Durante alguns anos o Ottawa Senators era o "próximo campeão" da Copa Stanley. Desde ali pelo final dos anos 90 até 2008, o Ottawa era o campeão do futuro. Era questão de tempo somente, o dia chegaria. Era o time que sempre despontava como um dos grandes favoritos, jogava bonito, fazia belas temporadas, estava sempre nos playoffs, mas sempre caía em algum ponto antes das finais. Quando finalmente chegou à final (a única vez, em 2007), foi massacrado pelo Ahaheim Ducks.
Durante todo aquele período, as derrotas nos playoffs eram minimizadas por parte da imprensa (tanto a geral como a local): o Ottawa estava um ano mais experiente e mais próximo da Copa Stanley. Era como se a equipe ainda estivesse na fase ascendente da curva. De fato parecia isso, mas os anos se passaram e o time jamais venceu a Copa. Depois do suposto auge, veio a estrondosa queda e os Sens hoje meramente brigam para chegar aos playoffs.
Olhando para o San Jose Sharks de agora, eu me lembro desse Ottawa Senators. A cada eliminação passada do San Jose, eu acreditava que o time estaria mais próximo da Copa Stanley no ano seguinte. Mas não estava. Nunca esteve, aliás. Nunca sequer chegou à final, nunca sequer levantou o troféu de campeão da Conferência Oeste.
Ainda assim, eu seguia acreditando nesse time. Desde o início da década passada que esse time está sendo projetado para vencer. Nas últimas quatro temporadas tem estado mais forte que nunca. O começo ruim desta temporada, dando vez a uma sensacional virada ao longo dela, parecia reforçar minha expectativa de que este ano era dos Sharks -- ao menos para chegar até a final da Copa Stanley.
Nem mesmo as recentes e seguidas demonstrações de fraqueza frente ao Detroit Red Wings nas semifinais de conferência mudaram minha opinião -- o que, evidentemente demonstra minha equivocada teimosia. Na segunda metade daquela série, quando os Red Wings começaram a vencer, os Sharks passaram a mostrar uma séria deficiência: entregar jogos no terceiro período. Foi praticamente isso que matou o time na série contra o Vancouver Canucks na final da Conferência Oeste. A mesma pane -- entregar os jogos no terceiro período -- ocorreu em três dos cinco jogos.
No jogo derradeiro, quando o San Jose já perdia a série por 1-3 e nem mesmo eu acreditava mais no time, eis que o filme se repete: em algum momento do terceiro período, o San Jose está vencendo o jogo, mas deixa o adversário encostar, empatar ou mesmo virar.
Aconteceu isso com o Detroit em sequência, aconteceu o mesmo contra o Vancouver nos jogos 1, 3 e 5. Mesmo na única vitória dos Sharks sobre o time canadense, o jogo 3, a vantagem no placar que era de 4-1 virou 4-3 no terceiro período. Foi a única vez em que a pane não custou a vitória ao time.
Aliás, lembro-me de assistir ao jogo 3 pela ESPN e de ver a quantidade absurda de gols que o San Jose até então havia sofrido nos terceiros períodos desses playoffs. Era superior à soma dos gols sofridos nos outros períodos. Grotesco.
Enfim, depois de estar na liderança, mas entregar mais um jogo no terceiro período -- dessa vez de forma dramática, deixando os Canucks empatarem nos segundos finais --, o San Jose tomou o gol da eliminação na segunda prorrogação, e graças a um lance dos mais estranhos: ninguém sabia onde estava o disco, apenas Kevin Bieksa, que, da linha azul, afortunadamente o mandou para o fundo da rede.
Não adianta caçar culpados individuais, o fracasso é resultado de um time, comissão técnica inclusa. O que não nos exime de analisar individualmente alguns dos grandes. Joe Thornton foi grande, Dan Boyle mostrou aos ainda incrédulos que é um dos grandes defensores da liga, Patrick Marleau jogou o esperado, outros mais fizeram por onde (mas nem tanto, visto que o time foi eliminado), entretanto o que dizer de Danny Heatley? Três gols e nove pontos para (supostamente) um dos maiores goleadores da NHL? Que vergonha, Heatley!
O San Jose Sharks mais uma vez volta para casa de mãos vazias, sem nem mesmo o troféuzinho da campeão de conferência.
O San Jose pode até queimar minha língua na próxima temporada, ou daqui a algumas, mas no momento o time me parece mais com o Ottawa Senators. Um time projetado para um futuro que nunca chegou.
Marcelo Constantino recomenda expressamente “Flight 666”.