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20 de dezembro de 2002
Zamboni não é apenas um "bom menino"

Por Humberto Fernandes

Um time colegial de hóquei abriu rapidamente a liderança por 3-0, mas, então, seus jogadores pareceram preguiçosos, alguns tossindo e outros atordoados. Acabaram perdendo por 11-5.

No dia seguinte, 18 jogadores e o treinador estavam em um quarto de emergência do hospital, com problemas respiratórios. Os oficiais de saúde do estado e o Centro Federal para Prevenção e Controle de Doenças iniciaram uma investigação.

Os jogadores foram afetados aparentemente por fumaças de monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio vazando no vestiário. Um mau funcionamento do zamboni, a máquina encarregada de renovar a superfície de gelo durante os intervalos, é apontado como o vilão.

O responsável pela Arena de Gelo do Vale Lehigh, Steve Camarano, disse que evacuou a arena e removeu o zamboni após saber dos jogadores doentes. Os responsáveis pelo zamboni encontraram um cilindro defeituoso, responsável pelo escapamento dos gases na máquina.

Esta fumaça que derrubou os jogadores da Universidade Millersville em um jogo amistoso contra o Colégio Lafayette, na Pensilvânia, traz um grande perigo — escondido — para as competições de hóquei e patinação artística por todo o Canadá e Estados Unidos.

Os funcionários de saúde pública dizem que o vazamento pode aparecer em um mau funcionamento da máquina — o que pode ser agravado se as arenas não forem bem ventiladas. Mas até mesmo aqueles patinadores que estão no gelo todos os dias não sabem do perigo que enfrentam.

"Eu não fazia idéia", disse o goleiro do Millersville, Mike Toth, que passou uma noite no Centro Médico Regional de Lancaster após tossir sangue. "Eu não imagino que alguém no time sabia do que poderia acontecer".

Agora, conscientizar os praticantes é extremamente importante, por causa da popularidade ascendente do hóquei e da patinação, disseram os responsáveis. O número de crianças jogando hóquei mais que duplicou durante a última década, indo para mais de 360 mil, de acordo com a porta-voz do programa de hóquei americano (USA Hockey), Heather Ahearn.

Os patinadores se encontram constantemente sem condições de perceber o perigo, porque as fumaças liberadas durante o processo de renovação da superfície de gelo são normalmente inodoras. O treinador do Millersville, Brian Wincer, disse que não sabia o que estava afetando os jogadores durante aquele jogo, em 29 de setembro.

"Nós não sentimos o cheiro ou vimos qualquer coisa; não tivemos nenhuma pista", disse Wincer. "Foi realmente estranho".

Cinco jogadores de Millersville deram entrada no Centro Médico Regional de Lancaster no dia seguinte ao jogo e tiveram de passar a noite por lá. O time cancelou os sete jogos seguintes.

A médica do Departamento de Saúde, Dra. Cynthia Coventon, enviou ao treinador e aos jogadores uma carta, um mês após o incidente, aconselhando novos exames nos meses seguintes. "Algumas graves doenças respiratórias, como cicatrização do tecido pulmonar, podem resultar da exposição ao dióxido de nitrogênio", disse ela.

Wincer e vários jogadores querem mover uma ação legal contra a arena. O advogado Joseph R. Podraza, Jr. disse que os advogados iriam buscar legislação para designar medidas de segurança que preveniriam outros incidentes.

"Eles [os rinques] são constantemente usados. Este é um assunto de segurança pública", disse Podraza.

Procedimentos de limpeza do ar são exigidos apenas em três estados: Massachusetts, Minnesota e Rhode Island, onde os operadores são obrigados a testar a formação de fumaças tóxicas e esvaziar a arena se os níveis estiverem altos.

O porta-voz do Departamento de Saúde do estado, Richard McGarvey, disse que o incidente de 29 de setembro foi a primeira vez em que as autoridades foram notificadas de um problema de vazamento de gases em uma arena de gelo na Pennsylvania. Disse também que o departamento emitiria um relatório sobre o ocorrido e enviaria advertências para arenas e organizações de hóquei no estado.

O advogado Thomas H. Morton, representante da Frank J. Zamboni & Co, o maior e mais conhecido fabricante desse tipo de máquina, declarou que a companhia envia notas de segurança de dois em dois anos a rinques e arenas que usam zambonis, além de manuais operacionais sobre as máquinas, com detalhes da fumaça e advertências de ventilação.

Estima-se que existam 1,7 mil arenas de gelo nos Estados Unidos, sendo que os rinques ocupados usam tais máquinas todos os dias. A maioria é impulsionada por gasolina ou motores de propano, que produzem gases de monóxido de carbono e dióxido de nitrogênio no escapamento.

As autoridades de saúde e das indústrias dizem que, sem um sistema de ventilação adequado nas arenas, um renovador de gelo é comparável a um carro em funcionamento dentro de uma garagem fechada.

Incidentes conhecidos de envenenamento por fumaça em arenas ao redor dos EUA normalmente causam enxaquecas, náuseas, vômitos, tosses e dificuldade de respiração. Em uma arena de Seattle, em março de 1996, mais de 70 pessoas afetadas pelos gases do renovador de gelo foram atendidas nos hospitais. Em dezembro de 1994, o rinque Devonaire, em Livonia, foi fechado por mais de quatro horas em uma tarde, após vários patinadores reclamarem de enxaquecas e outros sintomas, que os funcionários descreveram como causados pelo monóxido de carbono. A arena foi evacuada, enquanto os bombeiros localizavam o monóxido de carbono em um zamboni.

Em anos recentes, a Zamboni e outros fabricantes começaram a produzir renovadores de gelo que funcionam impulsionados por energia elétrica, sem qualquer escapamento. Mas os funcionários das indústrias dizem que estas máquinas são mais caras, e pode ser que leve muito tempo para que sejam amplamente difundidas.

Humberto Fernandes não se importa com envenenamento: moraria na Joe Louis Arena, se fosse possível.
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Página publicada em 18 de dezembro de 2002.