Uma
vez vi num programa de TV Pierre Lacroix dizendo que, quando ele
foi contratado para ser gerente geral do Quebec Nordiques em 1994,
ele pegara um time sem identidade e que sua meta era construir
uma imagem vencedora daquele clube. Com duas Copas Stanley, nove
títulos de divisão seguidos — um pelo Nordiques e os outros
oito pelo Colorado Avalanche, quando o clube mudou-se para Denver
—, e seis aparições nas finais da Conferência Oeste, pode-se
dizer tranqüilamente que ele deixa o cargo de gerente geral do
Avalanche com a certeza de ter criado essa identidade vencedora.
Lacoix deixa a função, mas não deixa o clube. Ele continuará como
presidente do Avalanche e participará intensamente nessa fase
de transição de gerentes. Além de indicar o sucessor ao seu cargo,
Lacroix ainda vai ter um papel decisivo nas decisões do próximo
gerente e vai ter sua influência diminuída gradativamente com
o passar do tempo.
Segundo ele, a decisão de que essa seria sua última temporada
como gerente geral foi tomada já na greve que parou a NHL entre
2004 e 2005. Num acordo com o dono do Colorado, Stan Kroenke,
Lacroix iria gerenciar o Avalanche nessa transição para a nova
NHL.
Lacroix sai com um currículo quase perfeito. Em onze temporadas
nesse cargo ele nunca teve um time que não fosse vencedor, desde
1995 nenhum time disputou mais séries de pós temporada do que
o Colorado Avalanche. Foram 26 ao todo. Para que isso acontecesse,
Pierre foi responsável por algumas das maiores trocas da NHL nos
últimos anos. Em 1995 ele aproveitou a situação e adquiriu o maior
goleiro de todos os tempos, Patrick Roy. Naquela mesma temporada
foi adquirido também Sandis Ozolinsh, destaque do San Jose Sharks
nas três temporadas anteriores, e Claude Lemieux, jogador mais
valioso da pós temporada anterior. Isso tudo resultou na primeira
Copa Stanley do Avalanche e de Lacroix. Em 1999 foi a vez de Theoren
Fleury.
Em 2000, Lacoix começou a construir seu segundo título ao adquirir
o veterano Ray Bourque, que caçava sua primeira Copa Stanley,
junto com Dave Andreychuk. No ano seguinte foi a vez de Rob Blake
juntar-se à lista de estrelas que ele trouxe ao Avalanche. Junto
com ele veio também a segunda Copa Stanley. Antes da temporada
2003-04 Lacroix conseguiu reunir Paul Kariya e Teemu Selanne,
dupla que destruía os adversários no Anahein Mighty Ducks e estava
separada já há algumas temporadas, porém, sem um treinador de
pulso para gerenciar o excesso de estrelas, o Avalanche ruiu na
pós-temporada.
Sua última contratação de peso foi a de José Théodore já nesta
temporada, onde Lacoix mais uma vez aproveitou as circunstâncias
e pagou muito barato por um jogador que já foi eleito o melhor
de toda a temporada. Théodore estava machucado e tinha péssimos
números como goleiro do Montreal Canadiens e, por isso, essa troca
extremamente arriscada foi muito questionada. E essa não foi a
primeira vez. Desde a temporada de 2002 alguns de seus movimentos
têm sido contestados e duramente criticados, como a troca que
mandou Chris Drury para o Calgary Flames — de longe a pior
troca que ele já fez —, e a passividade com que ele tratou
Adam Foote e Peter Forsberg no começo da atual temporada, que
resultou na saída dos dois jogadores do Avalanche.
Mas, ainda assim, se uma avaliação da gerência de Lacroix fosse
feita, facilmente essa nota seria excelente. Esse é o legado que
ele deixa no Avalanche, o de ter construído um time vencedor.
Próximo Gerente
Na conferência onde anunciou sua renúncia ao cargo de gerente
geral, Lacroix disse que no máximo até o próximo recrutamento,
daqui a um mês em Vancouver, o Avalanche já estará com um novo
gerente, e que ele já tem um candidato em mente.
O nome mais cotado é o de Michel Goulet, ex-jogador dos Nordiques
e do Chicago Blackhawks, que já teve várias funções no Avalanche
e que está ao lado de Lacroix desde a época que ele gerenciava
os Nordiques. Na atual temporada o seu cargo foi de Assistente
Especial do Presidente e ele chegou a ser o gerente em exercício
em alguns jogos e era a pessoa que estava sentada ao lado do dono
do time na noite em que o Colorado foi eliminado pelos Mighty
Ducks.
Goulet, que não está disponível para falar à imprensa desde o
anúncio da renúncia do antigo gerente, foi um atacante que marcou
548 gols em sua carreira e, segundo os jornais locais, acredita
em times rápidos com ênfase no ataque e que esse deve ser o estilo
da sua gerência, caso seja escolhido.
Dado o perfil anunciado — de um gerente que no começo vai
receber influências de Lacroix —, figuras de nomes mais
pesados, que dificilmente se sujeitariam a essa submissão, como
Craig Patrick, ex-gerente do Pittsburgh Penguins, podem ser descartados
e ex-atletas que estão querendo entrar neste ramo foram cotados,
como Ray Bourque e Patrick Roy. O primeiro anunciou que não está
interessado num cargo desses agora. Já Roy, que é o candidato
preferido de boa parte da torcida do Avalanche e é gerente geral
de um time júnior de Quebec, disse que não almeja esse cargo agora,
mas que pode ceder à tentação de disputar a Copa Stanley novamente.
Primeiro desafio do sucessor
Seja quem for o próximo gerente geral, o que ele tem fazer é complicado:
assinar com estrelas como Joe Sakic e Rob Blake, que juntos ganharam
mais de US$ 13 milhões nessa temporada. Ambos declararam que querem
continuar no Avalanche, mas Blake já chegou a declarar que gostaria
de testar o mercado de agentes livres no fim de seu contrato.
Além dos dois, Alex Tanguay, que ganhou US$ 3,23 milhões, e Marek
Svatos e John-Michael Liles (ambos ganharam o salário mínimo da
NHL) serão agentes livres restritos e vão querer um aumento em
seus salários devido à excelente temporada que fizeram. Fora esses,
ainda há jogadores de vital importância nas últimas temporadas
que serão agentes livres cujos contratos devem ser renovados,
assim como reforços precisam ser procurados e adicionados ao elenco.
E tudo isso tem que ser encaixado no novo teto salarial, que deve
ser de US$ 43 milhões. Um desafio inicial tão grande quanto a
importância do cargo e o legado de seu antigo de seu antigo dono.
LACROIX
O antigo gerente ficou conhecido pelas grandes trocas que fez.
Agora ele deixa a função de gerente, mas continuará influenciando
o clube, incluindo a escolha do seu sucessor, o que deve ocorrer
em breve (Arquivo TheSlot.com.br)