Depois
de vencer as duas primeiras partidas na série, o San Jose Sharks
acreditava seriamente que a série seria encerrada no jogo 5, quando
voltasse para San Jose depois de disputar as partidas 3 e 4 no
Canadá, contra os Oilers. Tanto a imprensa da NHL quanto a torcida
dos Sharks apostavam que o time venceria pelo menos uma das duas
partidas a serem disputadas em Edmonton. Eles não poderiam estar
mais longe da verdade...
Na partida 3, os super confiantes Sharks entraram no gelo demonstrando
certeza da vitória e ignoraram o sentimento de animal ferido dos
jogadores e a empolgação da torcida dos Oilers. A parada foi duríssima.
Os Oilers sabiam que uma derrota na partida praticamente definiria
a série contra eles e não poderiam se dar ao luxo de deixar o
sonho da Copa Stanley escapar tão cedo.
Aos dez minutos do primeiro período, Bergeron, com assistência
de Raffi Torres, fez explodir em festa a torcida de Edmonton,
abrindo o placar em favor dos donos da casa, num primeiro período
que viu amplo domínio dos Oilers. Foram nada menos que 15 chutes
a gol dos Oilers contra apenas dois dos Sharks.
No começo do segundo período Marleau calou a torcida do time da
casa, empatando a partida com pouco mais de um minuto jogado,
e Rissmiller fez os torcedores começarem a pensar que o pesadelo
da eliminação seria realidade em breve, quando deu a vantagem
aos Sharks com menos da metade do segundo período jogado. O time
da Califórnia dominou o segundo período, limitando os Oilers a
apenas três chutes em 20 minutos.
Com a partida equilibrada e os visitantes na frente, o terceiro
período foi pura emoção. Aos 13 minutos Raffi Torres quase trouxe
o estádio ao chão ao empatar a partida. Os Oilers seguraram o
resultado e forçaram a prorrogação.
Com ambas as equipes atacando, buscando o gol, mas com defesas
sólidas, a partida acabou indo até uma terceira prorrogação, no
que foi o jogo mais longo da história dos Sharks. No terceiro
tempo extra Horcoff tratou de evitar qualquer possibilidade dos
Sharks abrirem 3-0 na série e fez o gol da fantástica vitória
do time de Alberta logo depois da marca de dois minutos jogados
no sexto período da partida.
A vitória no jogo 3 acabou inspirando os Oilers, enquanto os fortes
e até então favoritos Sharks sentiram o baque da derrota na prorrogação.
Na quarta partida da série, a segunda em Edmonton, o time da casa
já sabia que poderia bater os Sharks — e o que era pior
para os visitantes: eles sabiam que poderiam ser derrotados em
Edmonton.
Com a emoção e a garra em níveis muito acima do imaginável para
os americanos, a torcida canadense tratou de empurrar os Oilers
para cima dos Sharks em busca da segunda vitória e do empate na
série. Entretanto, até a metade da partida quem dava as cartas
eram os Sharks, que lideravam a partida por 3-1, com gols de Joe
Thornton, Ekman e Cheechoo, enquanto Horcoff tinha descontado
para os Oilers.
Percebendo o relaxamento no seu esquema de jogo e que os Sharks
já davam a vitória como certa, os Oilers aproveitaram e tiraram
toda a vantagem possível disso. Peca e Samsonov empataram a partida
no segundo período e, no começo do terceiro período, a reação
continuou com gols de Smith e Hemsky. Quando os Sharks perceberam
já era tarde demais para tentar uma reação e a liderança da partida
e da série estaria perdida de uma vez por todas. Os Oilers ainda
voltaram a empurrar o disco para o fundo das redes dos Sharks
aos 14:00 do terceiro período, fazendo explodir de vez a comemoração
em Edmonton. Nem mesmo os locutores da rádio de Edmonton conseguiam
conter o entusiasmo e o senso de revanche e do dever cumprido
com as duas vitórias em casa do time do Oeste Canadense.
Se o time de San Jose sentiu a primeira derrota, o impacto da
segunda e o fato de voltar para casa com a série empatada foi
desastroso para os Sharks. Sentindo não apenas que a liderança
na série tinha escapado, mas também a certeza da superioridade
e o aparecimento das primeiras dúvidas sobre a classificação,
os Sharks entraram no gelo fragilizados e num mau momento psicologicamente
falando. A própria torcida sentiu o peso das duas derrotas e mais
ainda da humilhante derrota por 6-3 em Edmonton. Mas o pior ainda
estava por vir, e veio num domingo, dia 14 de Maio.
