No começo da série, muita gente acreditava que seria o confronto dos times amarelões, visto que ambos apresentavam um histórico recente de fracassos e desempenhos pífios nos playoffs depois de terem apresentado um rendimento muito bom na temporada regular. Tanto Sharks como Canucks chegaram à final do Oeste com a obrigação de vencer para tentar convencer críticos e apagar fantasmas do passado.
Nos playoffs passados, ambos foram eliminados pelo Chicago Blackhawks, sendo que os Canucks caíram em seis partidas na semifinal da conferência e os Sharks foram varridos facilmente pelo Chicago na final do Oeste.
Na atual temporada, Canucks e Sharks foram respectivamente os dois melhores times no Oeste, então nada mais natural do que uma final de conferência entre eles. Um fato curioso era a presença de Antti Niemi, o goleiro que eliminou os dois times no ano passado com o Chicago, agora jogando pelo San Jose Sharks.
Outro troca foi o jogador Kyle Wellwood, que jogava nos Canucks ano passado e depois assinou como agente livre com os Sharks. Claro, não dá para esquecer de Christian Ehrhoff, que jogava nos Sharks há duas temporadas e foi trocado para o Canucks a preço de banana, para em seguida se transformar em um dos principais defensores do time canadense.
As duas primeiras partidas foram em Vancouver, com duas vitórias dos Canucks. Se na primeira partida o jogo foi mais parelho, com um resultado mais apertado, no jogo 2 o equilíbrio se manteve até o segundo período. Depois disso, o que se viu foi um time dos Sharks totalmente desequilibrado, errando passes relativamente simples, com uma defesa mal posicionada e deixando diversas brechas para os jogadores dos Canucks atacarem. Além disso, o destempero emocional de Ben Eager custou caro ao seu time. Com tantas penalidades para matar, os Sharks não conseguiram impedir a goleada dos Canucks.
Na partida três, os Sharks passaram a ser os mandantes e sabiam que não poderiam se dar ao luxo de caírem em uma desvantagem abismal de 0 a 3 contra uma equipe tão forte como os Canucks de Vancouver. A equipe respondeu forte ao desafio e deu um lampejo de esperança a sua torcida. Agora sim parecia que nós teríamos uma série. Afinal de contas, 2 a 1 para os Canucks com o jogo 4 novamente em San Jose, só poderia significar uma coisa para a torcida da California: série empatada!
Engano, caro leitor. Os Canucks voltaram mais fortes do que nunca. A defesa teve uma atuação brilhante e foi capaz de matar cinco vantagens numéricas seguidas a favor dos Sharks. Roberto Luongo fez novamente defesas inacreditáveis e manteve o seu time no páreo, com chances de buscar a vitória na partida e de abrir uma vantagem considerável na série.
O ataque dos Canucks também apareceu, e o time canadense foi implacável com a torcida do time da casa. Resultado, Vancouver venceu o jogo 4 e abriu 3 a 1 na série. Pior ainda para os Sharks foi a contusão sofrida pelo seu capitão e até então um dos principais jogadores da equipe nos playoffs, alguém que o time simplesmente não poderia ficar sem.
Mesmo contundindo no ombro, Joe Thornton, o capitão dos Sharks, foi para o sacrifício no jogo 5. A série voltava para Vancouver, onde uma torcida ensandecida e sedenta por títulos esperava o seu time. Sim, eles também esperavam o time adversário. Para quem teve a chance de ver a entrada dos times no gelo, impossível não se arrepiar com a recepção da torcida. Simplesmente fantástico. E os jogadores sabiam que tinham que mostrar resultados ali, naquele dia.
Os Sharks não queriam entregar a série, e partiram para um jogo extremamente técnico e muito mais obedientes ao esquema de jogo implantado pelo seu técnico. Os Canucks saíram na frente, e empolgaram mais ainda a sua torcida, mas a animação não durou tanto tempo assim, pois mesmo com seu capitão machucado, os Sharks conseguiram empatar e virar a partida para 2 a 1. Os Sharks atacavam muito mais do que os Canucks.
Uma pressão enorme em cima do goleiro estrela Roberto Luongo, dos Canucks. Dessa vez, Luongo foi decisivo. É bem verdade que em um dos gols dos Sharks a decisão de Luongo de abandonar o gol para tentar impedir a jogada adversária parece ter sido precipitada e equivocada, mas Luongo se redimiu na partida. Ele simplesmente fechou a porteira e nada mais entrou naquela partida.
Os Sharks contavam com a melhor atuação de Wellwood na série, talvez até mesmo nos playoffs. Mas eles não conseguiram fazer funcionar o caro Dany Heatley, que fora contratado a preço de ouro para justamente ajudar o time californiano a conquistar a Copa. Heatley bem que se esforçou e tentou de todas as maneiras marcar pelo menos um gol, mas Luongo não deixou. E quando Luongo era batido, as traves o salvavam.
Faltando apenas 14 segundos para o final da partida, com os Sharks caminhando para uma vitória certa, os Canucks fizeram o que parecia impossível. O empate. E tinha que ser com um gol chorado, sofrido e dele, do melhor jogador do time nos playoffs. Tinha que ser de Ryan Kesler.
A Rogers Arena explodiu de alegria e a torcida comemorava o gol de empate, a poucos segundos do final da partida, como se fosse na verdade o gol da vitória.
Com a partida empatada em 2 a 2 depois do tempo regulamentar, o destino era a prorrogação e a adrenalina de jogar no esquema de morte súbita. Um gol apenas e tudo estaria terminado. Pelo menos terminado naquela noite, se fosse os Sharks, ou terminado até a final da Copa, se fosse os Canucks.
Final da primeira prorrogação, e tudo igual. Segunda prorrogação. Até quanto um coração pode aguentar? A tensão e a ansiedade pairavam no ar da Rogers Arena, quase como se fossem entidades físicas e palpáveis.
Um lance bizarro. Edler tenta jogar o disco pelas bordas dentro da zona de ataque dos Canucks. O disco acerta uma das divisórias entre duas placas de acrílico que servem de proteção para que o disco não saia para a torcida. Em seguida ele desaparece da visão de todos os jogadores no gelo, e também dos árbitros. Ninguém sabe onde está o disco, exceto ele. Kevin Bieksa, o jogador que era considerado carta fora do baralho em julho passado, quando os Canucks contrataram Dan Hamuis e Keith Ballard para a defesa. Quis o destino que exatamente no mesmo dia que há 17 anos, também em uma segunda prorrogação, Greg Adams deu a vitória que colocou os Canucks na final da Copa Stanley de 1994, também Kevin Bieksa marcasse em uma segunda prorrogação dando a vitória aos Canucks e mandando a equipe canadense para a final da Copa Stanley.
A comemoração tomou as ruas da cidade de Vancouver. Da Rogers Arena, nem preciso dizer que ela se tornou pequena para a festa da torcida, a mesma torcida que durante a partida gritou claramente a seguinte mensagem para os seus jogadores: “We want a Cup!”
Os Canucks terão a chance de atender ao desejo da sua torcida a partir de 4ª-feira, quando começa a última série dos playoffs de 2011 da NHL. Do outro lado, o Boston Bruins, que retorna a uma final de Copa Stanley depois de quase 20 anos.
O prognóstico? Bem, é difícil dizer alguma coisa, exceto que existe uma certeza: a partir de quarta-feira, a história estará sendo novamente escrita.
Alessander Laurentino há tempos espera uma disputa de Copa Stanley como a deste ano.