JOGO 1
Carolina 5-4 Edmonton

O ÚLTIMO INFORTÚNIO
Roloson sai contundido, dando lugar a Conklin (Gerry Broome/AP - 05/06/2006)
por Michael Farber

Se acontece uma vez, é um incidente.

Se acontece duas vezes, é um padrão.

Se acontece três vezes, é uma conspiração. E se acontece a quase todos os times contra quem você joga e você é o Carolina Hurricanes, você tem uma chance ainda melhor de conquisatar a Copa Stanley.

Talvez o defensor cabeça-de-hidra Mike Commodore, do Carolina, tenha um bonequinho vodu e fique espetando alfinetes nele antes de cada série. Talvez não seja nada mais que o atrito básico de um esporte extremamen-te duro fisicamente, uma maratona de dor de dois meses. Mas a contusão no joelho que o goleiro do Edmonton Oilers, Dwayne Roloson, sofreu no terceiro período do jogo 1 é apenas o último dos infortúnios acometidos sobre os adversários de um time que está fazendo sua própria sorte, mas que certamente também está ganhando um empurrãozinho dos deuses do hóquei.

Não que os nobres Hurricanes estejam rindo da desgraça dos outros — "Você não quer ver ninguém se machucar", lamenta Commodore —, mas isto está ficando ridículo. Vamos recapitular:

Depois de perder os dois primeiros jogos em casa, Justin Williams sem querer coloca a lâmina de seu taco por baixo do visor do capitão dos Canadiens, Saku Koivu, no jogo 3, em Montreal. Koivu sofre uma lesão grave no olho, que ainda não cicatrizou completamente. Os Canadiens, sem grandes opções, têm de colocar Radek Bonk para centrar a primeira linha, e a crescente surpresa do mais tradicional time da NHL morre por aí. O Carolina vence a série em seis jogos.

Na terceira fase, o Carolina enfrenta a desfalcada defesa do Buffalo. Dimitri Kalinin já estava fora da série, e então Henrik Tallinder, o mais efetivo defensor dos Sabres, quebra seu braço em um lance aparentemente ino-fensivo. O veterano Teppo Numminen, que tinha distendido a virilha no jogo 1, retorno para o jogo 6 durante pouco mais de quatro minutos, agrava a lesão e fica de fora do jogo 7.

OK, esse tipo de coisa acontece. Mas então o sólido defensor Jay McKee desenvolve uma estranha infecção no pé e fica de fora do sétimo jogo, forçando os Sabres a dar tempo no gelo a quatro jogadores de ligas de baixo. Os Sabres são como o Cavaleiro Negro perseguindo o Santo Graal do Monty Python: não importa o que aconteça, é apenas um ferimento superficial. O Carolina perdia por 2-1 depois de dois períodos, mas a ordem natural do universo do hóquei é restaurada no terceiro período, e os Hurricanes se classificam.

Agora Roloson é a baixa, vítima de um empurrão bem-intencionado do defensor dos Oilers Marc-Andre Bergeron, que estava tentando impedir Andrew Ladd de marcar e jogou o embalado atacante contra seu goleiro. Esse tipo de jogada acontece com goleiros com alguma freqüência. Como Roloson permaneceu caído, alguns jogadores dos Hurricanes pensaram que ele estava só fazendo cera. Na verdade, ele distendeu o ligamento lateral de seu cotovelo direito, o que significa o fim de sua temporada.

Ty Conklin o substituiu nos seis minuots finais, fazendo duas defesas e depois dominando um disco atrás do gol como se fosse um dejeto tóxico, perdendo-o para o capitão do Carolina, Rod Brind'Amour, que marcou o gol da vitória a menos de meio minuto do que seri o fim do tempo regulamentar.

Para o resto da série, o técnico Craig MacTavish pode escolher entre Conklin e Jussi Markkanen, sendo que ambos disputaram a vaga de titular no treino de hoje.

MacTavish discursa que tem dois goleiros de NHL "que já estiveram sob os holofotes antes", mas a posição foi um problema durante toda a temporada até a aquisição de Roloson pouco antes do dia-limite de trocas. O GG Kevin Lowe continuava falando sobre a necessidade de "mais uma defesa", exatamente o que Roloson vinha fornecendo nos playoffs, ainda que não tenha sido particularmente efetivo no jogo 1 contra o Carolina (ele sofru um gol fruto de um rebote estranho no primeiro gol de Brind'Amour, o que deu origem à virada). Mas, dada sua campanha em 2005-06 e a recente inatividade de Markkanen e de Conklin, o retrato da situação no gol do Edmonton certamente não é um Rembrandt.

Os Hurricanes — forçados a jogar sem o dinâmico ponta esquerda Erik Cole durante os playoffs, depois do tranco de Brooks Orpik por trás, que quebrou a clavícula de Cole em março — não gostaram da insinuação de sorte ou do destino depois de seu treino. Eles não ignoram as contusões dos adversários — "Sim, temos falado sobre isso por aqui", reconhece Craig Adams —, mas todos repetem em uníssono que não importa contra quem eles jogam, mas como eles jogam.

"Não importa quem estiver no gol deles [no jogo 2]", avisa o veterano ponta direita Mark Recchi. "Se jogarmos da mesma maneira que jogamos no primeiro jogo, seremos derrotados."

Talvez. Mas se você precisar de um diretor para fazer o filme com os melhores momentos desta Copa Stanley, é bom dar uma olhada na disponibilidade de Oliver Stone.



Michael Farber é jornalista da revista Sports Illustrated. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 6 de junho de 2006.