Por Humberto Fernandes

O Boston Bruins tentava evitar sua terceira derrota consecutiva — o que aconteceria pela primeira vez na temporada — ao visitar o Montreal Canadiens no sábado à noite. Mas não deveria ser — e nem foi — apenas um simples jogo de temporada regular.

Os Canadiens ainda não engoliram o covarde tranco de Kyle McLaren sobre Richard Zednik, durante os playoffs da temporada passada. E os Bruins não se esqueceram da precoce eliminação imposta por aquela série. Já seria o suficiente para exaltar os ânimos, mas jogaram ainda mais lenha na fogueira.

Começou pelo calendário, que, em 16 dias, fazia os times se enfrentar três vezes, com uma vitória por 4-2 para cada equipe nos dois primeiros jogos, ambos em Boston. O detalhe que acirrou ainda mais o ódio recíproco ocorreu no segundo confronto.

No fim do segundo período, Andrei Markov caiu no gelo e permaneceu por alguns minutos deitado, após ser atingido pelo taco de Joe Thornton. Nenhuma penalidade foi marcada. Mais tarde, o capitão dos Bruins foi multado, mas não suspenso. Seguiram-se várias acusações. O treinador dos Canadiens, Michel Therrien, declarou que o algoz deveria ser pendurado por seus patins fora do Centre Bell. Thornton ironizou a multa, devido ao bônus recebido pela extensão de contrato, e disse que Markov fingiu o incidente.

Seja bem-vindo à rivalidade entre Bruins e Canadiens, uma das mais duradouras da NHL.

Com atmosfera de playoffs e 21.273 pessoas vaiando Thornton incessantemente, o jogo começou quente. Logo aos 15 segundos, o intimidador Sylvain Blouin cometeu uma penalidade e os Bruins abriram o placar, com Ivan Huml, aos 2:19 — quatro segundos após o fim da vantagem numérica.

Zednik marcou um gol sem assistência em contra-ataque de 3-contra-1 aos 5:47, mostrando paciência e bom controle do disco, antes de vazar John Grahame com um chute no alto.

Não satisfeito, iniciou a jogada do terceiro gol, trocando passes com o capitão Saku Koivu, com este passando a Chad Kilger, que driblou Grahame antes de marcar.

No segundo período, Craig Rivet ampliou para 3-1 aos 4:41, apenas quatro segundos após o fim da primeira das sete penalidades cometidas pelos Bruins no período. A estratégia usada foi a mesma de Zednik, chutando o disco no ângulo de Grahame. Dougie Gilmour assistiu no gol e ficou a um ponto do marco de 1.400 na carreira.

Menos de quatro minutos depois, Yanic Perreault aproveitou uma das três vantagens numéricas de dois homens que os Canadiens tiveram no período e fez 4-1. O jogador aproveitou que o disco bateu em seu corpo ao lado da rede e mandou-o para dentro.

Grahame expressou sua frustração com os problemas de disciplina do time acertando a trave superior com seu taco.

Thornton protagonizou outro momento de ira da torcida adversária, ao tentar acertar um soco em Koivu. O detalhe é que o "vilão" já estava penalizado duplamente, por segurar Koivu com o taco e por derrubá-lo. Rivet rapidamente intercedeu em defesa de seu capitão, revidando a agressão, e também foi penalizado. Thornton não quis falar com a imprensa após o jogo.

Marty McInnis marcou o segundo gol dos Bruins no começo do terceiro período, mas a equipe foi incapaz de se aproximar mais no placar.

José Théodore fez 25 defesas e conquistou sua sexta vitória na temporada. Foi seu primeiro jogo como titular desde 6 de dezembro, dia em que sofreu sete gols do Colorado Avalanche e os Canadiens perderam por 7-6. Koivu e Therrien só tinham elogios para o goleiro após a vitória. Por outro lado, Robbie Ftorek, em seu 400.º jogo como treinador, não teve motivos para elogiar Grahame, que sofreu quatro gols em apenas 25 chutes.

Markov foi eleito estrela da partida, tendo seus companheiros Koivu e Théodore, respectivamente como segundo e terceiro destaques.