Por: Marco Aurelio Lopes

Você já deve estar acostumado: início de temporada, palpiteiros de plantão, dublês de vidente e outras figuras do tipo se apressam em divulgar seus “chutes” para a nova campanha. Campeões, artilheiros, surpresas, fracassos, etc. Tudo é motivo para arriscar um exercício de adivinhação. Mas como meu lado profeta está de férias, este ano resolvi apenas listar algumas das historinhas que prometem ser das mais interessantes da campanha 2010-11 da NHL. Algumas que surgiram nesta intertemporada, outras já vêm desde a última temporada. O fato é que por uma razão ou por outra, os personagens abaixo têm tudo para fazer as manchetes, pelo menos neste início de campeonato. E se algum de nós se lembrar, que tal voltar aqui em meados de junho para ver o que houve com cada uma delas?

O homem de 100 milhões de dólares – Todo jogador que assina um contrato milionário vira destaque. Ainda mais quando se trata de Ilya Kovalchuk, o jogador mais cobiçado do mercado de agentes livres, que renovou com o New Jersey Devils, que o adquirira no dia-limite de trocas da última campanha. Se não foi suficiente para levar os Devils a mais uma taça, ao menos mostrou à direção do time que valia o investimento. E com o contrato astronômico de 17 anos (que foi alvo de sanções da NHL por supostas “trapaças” em sua confecção), posteriormente reduzido para 15, os holofotes – e a pressão – apontam ainda mais para o russo, que precisará justificar a cada dia todo o esforço dos Devils em contrata-lo. Com Brodeur no gol, Parise se firmando na elite da liga, e com a tradição defensiva que possui, Kovalchuk parece ser a peça que falta para mais uma Copa. E com toda a montanha de dinheiro investida, é bom que seja mesmo.

Quem tem razão? – Deve ter sido difícil para o gerente do Dallas Stars, Joe Nieuwendyk, ser forçado a não renovar o contrato do ícone da franquia Mike Modano, seu companheiro de time na conquista de 1999, porém um quarentão em uma liga cada vez mais adolescente. Mas no melhor estilo “negócios são negócios”, e buscando uma renovação, a maior e talvez única estrela da equipe acabou sendo dispensada. Mas no melhor estilo “sua perda é meu ganho”, o Detroit Red Wings, famoso por investir barato em jogadores veteranos, e conseguir ótimos dividendos destes negócios, não pensou duas vezes e contratou o jogador nascido em Michigan (estado dos Wings) para ocupar um papel que não é de protagonista como nos áureos tempos, mas que sem dúvida deverá encaixar no estilo de jogo dos vermelhos. Craque, Modano é. Se a aposta vingar, os Red Wings mostrarão aos Stars que não se rejeita um ídolo sem pagar caro por isso.

Eu já te vi por aqui... – Se a segunda vez é melhor que a primeira, então o Calgary Flames tem uma boa, e talvez única justificativa para trazer de volta Olli Jokinen e Ales Kotalik depois de ambos fracassarem rotundamente na primeira passagem pelo time de Alberta. Jokinen, contratado junto aos Coyotes para ser a peça que faltava aos Flames na busca pela Copa Stanley, foi uma mera sombra do promissor jogador dos Islanders e Panthers, mas que nunca deslanchou. Acabou então sendo trocado (leia-se “chutado da cidade”) justamente por Kotalik, que depois dos tempos de Buffalo não repetiu em Edmonton e em New York a mesma produção, e acabou sendo colocado na lista de dispensa dos Flames. Como ninguém se interessou, acabou voltando à equipe, assim como Jokinen, crucificado por perder o pênalti que levaria os Rangers aos playoffs, e que parecia ter como destino a liga russa. Mas como Calgary também precisa de um recomeço depois de uma temporada de horror, a ilusão é que ambos possam se redescobrir, e reerguer o time.

O preço certo – De esperança de uma torcida ávida por conquistas, a titular contestado, a reserva de luxo, a dispensável, e novamente titular absoluto. A vida do jovem Carey Price em Montreal já passou por muita coisa, e agora ele terá o que deve ser sua última oportunidade de mostrar que pode ser o número 1 inconteste no gol dos Canadiens. Como se não bastasse toda a pressão de jogar pelo time mais tradicional da NHL, e ser o goleiro que sua torcida espera desde a saída de Patrick Roy, Price sucumbiu na última temporada ao brilhantismo de Jaroslav Halak, que levou o time a uma improvável final de conferência. Mas como não era canadense, acabou sendo negociado com o St. Louis Blues, abrindo o caminho para Price recuperar mais que a posição, a confiança perdida, e fazer com que a torcida esqueça de vez o eslovaco. O tempo é curto, já que em Montreal a palavra paciência não parece ser pronunciada jamais. Se Price quiser manter seu posto de vez, terá que agir logo, senão...

