Para um estudante de medicina, a prova final da Escola Paulista ou alguma faculdade equivalente. Para um sam-bista, o desfile no Sambódromo. Para o aventureiro, o acampamento no pé do Monte Everest.

Obstáculos foram feitos para ser superados.

Para o Calgary, no sábado passado a prova de fogo era o visitante Ottawa, com seu currículo de 43 pontos e 117 gols pró. Uma alegre mistura de entretenimento e resul-tado, talvez o protótipo desta era mais ofensiva da NHL. Ostentando três dos seis maiores artilheiros da liga — Daniel Alfredsson, Jason Spezza e Dany Heatley — e, não por coincidência, a linha mais letal da América do Norte, quiçá do mundo.

Mais do que suficiente para esguichar testosterona, ainda que num mero "jogo 32 de 82". Um duro teste para ver se a recuperação dos Flames era mesmo para valer, depois de um início claudicante. Porque até aqui a recuperação estava sendo convincente, mas, se falhassem contra os líderes da liga, tudo seria posto em dúvida.

E os Flames venceram. E, para usar um dos clichês mais batidos do jornalismo esportivo, convenceram. A vitória veio na prorrogação, por 2-1, mas já está na tabela de classificação.

"Nós acreditamos no que estamos fazendo, no sistema que estamos pondo em prática", explica Tony Amonte, que mandou o jogo para a prorrogação com seu oitavo gol da temporada, aos 12:40 do terceiro período. "Não vemos problema em estar um gol atrás no segundo intervalo, especialmente em casa. Não importa contra quem estejamos jogando. Viramos vários jogos nesta temporada."

E completa com um pensamento em que ele parece acreditar piamen-te: "Nós nunca nos damos por vencidos."

Caso você não esteja prestando atenção, os Flames já estavam a meros dois pontos do Detroit, líder do Oeste, e a quatro do Ottawa, líder da liga, no domingo, quando este artigo foi escrito. Quieta e efici-entemente, vão cuidando da sua própria vida, quase ignorados pelas torcidas dos times que jogam em cidades maiores.

No último sábado, o Ottawa estava longe de suas melhores atuações. Mas dê o crédito disso aos Flames, que sobreviveram a várias penali-dades desnecessárias no primeiro período — três de Kristian Huselius por faltas irresponsáveis com o taco — e acabaram por tomar o con-trole da partida.

"Nós sabíamos que a última coisa que poderíamos fazer era dar vanta-gens numéricas para esses caras", lamentou Amonte. "Alfredsson e Spezza vão carregar o disco pela zona neutra, armar a jogada no ata-que e logo depois o disco está balançando as redes. Eles acabam com você. E o que nós fazemos? Cometemos um monte de penalidades bo-bas e coisas do tipo. Felizmente, sobrevivemos ao primeiro período, acalmamo-nos e voltamos à nossa tática normal."

Os Sens decidiram dar um descanso a Dominik Hasek, colocando Ray Emery no gol. É claro que substituir o Dominador é como pedir a alguém para substituir Eddie Vedder no Pearl Jam. Ainda assim, Emery vinha de grandes atuações e estava com impecáveis 6-0.

E nenhum torcedor do Ottawa poderia culpar Emery pela derrota no sábado. O Calgary simplesmente asfixiou o Ottawa no terceiro período — Spezza e Heatley ficaram praticamente invisíveis —, disparando 11 vezes contra o gol de Emery, contra apenas um chute do adversário.

O gol de empate de Amonte foi prova da paciência e perseverança do Calgary: Shean Donovan parou perto da borda e esperou pacientemen-te por aquele segundo extra antes de dar o passe na direção da outra trave, onde Amonte recebeu e marcou. E, quando Daymond Langkow bateu Emery à queima-roupa para encer-rar o jogo aos 3:38 da prorrogação, até a torcida do Ottawa deve ter achado o resultado justo.

"Todo mundo estava falando da campanha deles, de quantos gols eles estavam marcando, e não vi problema nisso", disse o defensor Andrew Ference. "Eles jogam de um jeito, nós jogamos de outro. Se tentásse-mos jogar como os Senators, teríamos muito menos vitórias do que te-mos, acredite. Sabemos do que somos capazes. Pode levar 10 minutos, 20, 30 ou 55, mas acreditamos que vamos cansar o outro time, criar a chance de que precisamos, patinando e marcando com nossa garra. Acreditamos que é só uma questão de tempo."

Interessante do que a fé é capaz.

A oito minutos do fim do jogo de sábado, os Flames contemplavam uma derrota dura porém honrosa para um adversário de primeira linha. Ne-nhuma vergonha nisso.

Mas isso não era aceitável para eles. Vitórias são o objetivo. Vitórias morais não valem pontos na tabela.


Alexandre Giesbrecht, publicitário, aguarda ansiosamente pela partida (de futebol) do domingo de manhã.
Especial: As 100 edições para nós
Alessander: Lutando para subir no Leste
Alexandre: Um 10 na prova de fogo
Eduardo: Os 100 da era ESPN
Fabiano: Jagr mais 18? Nada disso!
Fabiano: Fiasco! Quem adivinha o nome?
Humberto: A primeira e inesquecível vitória
Marcelo: Dez coisas que eu amo no hóquei
Rafael: O Avalanche em uma palavra
SELANDO A VITÓRIA Jogadores dos Flames comemoram o gol de Daymond Langkow, que encerrou o jogo na prorrogação (Peter Mah/ Calgary Herald - 10/12/2005)
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Página publicada em 14 de dezembro de 2005.