao longo
do tempo e o panorama mudou. Porém, há alguns jovens valores na
equipe que vêm conseguindo algum destaque. Travis Zajac, central
novato que vem segurando as pontas na segunda linha da equipe,
tem também um dos raros mais/menos positivos da equipe. O asa
esquerdo Zach Parise vem fazendo um ótimo segundo ano de NHL,
pontuando como os grandes do time e também com um raro mais/menos
positivo. O novato defensor Johnny Oduya vem recebendo mais de
20 minutos de gelo por noite e não vem decepcionando, pelo contrário.
Vem começando a suprir o espaço que o mau começo de Paul Martin
vem deixando. Brian Rafalski, remanescente da era gloriosa da
muralha defensiva da equipe, agradece.
Se os novatos vêm bem, alguns veteranos deixam a desejar, além
do já citado Martin. Patrik Elias parece estar sofrendo com o
peso de carregar o C na camisa, ou ainda de levar US$ 7,5 milhões
para casa todo ano. Seus pavorosos -12 (pior do time, único com
dois dígitos) acabam denegrindo sua liderança em pontos. A excelência
defensiva de John Madden já não reluz tanto quanto em outras temporadas.
Melhor para o time que jogadores raçudos, como Brian Gionta, e
experientes, como Jamie Langenbrunner, mantenham o bom nível.
Um dos principais jogadores da equipe, o central Scott Gomez,
está no último ano do seu contrato e as conversas entre as partes
estão paradas. A folha dos Devils é alta e bate no teto orçamentário
da liga (Elias, Brodeur e Gomez juntos custam US$ 17,7 milhões
aos cofres da franquia), ou seja, além de chegar a um acordo seria
necessário abrir espaço para o natural aumento que o jogador deve
pedir (atualmente ele recebe na casa dos US$ 5 milhões/ano). Para
ele ficar, alguém vai ter que sair.
Epílogo: Sabres x Devils Assisti ao jogo de ontem, terça-feira, entre Sabres e Devils.
A NHL bloqueou (temporariamente?) o Center Ice via TVU, mas a
Versus segue por lá e ontem transmitiu o jogo.
Foi basicamente dentro do esperado: os Sabres superiores, mas
os Devils sabendo conter boa parte da pressão e ainda saindo para
o ataque. O primeiro período foi bem equilibrado, mas o diferencial
de qualidade em favor dos Sabres falou um pouco mais alto no segundo,
quando abriram o placar. Foi assim até o terceiro período, quando
o Buffalo marcou duas vezes, em duas jogadas extremamente semelhantes:
disco nas costas de Brian Rafalski no setor direito da defesa
do New Jersey. Nas duas vezes, lá veio Daniel Briere correndo
com o disco até fazer o derradeiro passe para outro marcar. Maxim
Afinogenov aproveitou o primeiro, livre de marcação, e Jason Pominville
o segundo, logo a seguir, ainda que (mal) marcado por Colin White.
Os Sabres administraram o placar até que veio o minuto final e
eis que surgiu um gol dos Devils. Jogada duvidosa que não consegui
perceber se foi ou não legal, ou seja, se o gol foi com taco alto
ou não. Pudera, a definição da transmissão via TVU (ainda) não
é nítida assim. Enfim, gol validado pelos juízes. O jogo recomeçou,
logo havia um face-off na zona de ataque do time da casa.
Os Devils retiraram Brodeur para ter mais um atacante, John Madden
ganhou a disputa, mandou para trás e.... pimba, gol de Patrick
Elias, do meio da rua e por entre as pernas do goleiro Ryan Miller!
A coisa ficava interessante nos segundos finais. Mas os Devils
perderam o face-off seguinte e tudo foi por água abaixo.
A seqüência vitoriosa do time mais quente do Leste foi estancada
pelo melhor time do Leste.
O TIME É
DELE Martin Brodeur firma-se como um dos melhores
goleiros de todos os tempos.
(Bill Kostroun/AP - 08/12/2006)
ELIAS Capitão
e maior salário do time, Patrick Elias lidera a equipe
em pontos, mas tem também o pior mais/menos.
(Nick Laham/Getty Images - 01/12/2006)
DUELO Maxim
Afinogenov aproveita passe de Daniel Briere e, livre de marcação,
mete o disco para dentro do gol. Era o segundo gol dos Sabres
na partida.
(Andy Marlin/Getty Images - 12/12/2006)