Será que agora vai ? – Não é de hoje que o Vancouver Canucks é considerado um dos favoritos ao título. Depois da temporada estelar dos irmãos Sedin, em especial Henrik, agora detentor do Troféu Hart de melhor jogador da temporada, a esperança aumentou na Columbia Britânica. Some-se a isto a adição de Dan Hamhuis e Keith Ballard na defesa, o bom corpo coadjuvante com Burrows, Samulesson, Kesler, entre outros, e o sempre espetacular Roberto Luongo (agora sem a pressão extra de ser o capitão da equipe) no gol, e você pode realmente considerar que esta é uma das grandes oportunidades para Vancouver retornar às finais depois de 17 anos, e – objetivo maior – faturar a Copa pela primeira vez. Depois de sucessivas frustrações, o time de Alain Vigneault pode realmente crer que chegou a vez dos Canucks.

Tudo ou Nada – O maior artilheiro da liga na atualidade, uma dos melhores linhas ofensivas, uma unidade de vantagem numérica letal, um defensor tido como dos melhores da NHL, uma sólida equipe de base que repõe muito bem o elenco principal. Receita de sucesso para garantir títulos. No entanto, em Washington a coisa não parece dar certo. Ovechkin, Backstrom, Green e companhia não consegue traduzir na pós temporada o poderio da temporada regular. Pior ainda, este grupo não conseguiu chegar sequer à final de conferência (e sem falar na zebra histórica da última temporada, quando mesmo sendo o n[úmero 1 do leste, perdeu para os Canadiens em um jogo 7 na capital americana). O fato é que com o enfraquecimento de equipes como Pittsburgh, o caminho para os Capitals parece ser um pouco menos sinuoso que em campanhas passadas. Ovechkin quer a Copa, direção e a torcida também. Cabe a Bruce Boudreau saber levar seus comandados a vôos mais altos, porque dificilmente sobreviverá a mais um fracasso. E fracasso em Washington esse ano significa não vencer a Copa Stanley.

O novo trio de ouro dos Oilers? – Depois da pífia campanha de 2010, quando ficou com a lanterninha, e o direito de selecionar o melhor prospecto da classe, os Edmonton OIlers apostaram em Taylor Hall (selecionado à frente de Tyler Seguin, outro prospecto igualmente cobiçado) para fundar a base da reconstrução de uma equipe que reformulou o hóquei nos anos 80. Para ajudá-lo, Jordan Eberle e Magnus Paajarvi se juntam à equipe para formar um trio extremamente promissor, e que invariavelmente leva a comparações com outro trio de jovens que deu 4 títulos da Copa Stanley em 5 temporadas: Wayne Gretzky, Mark Messier, e Jari Kurri, todos lendas do esporte e imortalizados no Salão da Fama. A comparação parece ainda muito prematura, e até desleal com os calouros, que primeiro precisarão mostrar seu valor na NHL. Se Hall não terá um time pronto como Seguin, terá pelo menos a seu lado uma dupla capaz de dar esperança a uma torcida que sabe bem o que acontece quando jovens talentosos se unem...

Agora não tem desculpa – Ano a ano o San Jose Sharks é apontado como virtual finalista, e sempre acaba perdendo a mão na pós-temporada, decepcionando a torcida e adiando em mais uma temporada o sonho de ver os tubarões campeões. Invariavelmente, a caça às bruxas acontecia logo após o vexame, e em muitas das vezes a culpa caía sobre Evgeni Nabokov, o goleiro de defesas espetaculares e falhas clamorosas. Pois bem, agora que Nabokov foi para a Rússia, os Sharks investiram em dois finlandeses para ser a solução do gol. Primeiro, Nyytimaki veio de Tampa Bay para ser o titular. Mas com a chegada de Niemi, do campeão Blackhawks, mas que também não era unanimidade em Chicago (e com menos de uma temporada completa no currículo), este deve ser o dono da posição. O certo é que o tandem com nome de dupla caipira – Antti (Niemi) e Antero (Nityymaki) – precisará mostrar muito serviço, e preferencialmente uma Copa no final da temporada, para não serem os próximos bodes-expiatórios em San Jose.

Um é bom, dois é melhor – Dizem que para conquistar a Copa Stanley você precisa de estrelas, jogadores “utilitários” e a tal “química”. Pois bem, com tudo isso o Chicago Blackhawks acabou com a seca de 49 anos e mostrou o que parecia ser um projeto de dinastia a se formar. Parecia, por que o teto salarial forçou a equipe a se desfazer dos seus jogadores “de elenco”. Nomes importantes na campanha como Byfuglien, Ladd, Sopel, Niemi, Madden e outros foram embora, e outros nomes menos cotados (e mais baratos) chegaram. Mas ao menos as estrelas seguem em Chicago, e mais que nunca Toews, Kane, Hossa, Keith, Seabrook e companhia precisarão elevar ainda mais seu jogo para manter a Copa em Chicago (e ser o primeiro time a repetir o título desde 1998). Talento, esse grupo tem de sobra. Experiência, também (e ainda mais agora com a chegada do rodado, mas questionado Marty Turco para ser o titular do gol). Cabe agora ao elenco de Joel Queneville suportar a pressão de ser o campeão (e querer ser batido por todos). Feito isso, e o sonho de se tornar uma dinastia ficará mais real.

