Se há uma coisa que me deixou realmente triste quando a NHL voltou foi a saída do camisa número 25 do Detroit Red Wings. Eu comecei a acompanhar a NHL na temporada de 1996-97 e — para mim — ninguém, mas ninguém mesmo, personifica a palavra herói melhor do que ele, Darren McCarty.

Era como se eu não quisesse acreditar que os Wings estavam rescindindo o contrato dele. Eu lia e a ficha não caía: não podia ser, haveria alguma coisa que o manteria em Detroit. Mas tudo seguiu seu rumo, não houve milagres, e McCarty foi embora.

Não queria aqui discorrer novamente sobre tudo o que ele fez naquele ano de 1997, que foi maravilhoso para qualquer torcedor dos Wings. Não queria, mas não tenho como. Afinal, foi ele que gerou o que se tornou o ponto de ruptura, o ponto de virada dos Red Wings naquele ano, e provavelmente na sua história.

Sei não, é pura conjectura falar assim, mas acho que, se ele não tivesse esmurrado o Homem-Tartaruga e marcado o gol da vitória naquele inesquecível, inigualável, eterno, insuperável e inominável jogo de 26 de março de 1997 contra o Colorado Avalanche, talvez os Wings não tivessem sido campeões naquele ano. E em nenhum outro.

O próprio técnico Scotty Bowman parece concordar com isso quando diz que aquele parecia mais um jogo em que os Wings se vingavam dos Avs na porrada, mas perdiam no fim. Não perderam.

Logo no começo da prorrogação, Igor Larionov carregou o disco pela zona neutra e passou para Brendan Shanahan, que mandou de primeira para ele, Darren McCarty, marcar o gol da vitória dos Wings sobre os Avs. Foi o auge da rivalidade entre Red Wings e Avalanche.

Sinto arrepios até hoje quando me lembro disso. A jogada, o jogo, a comemoração. Madrugadas com ESPN. Sinto arrepios neste exato momento em que escrevo essas linhas.

McCarty jogando do outro lado

E logo na primeira semana de NHL tivemos o encontro de McCarty com os Wings. Contra os Wings, melhor dizendo. Contra seus antigos parceiros de linha, Kris Draper e Kirk Maltby, a mais sólida e duradoura linha da equipe, formada em 1997.

A torcida o recebeu conforme esperado. Com cartazes de apoio e aplausos, vários torcedores demonstraram o quão querido ele é em Detroit. Os Flames perderam para o mortal time de vantagem numérica dos Wings, que marcou cinco vezes na partida. McCarty atuou por mais de 13 minutos, deu dois chutes a gol e desferiu dois trancos, um deles em Maltby.

"Essa cidade é a minha casa", disse ele. "Essa cidade me fez quem eu sou, como jogador e como pessoa."

McCarty, você também fez muito por Detroit.

Viva a emoção!

Às favas com a razão. Não importa que ele tenha diminuído sua produção ofensiva, não importa que não seja mais uma grande força física no gelo, não importa que estivesse recebendo mais do que a média da liga: eu não quero saber. Também não quero saber disso de "ciclo encerrado". McCarty tinha de ficar no Detroit até o fim, jamais vestir outra camisa. Jamais jogar contra os Red Wings.

É algo absolutamente estranho ver o ídolo jogando contra o próprio time. Torço pelos Red Wings e torço por Darren McCarty. Sentimentos contraditórios certamente brotarão se algum Wing brigar com ele durante o jogo. Rogo aos deuses do hóquei para que isso não ocorra.

Sim, ele não é apenas um dos grandes jogadores dos Wings, ele é um ícone da franquia. Todo e qualquer torcedor do Detroit certamente tem um carinho mais que especial para com ele. O legado de McCarty para qualquer torcedor que, como eu, assistiu (ou ao menos conheceu) a temporada de 1996-97 é absolutamente eterno.

Há ainda uma chance de recompostura por parte da gerência dos Wings. É simples: tragam de volta Darren McCarty. Contratem-no junto aos Flames. Façam-no já, durante a temporada. Ou no dia-limite. Ok, não pode pelas regras do novo acordo, mas, como eu disse antes, às favas com a razão, arrumem uma maneira!

Volte, Darren McCarty, volte para a sua casa, volte para o Detroit.

E, se não voltar, não tem problema. Para mim, você sempre será um Red Wing de coração.


Marcelo Constantino volta a escrever de forma racional na próxima semana. Clique aqui para baixar um sensacional clipe com o jogo de 26 de março de 1997.
MOMENTO HISTÓRICO Claude Lemieux assume a posição tartaruga para ser surrado por Darren McCarty (Arquivo TheSlot.com.br - 26/03/1997)
HAT-TRICK O único hat-trick da carreira de Darren McCarty veio justamente contra o time que mais o odeia, o Colorado Avalanche. E em plenos playoffs, em 2002 (Arquivo TheSlot.com.br - 18/05/2002)
ÍDOLO Mesmo não sendo um grande artilheiro, McCarty sempre teve -- e sempre terá -- enorme carinho por parte dos torcedores do Detroit (Arquivo TheSlot.com.br - 18/05/2002)
JOGANDO CONTRA Logo no terceiro jogo da temporada, os Wings jogaram contra o Calgary Flames de Darren McCarty. Aqui, seu antigo companheiro Kris Draper o afasta da área (Rebecca Cook/Reuters - 09/10/2005)
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Página publicada em 13 de outubro de 2005.