Por E.M. SWIFT

Demorou até o terceiro período do sétimo jogo da terceira fase dos playoffs de 2006, mas a Maldição finalmente alcançou o Buffalo Sabres.

Algumas pessoas, é claro, vão dar crédito ao Carolina Hurricanes por ter conseguido eliminar os Sabres. Afinal, eles foram melhor na temporada regular e a escolha de muitos especialistas para conquistar a Copa Stanley. Mas a torcida de Buffalo sabe a verdade. Não foram Doug Weight, Rod Brind'Amour ou Justin Williams que os eliminaram, virando um placar que apontava 2-1 para os Sabres no segundo intervalo, com três gols no terceiro período que tornaram possível a vitória dos Canes por 4-2 no jogo 7, uma partida emocionante que mandou os Sabres para casa e o Carolina para as finais da Copa Stanley. Não, esses gols não foram os culpados de verdade. Foi a Maldição.

A temível Maldição de Buffalo ainda vive.

Os torcedores dos Sabres tinham toda razão para ter esperança, para acreditar que sua hora tinha chegado. Este tem sido um mau milênio para maldições, afinal de contas. Em 2004, a Maldição do Bambino foi exorcizada pelo Boston Red Sox, que ganhou o título do beisebol depois de 86 anos. Em 2005, foi o Chicago White Sox que encerrou uma maldição que assombrava o time desde o escândalo dos Black Sox, em 1919. Mas a única maldição que importava para a pobre cidade do oeste do estado de Nova York era aquela que tem assombrado a "Cidade da Escuridão" há anos, talvez desde sempre. Aquela que empurrou o chute de Scott Norwood para a direita nos segundos finais da decisão do futebol americano de 1991, o primeiro dos quatro vice-campeonatos consecutivos do Buffalo Bills. Aquela que fez com que os árbitros de vídeo da NHL não vissem o patim de Brett Hull na área durante a terceira prorrogação do jogo 6 das finais da Copa Stanley de 1999, permitindo a Hull marcar o gol do título em cima do então goleiro dos Sabres, Dominik Hasek.

Ninguém sabe quando a maldição que paira sobre os times profissionais de Buffalo começou ou por que ela começou. Mas ninguém que vive nessa cidade sem títulos duvida de sua existência. Coisas estranhas e trágicas aconteceram demais ao longo dos anos. Tim Horton, o futuro defensor do Hall da Fama, uma das primeiras estrelas dos Sabres, morreu em um acidente de um carro só em 1974. Em 1989, Clint Malarchuk, o goleiro dos Sabres, teve sua jugular cortada pela lâmina do patim de um adversário em um acidente bizarro, onde sangue jorrava como um chafariz no gelo e torcedores vomitavam na platéia. Malarchuk sobreviveu e até jogou três semanas depois nos playoffs. Mas os Sabres não. Eles foram eliminados pelos Bruins naquele ano logo na primeira fase.

Depois houve aquela vez, dois meses depois de o novo estádio dos Sabres ser inaugurado, em 1996, quando o moderno jumbotron de US$ 127,5 milhão espatifou-se no gelo algumas horas antes de um jogo contra o Boston. Realmente são coisas muito estranhas acontecendo.

Quando a família Rigas, dona da Adelphia Communications, uma das maiores empresas de Buffalo, assumiu o controle dos Sabres em 1998, a cidade regozijou-se. Isso até o patriarca John Rigas ser algemado e preso por fraude e o time ser obrigado a pedir concordata. Milhares de pessoas perderam economias de uma vida, e vários jogadores dos Sabres que tinham investido em ações da empresa perderam até as calças. Maldição! Frustrados de novo!

Mas a versão 2006 era um novo time dos Sabres, com um novo dono, Tom Golisano. Um time de verdade, sem egos gigantescos ou estrelas famosas. O tipo de time que a cidade poderia abraçar e chamar de seu. Jogadores que se superaram e venceram Philadelphia e Ottawa nas duas primeiras fases dos playoffs e pareciam destinados a fazer história.

Aí entrou no palco a Maldição.

A primeira baixa foi o criativo atacante Tim Connolly, com uma concussão. Ora, acontece. Hóquei é um esporte duro, e contusões são parte do jogo. Então, numa rápida sucessão, três dos cinco principais zagueiros do time se contundem num espaço de dez dias: Dmitri Kalinin, Teppo Numminen e Henrik Tallinder.

Ainda assim, os bravos Sabres se recusaram a ceder, empatando a sé-rie em 3-3 contra o Carolina na terça-feira, com uma vitória por 2-1 na prorrogação. A série voltaria a Raleigh para o decisivo jogo 7.

Mas a Maldição tinha mais uma carta na manga. Um último chute lá embaixo. Na manhã de quinta-feira, Jay McKee, outro (!) de seus principais defensores, o especialista do time em bloqueio de chutes, acordou com uma infecção no tornozelo. Ele foi levado ao hospital e recebeu uma injeção de antibióticos, e, apesar de o avião particular de Golisano estar pronto para levá-lo a Raleigh em caso de melhora, não era para acontecer. McKee permaneceu em Buffalo, e o técnico dos Sabres, Lindy Ruff, teve de escalar três zagueiros que passaram praticamente toda a carreira nas ligas de baixo, seus reservas de número 2, 3 e 4.

Esta foi uma grande série, com um grande jogo 7. Ação dos dois lados do gelo, jogo aberto e bem apitado, goleiros jogando bem. E, quando Jochen Hecht, do Buffalo, marcou com a ajuda da perna do goleiro Cam Ward para dar aos Sabres a vantagem por 2-1 a quatro segundos do fim do segundo período, suspense de fazer roer as unhas. Os três defensores novatos, Doug Janik, Jeff Jillson e Nathan Paetsch, jogaram bem. Janik até marcou o primeiro gol dos Sabres. Mas não se poderia esperar que nenhum time sem quatro de seus cinco principais defensores derrotasse um elenco forte como o dos Hurricanes. Missão impossí-vel. Os Sabres deram tudo de si, mas algumas forças estão além do controle humano. No terceiro período, acabou o gás.

"Não é uma maldição", contestou bravamente Ruff. "É a maneira como jogamos. Eu realmente esperava perder alguns jogadores por contusão. Eu pensei que perderia tantos assim? Não. Mas você tem de se arriscar para ganhar. Eles pagaram um preço. Da maneira como eles batalharam, como eles encararam adversidades, eles podem manter a cabeça erguida. Eles são um grupo especial."

Sim, mas não especial o suficiente para acabar com uma maldição que tem sufocado o grito de "É campeão!" de uma cidade inteira. Algum dia, talvez. De algum jeito. Mas, até agora, em 2006, a Maldição de Buffalo ainda vive.


E.M. Swift é jornalista do site SI.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
OBRA DA MALDIÇÃO O jumbotron espatifado em Buffalo é mais um dos sinais que indicam que não foram os Canes que eliminaram os Sabres (Arquivo TheSlot.com.br - 16/11/1996)
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Página publicada em 2 de junho de 2006.