O melhor dos clássicos – Em sua quarta edição, o Winter Classic coloca mais uma vez em exibição Sidney Crosby e o Pittsburgh Penguins. Há quem defenda uma teoria de favorecimento, mas o fato é que desta vez a NHL abusou do apelo de marketing que o clássico trouxe, e colocou no duelo Alex Ovechkin e o Washington Capitals. Os dois maiores astros da atualidade cara a cara no evento que inicia o calendário de 2011. Coadjuvantes de luxo como Malkin, Backstrom, Fleury, Semin. Frases polêmicas, disputas ferozes. Uma rivalidade que inclusive vai virar série de TV, e onde a NHL pretende aproveitar ao máximo tal exposição. Esportivamente falando, o Winter Classic de 2011 tem tudo para ser o melhor dos 4 já disputados, pois após jogos de rivalidades históricas (como Wings e Blackhawks ou Flyers e Bruins), teremos desta vez uma rivalidade atual, na verdade, a maior rivalidade da liga desde os tempos de Red Wings e Avalanche. E com mais que os dois pontos em disputa, Penguins e Capitals devem fazer um jogo histórico no Heinz Field de Pittsburgh.

Cinderela ou Abóbora? – Depois de tantos problemas dentro e fora do gelo na pré-temporada, mesmo com Wayne Gretzky à frente do time, e lidando diariamente com notícias sobre falências, relocações, etc. Mas bastou o início da nova campanha para o Phoenix Coyotes, agora comandados por Dave Tippett (que já vinha de um bom trabalho em Dallas), uma série de jogadores “desprestigiados” e geridos pela prórpria NHL, se transformar em uma das melhores histórias de 2010. Tippett foi considerado o melhor treinador do ano, e os Coyotes chegaram a um surpreendente quarto lugar no Oeste, e mesmo tendo sido eliminados por Detroit no sétimo jogo da primeira rodada dos playoffs, os Coyotes deram à sua torcida um pouco de alegria depois de ano de frustrações. Agora, com um futuro ainda incerto, mas um pouco mais propenso a um final feliz, e com um elenco basicamente idêntico ao de 2010 (perdendo apenas Zbynek Michalek e Matthew Lombardi, mas com a adição do veterano Ray Whitney), a pergunta é saber se os Coyotes de 2010 eram apenas uma sensação passageira, ou o início de uma nova fase em Phoenix. Mais que nunca, é a hora de aproveitar o embalo para mostrar a viabilidade do hóquei no Arizona, e formar uma base competitiva para brigar de igual para igual com as demais forças.

Nova era em Tampa – Campeão em 2004, o Tampa Bay Lightning nunca mais conseguiu repetir o êxito daquele ano, culminando com a lanterninha de 2008, que levou à escolha de Steven Stamkos para iniciar um processo de reformulação da equipe. Depois de uma campanha apenas regular, Stamkos desabrochou em 2010, marcando 51 gols e levando o troféu Rocket Richard de maior artilheiro da temporada (ao lado de Sidney Crosby). Com a adição de Victor Hedman na defesa, faltava apenas alguém para liderar essa reconstrução dos Bolts. E a nova direção da equipe acertou em cheio ao escolher Steve Yzerman, lenda em Detroit, e mentor do time canadense campeão olímpico em Vancouver. Yzerman trará sobretudo credibilidade e respeito a uma franquia que é mais caracterizada pelos fracassos no gelo e na sua administração. No banco, Guy Boucher, conceituado treinador na AHL, terá sua primeira chance na NHL, e com um elenco mais equilibrado, que conta com estrelas como Martin St. Louis e Vinny Lecavalier (que espera-se, ponha fim de vez aos rumores de uma ida para os Canadiens), e bons coadjuvantes como Ryan Malone, Steve Downie e Mike Smith. A esperança é que com o novo comando e a confirmação de Stamkos como artihleiro, o Lightning se pareça cada vez mais com o campeão de 2004, e menos como um motivo de piadas da liga.

Marco Aurelio Lopes é colunista de TheSlot.com.br.

AP
Se quiser repetir esta cena na próxima temporada, os campeões Blackhawks precisarão suprir a ausência de vários jogadores. Ao menos a base está mantida.
(09/10/2010)

Bruce Bennett/Getty Images
Com um contrato milionário, Ilya Kovalchuk é sem dúvida o jogador mais visado neste ano.
(08/10/2010)

Kevin Cox/Getty Images
Alex Ovechkin tem apenas uma missão: levar a Copa Stanley para Washington.
(08/10/2010)

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Página publicada em 10 de outubro de 2010.