Quarta-feira, dia 5. Abertura da temporada em Detroit. O St. Louis Blues entra no gelo e aposta suas fichas em um atleta acima do peso ideal, fora de forma, suspenso por 13 dias durante a pré-temporada e que noites depois era considerado o melhor jogador do time após uma única partida.

Esses são os Blues versão 2005-06 e o jogador acima descrito é Keith Tkachuk. Apenas uma prévia do provável fracasso da equipe ao longo da temporada.

A ruína dos Blues começou a se desenhar ainda na última temporada, quando o então treinador Joel Quenneville foi substituído por Mike Kitchen, seu assistente técnico.

A história de sucesso recente dos Blues, pelo menos em temporada regular, se mistura com a presença de Quenneville no comando do time. Entre 1996-97 e 2003-04 foram 593 jogos e 307 vitórias, sete playoffs disputados e aproveitamento de 59,8% dos pontos. Nos playoffs, três eliminações na primeira rodada, outras três na segunda e uma derrota nas finais de conferência de 2001. Soma-se ao retrospecto o Troféu dos Presidentes em 1999-00, no melhor ano da carreira do ex-capitão Chris Pronger.

Kitchen compartilhou deste sucesso desde 1998-99, até ser nomeado treinador e seguir basicamente com as diretrizes implantadas por seu antecessor. Foi a política adotada pela gerência, que preferiu manter um homem da casa a buscar no mercado alguém “diferente”. Fica a pergunta: quem é Kitchen?

Não é o profissional ideal para o atual momento dos Blues, assim como também não havia pior hora para perder uma das melhores duplas defensivas dos últimos anos: Pronger e Al MacInnis.

A negociação de Pronger apenas aconteceu por extrema necessidade. Com o novo acordo coletivo de trabalho e a implantação de um teto salarial na casa dos US$ 39 milhões, os Blues se viram perdidos em meio aos salários astronômicos de Tkachuk e Doug Weight. Optaram por negociar quem tinha maior valor no mercado, ou seja, o defensor.

MacInnis fez parte do “começo do fim” da equipe. Quando se contundiu gravemente ao ser atingido no rosto por um disco, todos sabiam que ele não voltaria ao hóquei. E assim o fez, deixando muitas saudades em St. Louis.

Não eram apenas dois dos melhores defensores que atuavam na liga, eram também os líderes do time. E se o capitão é geralmente o centro das atenções de uma equipe, o que se pode dizer de Dallas Drake, atual “C” dos Blues?

Scotty Bowman, deus do hóquei, há mais de dez anos definiu Drake com perfeição. Suas palavras: “ele foi a pessoa mais estúpida que eu já tentei treinar”. Foi a conseqüência da coletânea de bobagens disparada por Drake em entrevistas após ser negociado dos Red Wings para o Hartford Whalers.

A estupidez do jogador pode ser ilustrada por um lance digno de comédia “pastelão” ocorrido no jogo em que os Blues perderam para os Red Wings na quinta-feira, em St. Louis. No começo do terceiro período, em jogada próxima às bordas, Drake disparou em velocidade para desferir um tranco em Johan Franzen – mas errou o alvo. Bateu de frente com a borda e caiu, sozinho.

Ainda neste jogo, durante a transmissão da TV aparecia o anúncio de venda de ingressos por míseros 8 dólares, refletindo a dramática situação vivida pela equipe que há algum tempo está à venda e somente agora encontrou um potencial comprador.

Os Blues têm sérios problemas em todos os setores do gelo. No gol, nem Patrick Lalime, o titular, nem Reinhard Divis são capacitados o suficiente para roubar jogos em um time que sofre toneladas de chutes de todos os lados do gelo, noite após noite. E os números estão assustadores: Lalime tem média de 5,99 gols sofridos por jogo, com 83,3% de defesas.

Barret Jackman, defensor eleito o calouro do ano em 2002-03, enfrenta uma série de contusões que parece não ter fim. É o grande desfalque do time.

O drama no ataque é real. Mesmo com um ano de hiato entre as temporadas, os Blues não desenvolveram talentos ofensivos. A impressão em St. Louis é a de que não há um Pavel Datsyuk ou Henrik Zetterberg sendo projetado. O melhor de que se há notícias é o central Jay McClement, do qual se espera um central de terceira linha, nada mais do que isso. E no mercado de agentes-livres mais recheado dos últimos tempos, o gerente-geral Larry Pleau não conseguiu ir além de Dean McAmmond e Scott Young, dois veteranos cujos melhores dias estão no passado.

Enquanto a situação da equipe não é definida, pela conclusão da venda da franquia, mal os Blues conseguem se virar com o que têm. Após três jogos disputados só havia um jogador com plus/minus positivo no elenco e o maior goleador era o cabeça-de-bagre Jamal Mayers, com dois gols. O elenco é horrível e não tem perspectiva de melhora.

Na realidade, os Blues não têm o suficiente para concorrer com outros times da conferência. Jogadores normalmente de terceira e quarta linhas são hoje os principais atacantes da equipe, como Petr Cajanek, Mike Sillinger, Young e McAmmond. E abaixo do sexteto principal é um caos: dois calouros, outro inexperiente, além de Mayers e Ryan Johnson, que são café-com-leite.

Há história para contar em todos os três jogos da equipe na temporada. No primeiro foram atropelados pelos Red Wings, goleados por 5-1 sem ameaçar os rivais. Na noite seguinte contra o mesmo adversário até produziram melhor, durante um período, esboçando uma reação após estar três gols atrás no placar, porém foram derrotados por 4-3. Por fim, jogando em casa frente o San Jose Sharks, perderam por 7-6 graças à péssima atuação do goleiro adversário, porque teria sido bem pior não fosse a noite ruim de Evgeni Nabokov.

Em resumo, falta aos Blues um treinador decente, um goleiro titular, o retorno de Jackman para tentar consertar a defesa e um par de atacantes menos cretinos que Young e McAmmond, porque com essa dupla ao lado de Tkachuk longe das condições ideais, a equipe estará em maus lençóis.

Definitivamente a seqüência de 25 anos de classificação aos playoffs, ostentada pelos Blues como a maior seqüência de todos as quatro grandes ligas profissionais norte-americanas, está ameaçada de extinção.

E para dar mais crédito ao meu artigo, enquanto esse era finalizado os Blues conquistaram a primeira vitória na temporada, derrotando o Chicago Blackhawks por 4-1, com três dos quatro gols marcados por jogadores aqui criticados: McAmmond, Young e Drake. Lalime fez 32 defesas e por pouco não conseguiu um shutout. Ainda bem que eu não vivo como colunista. No mais, acredito realmente que os verdadeiros Blues não são os que venceram os Hawks, mas os que perderam tudo até então.


Humberto Fernandes é fã de Eduardo Costa, colunista desta revista de hóquei. E também de Alexandre Giesbrecht, ou você viu algum guia de temporada mais bonito que o da Slot?
DISCO x LALIME A relação entre Patrick Lalime e o disco de hóquei parece um tanto perturbada, principalmente neste começo de temporada. (Tom Gannam/AP - 11/10/2005)
MAIS LALIME O goleiro perde o capacete após defender um chute durante o jogo. Lalime espera mesmo é não perder sua cabeça como principal goleiro dos Blues. (Tom Gannam/AP - 11/10/2005)
É GOL! Jeff Hogan (quem?) comemora seu gol contra o San Jose Sharks no Savvis Center, em St. Louis. Ao fundo muitos assentos vazios em meio aos torcedores presentes. (Kyle Ericson/AP - 08/10/2005)
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Página publicada em 13 de outubro de 2005.