Por: Fábio Ivo Monteiro

Com o fraco começo de temporada de Taylor Hall, os palpiteiros saíram de suas tocas e resolveram debater sobre o destino mais apropriado para o atacante do Edmonton Oilers, primeira escolha geral do recrutamento de 2010. Cassie McClellan, do From the Rink, escreveu este artigo falando sobre o dilema envolvendo o que seria melhor para Hall. Ela defende que o canadense deveria voltar para o Windsor Spitfires, da Ontario Hockey League (OHL), embora saiba que isso não deve acontecer. Ela lembra, inclusive, da primeira temporada de Stamkos, que produziu "pouco" e no ano seguinte arrasou.

De fato, Hall tem um rendimento abaixo do esperado nesses primeiros cinco jogos: apenas uma assistência e saldo de -2. É importante destacar que esse desempenho não pode estar associado com fata de tempo no gelo, já que o atacante dos Oilers têm média de 16 minutos no gelo por partida. Mas seria essa a solução ideal para Hall? Aliás, o que considerar pouco para um jovem, geralmente com menos de duas décadas de vida, em uma liga de alto nível como a NHL? A questão é que nunca devemos esperar que um garoto chegue às franquias combalidas como a solução imediata. Provavelmente será a esperada solução, mas demorará algum tempo para isso.

Outra questão importante a ser levantada é relativa à adaptação do estilo de cada jogador ao estilo "NHL" de jogar hóquei. Jogadores que já disputam as ligas juniores norte-americanas sofrem menos com isso, mas não são poucos os casos de jogadores que são fenomenais nas ligas de base europeias e não conseguem encontrar seu melhor jogo do lado de cá do Atlântico. Alguns deles precisam passar por mais de um time para conseguirem se ambientar corretamente. Se essa experiência e constância nos jogos é importante no desenvolvimento do jovem calouro, qual o motivo para privá-lo de jogar na primeira temporada? No caso dos primeiros jogadores recrutados a cada ano, são poucos cujo talento é inferior à tão necessitada experiência no gelo. Colocando na balança, costuma ser vantajoso que o calouro jogue. E a chance de colher bons frutos no futuro é grande.

Para tentar descobrir se o começo de Hall é realmente alarmante, vamos realizar um exercício lúdico de comparação dos números do primeiro ano na liga dos jogadores que foram os primeiros escolhidos nos recrutamentos entre 2000 e 2009.

2000 - Rick DiPietro - EUA - NY Islanders
Analisar desempenho de goleiros e de atacantes já é um esforço tremendo. No caso de DiPietro, a missão se torna ainda mais infame. Na temporada 2000, os Islanders, que haviam acabado de escolher o goleiro estadunidense, só não foram mais medíocres que o Atlanta Thrashers. DiPietro jogou 20 partidas naquele ano, venceu três e perdeu 15. Alivie um pouco os números pelo fato da posição ser dependente dos homens de defesa e o leitor concluirá que DiPietro teve, no mínimo, uma campanha capenga. Mas dava para esperar mais que isso?

2001 - Ilya Kovalchuk - Rússia - Atlanta Trashers
Dono de um dos salários mais volumosos da NHL atual, Kovalchuk teve, em sua primeira temporada, 29 gols e 51 pontos, com saldo -13. Com esse desempenho, foi o segundo em pontos dos Thrashers. O russo precisou de duas temporadas para estabelecer sua média de mais ou menos 80 pontos por temporada. Os Thrashers precisavam de mais para sair da lama, mas não podemos dizer que Kovalchuk não tentou naquele primeiro ano.

2002 - Rick Nash - Canadá - Columbus Blue Jackets
Defendendo o Columbus Blue Jackets, Nash disputou 74 partidas na sua temporada de estreia, marcou 17 gols e 39 pontos. Na temporada seguinte, já estava lá marcando seus mais de 30 gols por temporada. O agora capitão do time precisou daquela primeira temporada, como todos os outros calouros precisavam.

2003 - Marc-André Fleury - Canadá - Pittsburgh Penguins
O arqueiro canadense dos Penguins teve apenas 21 chances de mostrar serviço no seu ano de estreia. Perdeu 14 partidas. Apesar de não ser um goleiro brilhante, com alguns momentos de altos e baixos, ele tem melhorado ano após ano e já é dono de um anel de campeão, conquistado em 2009.

2004 - Alexander Ovechkin - Rússia - Washington Capitals
Recrutado em 2004, Ovechkin teve que esperar mais de um ano para poder atuar, graças ao locaute da liga. No primeiro ano, já marcou 52 gols e 106 pontos. É um jogador no qual o talento não precisou desabrochar para jogar. Ainda não conseguiu levar o time ao cálice da Copa Stanley.

2005 - Sidney Crosby - Canadá - Pittsburgh Penguins
Sidney Crosby é outro jogador que dispensou a experiência. Já na primeira temporada — a mesma que Ovechkin, uma pimenta a mais na rivalidade dos dois — marcou três dígitos em pontos. Se passou pela mente de alguém segurar o atual capitão dos Penguins na Quebec Major Junior Hockey League (QMJHL), essa pessoa é tão coerente quanto esse cara.

2006 - Erik Johnson - EUA - St. Louis Blues
Erik Johnson chegou aos Blues em 2006 para tentar renovar o sistema defensivo da equipe. Sempre teve atuações boas e sua avaliação fica prejudicada na comparação por ter ficado uma temporada inteira (2008-09) longe do gelo, após um acidente com um carrinho de golfe.

2007 - Patrick Kane - Canadá - Chicago Blackhawks
Em sua terceira temporada, Kane já ganhou um anel de campeão da Copa Stanley. Após ter marcado nada menos que 145 pontos pelo London Knights, na OHL, Kane chegou aos Blackhawks e sempre se sentiu bem lá. Vem evoluíndo a cada temporada, desde 2008, quando marcou 72 pontos.

2008 - Steven Stamkos - Canadá - Tampa Bay Lightning
Stamkos, já considerado no artigo de Cassie, é o exemplo ideal para ilustrar a questão de que não devemos avaliar o potencial de um jogador baseando apenas seu primeiro ano. Na temporada de 2008-09, Stamkos teve atuações boas, mas insuficientes para levar o Lightning às glórias dos meados de 2000. Foram 46 pontos em 79 jogos. Já na temporada passada, Stamkos anotou 51 gols e 95 pontos. Nos sete primeiros jogos da nova temporada, o jovem canadense já anotou oito gols e 14 pontos. Vai passar dos cem pontos se continuar assim.

2009 - John Tavares - Canadá - New York Islanders
Uma temporada, como já vimos nos exemplos anteriores, não dá base para nenhuma grande avaliação. Tavares tem muito talento. Só ficou atrás de Matt Duchene em pontos entre os calouros. O caminho natural é que Tavares ultrapasse os 24 gols e 54 pontos da última temporada, e decole nos próximos meses como mais uma das forças dos Islanders.

Fábio Ivo Monteiro, todos os dias, acorda, escreve e dorme, nessa ordem.

Dale MacMillan/Getty Images
Taylor Hall não faz um bom começo de temporada, mas deve seguir em Edmonton.
(23/09/2010)

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O talentoso John Tavares foi o número um do recrutamento de 2009 e hoje lidera o New York Islanders.
(02/10/2010)

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Steven Stamkos foi esculhambado na primeira temporada e deu a volta por cima na segunda.
(13/10/2010)

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Página publicada em 24 de outubro de 2010.