Jogando em casa, os Sharks viram de perto a superioridade de um
adversário que jogava com mais determinação, mais garra, conjunto
e vontade de vencer. Os Oilers simplesmente detonaram o time de
San Jose, mesmo jogando na Califórnia. Sem tomar conhecimento
do que se passava no lado adversário os Oilers bateram os Sharks
por 6-3 pela segunda vez consecutiva, só que dessa vez a partida
era fora de casa, o que definitivamente tinha um gostinho mais
saboroso.
O próprio técnico dos Sharks, Ron Wilson, mostrou-se indignado
com a falta de competência dos seus jogadores e falou claramente
que os Oilers apresentavam maior vontade de vencer, e que isso
estava fazendo a diferença na série.
Os Oilers abriram 3-0 na partida aos 12 segundos do terceiro período,
mas numa inacreditável seqüência de gols os Sharks empataram aos
02:30 do período final. A partir daí o San Jose não marcara mais
nada na série. Pisani aos quatro minutos, Stoll aos 13:40 e Smyth
aos 16:11 decretaram a segunda goleada dos Oilers sobre os Sharks
em seqüência e a torcida de San Jose pôde sentir a eliminação
iminente.
Voltando a série para Edmonton, com o time da casa liderando por
3-2 e apenas a uma vitória de atingir um feito inédito nos últimos
14 anos, o clima não poderia ser outro senão o de euforia por
parte da torcida arqui-rival dos Flames.
Se os Flames não foram capazes de avançar até aqui e fazer uma
histórica batalha de Alberta tornar-se realidade também nos playoffs
de hoje em dia, os Oilers não queriam saber de outra coisa a não
ser copiar o feito inacreditável e mágico dos rivais na última
temporada disputada, quando os Flames chegaram às finais do Oeste.
Dwayne Roloson continuou sólido e sendo fundamental para a pós-temporada
dos Oilers e para os sonhos com as finais e a possibilidade de
faturar novamente um título depois de tantos anos. No jogo 6 da
série Roloson mostrou que pode sim ser o goleiro que os Oilers
precisam. Ele parou todas os 24 chutes a gol dos Sharks naquela
que pode ser considerada a partida mais importante de sua carreira
como goleiro de hóquei no gelo. Com Roloson feito um paredão na
frente do gol, os Oilers precisaram apenas de dois gols na partida
para superar os Sharks.
Michael Peca abriu o placar no primeiro período e Shawn Horcoff
jogou a pá de cal no túmulo dos Sharks. O desespero tomou conta
do San Jose ao perceber que a eliminação se aproximava e, durante
uma vantagem numérica com ainda quase três minutos a serem jogados,
o goleiro foi sacado e em seu lugar os Sharks contavam com um
sexto jogador de linha.
De nada adiantou a tentativa tardia e desesperada dos californianos.
Os canadenses fizeram valer sua garra e determinação e, depois
de começarem perdendo a série — e já serem considerados
carta fora do baralho por muitos da imprensa esportiva americana
—, não só empataram como também viraram a série, aplicaram
duas goleadas históricas por 6-3 nos Sharks e encerraram a série
com um shutout.
Não existia maneira mais perfeita de encerrar uma série para os
Oilers, agora vislumbrando o título do Oeste à sua frente. Serão
no máximo sete partidas, necessitando de apenas quatro vitórias
para que os Oilers possam voltar a sentir o gosto de disputar
a Copa Stanley.
O mesmo time que outrora dispunha de Mark Messier, Wayne Gretzky,
Grant Fuhr e tantos outros e que dominou a liga na segunda metade
da década de 80 agora conta com Chris Pronger, Michael Peca, Shawn
Horcoff, Dwayne Roloson e cia. E foi dessa maneira que o oitavo
colocado da Conferência Oeste conquistou uma vaga na finalíssima.
Que venham os patos agora, mas que ninguém se iluda: afinal nada
para os Oilers vêm fácil nos últimos tempos e o time de Anaheim
também fez por merecer a vaga na final, ao varrer o tradicional
Colorado Avalanche na sua série.
Alessander Laurentino não
nega ser um entusiasta do hóquei jogado no Canadá, berço do esporte
e lar do troféu mais antigo dos esportes profissionais.