Sábado à noite é o período da semana destinado à balada, a fazer
uma média com a namorada ou coisa parecida. Certo? Errado! Sábado
à noite é reservado exclusivamente ao hóquei da NHL. Seja no Canadá,
seja aí na sua casa ou aqui, na fria e hostil redação da sua revista
semanal eletrônica de hóquei. É dia de enfrentar o buffer da web
radio, de checar combinações das linhas, de conferir o placar
de cada jogo, de descobrir quem diabos é Brent Seabrook e de ver
se aquele jogador que está no teu fantasy está produzindo (e
é melhor que esteja, ou banco para ele!).
E é dia também de nos lembramos do compromisso que temos com você,
valioso leitor, e trabalhar para mais uma edição. Juramos cobertura
religiosa dos oito combates entre Maple Leafs e Canadiens na temporada.
E aqui está o primeiro.
Clássico é clássico em qualquer esporte. E vice-versa, como já dizia Jardel. Por isso, não existe favorito
nesse confronto entre os dois maiores expoentes das províncias
de Ontário e Québec na NHL. Mesmo que os Leafs venham de derrota
e não possam contar com Mats Sundin, capitão e referencial
ofensivo da equipe. Tampouco garante a vitória para os Canadiens
o fato de ter uma boa campanha inicial de duas vitórias fora de casa. A
única coisa previsível é que o Air Canada Centre estaria abarrotado
e barulhento.
Os Habs enfrentariam sua terceira partida em quatro noites, e
em três diferentes cidades. Menos mal que a equipe possui uma
boa quantidade de jovens valores com energia de sobra. Já os Leafs,
tidos como uma equipe madura até demais, dependem muito de uma
dupla de centrais tão talentosa quanto propícia a contusões: Eric
Lindros e Jason Allison. Eles pouco apareceram no primeiro período.
Aliás, pouca coisa aconteceu no período inicial, e emoções só vieram
a partir da segunda etapa.
Alexander Perezhogin, a flecha das estepes, não apenas ganhou
uma vaga na equipe, mas também — com a contusão de Richard Zednik
— faz parte agora da primeira linha dos Canadiens com Saku Koivu e
Alexei Kovalev. Quem teve oportunidade de ver alguma partida ou
compacto dessa nova NHL pode ter reparado como o jogo está incrivelmente
rápido, e Alexander é velocidade pura. Porém ele não precisou
dessa característica para marcar o primeiro gol do jogo. Foi necessário
apenas estar no lugar certo durante uma vantagem numérica, aproveitando
uma sobra à frente da meta de Ed Belfour.
Durou pouco a amargura da maioria dos presentes no Air Canada
Centre, pois o Toronto Maple Leafs precisou de apenas dois minutos
para virar o jogo. Primeiro, devido unicamente a Alexander Steen,
um dos poucos jovens valores do time, que aproveitou um erro infantil
do ótimo Michael Ryder para contabilizar seu primeiro gol na NHL.
Depois viria o segundo dos Leafs, através do improvável chute
do meio da rua de Tahir Domi! E, para deixar esse momento mais
sublime para o bizarro ídolo local, foi seu gol de número 100 em
945 jogos na NHL! O subúrbio de Toronto festeja mais esse grande
feito do albanês assassino.
Se o Toronto pode virar, o Montreal não fica atrás. Em dois minutos,
mais uma virada na partida. A terceira linha do tricolor empatou
com Niklas Sundstrom, após perfeita assistência de Radek Bonk.
Segundos depois, o defensor Sheldon Souray marcava novamente, dessa
vez em vantagem numérica, e de muito longe. Um
dos assistentes foi o defensor Mark Streit, um suíço — como nosso
editor-chefe — que também está agarrando com unhas e dentes a
oportunidade lhe dada pelo treinador Claude Julien.
O terceiro período, assim como o anterior, teve duas reviravoltas
no placar. Matthew Stajan, em vantagem numérica, e Nik Antropov
tiravam momentaneamente a invencibilidade dos rivais de Montreal.
E em ambos os gols com participação de Eric Lindros. Vale frisar
que, assim como Belfour, José Théodore não estava em seus melhores
dias e assumiu isso após a partida.
Ah, mas existe justiça no planeta Terra! Lembra-se da minha coluna
quilométrica sobre os Habs na edição passada? Afirmei que Saku
Koivu era um herói aqui na redação, mas não foi autorizada a colocação
de um pôster do capitão finlandês na sala de xerox porque isso
acarretaria a retirada do pôster do defensor dos Penguins Dick
Tarnström. Pois bem, quase que no mesmo momento em que Dick cometia
uma falta no fim do tempo regulamentar que acabou decretando a derrota do Pittsburgh na prorrogação para os Bruins, Saku Koivu
foi determinante em sua partida de número 500 na NHL: levou o disco
para trás do gol de Belfour e literalmente deixou Aki Berg de
joelhos até dar o chute que originou o rebote do goleiro, bem
aproveitado por Steve Begin, que empatou e abalou os Leafs com
o fantasma de mais uma virada.
E ela aconteceu. Se o título desta coluna faz referência a um
filme, a atuação de uma das duplas defensivas dos Leafs também
poderia seguir essa "tendência" e seria: "Aki Berg e Wade Belak
em 'Debi e Lóide'!" Eles não são bons, mas a culpa maior é de "Fat"
Quinn por colocá-los atuando juntos. Em quase todos os gols sofridos
pela equipe, os dois estavam no gelo, incluindo aí os gols de
empate e da vitória da equipe de Montreal.
No último gol, Aki Berg perdeu o taco quando a perigosa linha
de Mike Ribeiro, Ryder e Chris Higgins estava no gelo e, quando
recuperou seu instrumento de trabalho, a defesa já estava perdida
no lance. Andrei Markov mandou um passe que cruzou o gelo e encontrou
um solitário Ribeiro que, após perder algumas oportunidades na
partida, se redimiu e fez o que seria o fácil gol da vitória.
Vitória no superclássico. Vitória mais uma vez obtida nos minutos
finais da partida. Vitória que dá 100% de aproveitamento nos três
primeiros jogos, o que não acontecia desde a temporada de 1978-79,
quando foram campeões. Poderiam os Canadiens repetir esse feito?
Muito difícil, mas para essa talentosa versão de 2005-06 do tricolor
sonhar é permitido.
Obrigado pela atenção e até a próxima.
Eduardo Costa é um
leitor inveterado e indica a leitura do Almanaque do Cascão após
a janta.
1º PERÍODO
Tudo que se viu no 1º período: Muita
luta pelos bordas, como nessa envolvendo Saku Koivu e Perezhogin
contra Antropov e Eric Lindros (Aaron Harris/CP - 08/10/05)
3º PERÍODO
Já o terceiro período foi de gols e
quem sofreu mais foi Belfour(Aaron Harris/CP - 08/10/05)